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Refúgio de perseguidos políticos

Mona Naggar / sm14 de agosto de 2002

Desde 1986, Hamburgo oferece abrigo para vítimas de perseguição política de todo o mundo.

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Sihem Bensedrine, ativista de direitos humanos e jorrnalista da TunísiaFoto: Reporter ohne Grenzen

A idéia é simples. Hamburgo se propõe a oferecer paz e sossego a pessoas que são alvo de perseguição política em seus países. Num lugar seguro e protegido, elas geralmente conseguem se regenerar e reunir forças para retomar seu trabalho.

A atual convidada da fundação é a ativista de direitos humanos e jornalista tunisiana Sihem Bensedrine, escolhida por indicação da organização Repórter sem Fronteiras: "Não tenho sossego há dez anos. Em função do meu engajamento pelos direitos humanos, passei a me confrontar diariamente com ofensas e agressões."

Porto seguro Alemanha

As despesas diárias, inclusive de moradia, são cobertas pela prefeitura de Hamburgo. A este orçamento somam-se doações angariadas pela fundação. A iniciativa partiu do ex-prefeito Klaus von Dohnanyi, cujo pai foi executado pelos nazistas em 1945. A base financeira da fundação é o patrocínio do milionário e mecenas Jan Phillip Reemtsma, fundador do Instituto de Pesquisa Social de Hamburgo.

Ao serem convidados pela fundação alemã, alguns destes ativistas se encontravam na cadeia ou sob ameaça de prisão, correndo risco de vida. Entre os bolsistas incluem-se, por exemplo, artistas argelinos ameaçados por terroristas islâmicos, jornalistas turcos ou colombianos perseguidos por grupos de direita, jovens pacifistas de Camarões, Burundi e Costa do Marfim, um advogado curdo perseguido por defender prisioneiros políticos e um dissidente do Kirguistão que passou 23 anos de sua vida na cadeia ou em campos de trabalho forçado na Sibéria.

Internet como alternativa

No ano passado, Sihem Bensedrine, atual bolsista da fundação, foi presa na Tunísia ao retornar de uma viagem pela Europa. A razão foi seu depoimento sobre a violação sistemática dos direitos humanos em seu país, numa entrevista concedida à televisão árabe de Londres. Agora, a intelectual de 48 anos, formada em Filosofia, está sendo processada por difamação da Justiça tunisiana.

Mas Bensedrine não desiste. Depois de ter o requerimento de registro de um jornal indeferido, a jornalista tenta contornar a censura através da internet (Kalimatunisie.com). Em seu site, pode-se ler temas tabus para o restante da imprensa nacional: reportagens sobre torturas nos presídios tunisianos, censura na internet e um especial sobre o referendo que garantiu a permanência de Ben Ali na presidência do país do norte da África.

A jornalista está em Hamburgo com sua filha. Após a temporada na cidade alemã, ambas retornarão a seu país, como a maior parte dos bolsistas anteriores. "Eu não posso deixar a Tunísia definitivamente. Pelo contrário, sempre voltarei. Meus amigos estão lá. Trabalhei sempre com eles e continuo interessada pelos mesmos temas. O atual distanciamento, porém, me faz bem. Além disto, não acho que alguém seja insubstituível. Aqui, enquanto descanso, dou a chance para que outro assuma responsabilidade" pelo meu trabalho.

A Fundação de Hamburgo para Perseguidos Políticos não só cria condições de estadia e moradia aos seus bolsistas, mas também organiza eventos para divulgar a situação de vítimas de perseguição e apoia campanhas em favor de presos e desaparecidos políticos.