Desarmamentismo
7 de maio de 2009Rússia e Estados Unidos querem reduzir seu arsenal de mísseis nucleares e substituir o antigo tratado bilateral START de redução de armas, que expira no final do ano, por um novo pacto de controle armamentista. Um encontro preliminar entre as duas partes foi considerado "construtivo" pelo Ministério russo das Relações Exteriores, o que aumenta as expectativas de um resultado positivo.
Segundo Oliver Meier, representante internacional da Associação de Controle Armamentista, em Berlim, as chances de sucesso de fato são altas. "As partes não estão afastadas quanto às questões centrais. Eles têm as mesmas ideias em mente quanto à redução geral de mísseis. Têm a mesma predileção por um tratado definitivo e verificável. O tempo é que é um desafio, pois eles pretendem assinar um acordo já nos próximos meses, o que vai ser muito difícil."
Caso, como é de se esperar, demore até que se resolvam as divergências restantes – como, por exemplo, incluir no documento os mísseis armazenados, como defende a Rússia, ou excluí-los, como preferem os EUA –, o tratado atual poderia ser simplesmente prolongado. Outra alternativa seria a assinatura de um tratado provisório semelhante, enquanto se negocia um novo, mais ambicioso.
Relação indireta
Por mais positivos que sejam os prognósticos quanto à assinatura de um acordo EUA-Rússia, a visão que o presidente americano Barack Obama apresentou no discurso proferido em Praga em abril passado ainda é muito mais ampla: um mundo livre de armas nucleares.
Mas será que um novo acordo entre EUA e Rússia, que juntos detêm pelo menos 90% do arsenal nuclear mundial, realmente pode aumentar a pressão sobre as demais potências nucleares e lançar uma tendência global de desarmamento nuclear?
Miles Pomper, pesquisador sênior do Center for Nonproliferation Studies, em Washington, alerta para expectativas não realistas. "O que pode acontecer é que, no contexto do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, isso convença outros países da boa vontade dos EUA e da Rússia de cumprir suas promessas nesse sentido e que esses países então aumentem a pressão sobre os Irãs e as Coreias do Norte. Mas não há uma relação direta."
Distinção necessária
Especialistas advertem que não é possível simplesmente juntar num mesmo grupo todos os países que possuem armas nucleares. Uma primeira categoria incluiria a França, o Reino Unido e a China, nações reconhecidas pelo Tratado de Não-Proliferação e com as quais seria mais fácil negociar. Outro grupo incluiria Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte, países não reconhecidos formalmente pelo mesmo tratado.
Das potências nucleares oficiais, o Reino Unido e a China tendem a ser mais abertos ao desarmamento nuclear global, enquanto a França tem uma postura mais relutante. O premiê britânico, Gordon Brown, já falava em um mundo livre de bombas atômicas antes mesmo de Obama, apontam especialistas.
A coisa muda de figura quando se trata das potências nucleares não oficiais. Nesse caso, trata-se de um assunto de segurança regional, opina Oliver Meier. "Em se tratando de Israel, haverá naturalmente o problema do Oriente Médio, do Irã, e tudo vai depender dos progressos na região. A Índia e o Paquistão têm o problema da rivalidade entre si. E, no caso da Coreia do Norte, ninguém sabe que política eles estão seguindo no momento."
O importante é se concentrar nos primeiros passos concretos a serem dados pela Rússia e pelos Estados Unidos. Para Meier, levará tempo só para prolongar ou adaptar o tratado START já existente. Redigir um novo acordo, que preveja cortes mais drásticos do arsenal nuclear, exigirá uma paciência ainda maior.
Obama sabe que a meta de obter um mundo livre de armas nucleares é uma maratona política, e não uma corrida de velocidade. Em seu discurso em Praga, ele advertiu da possibilidade de esse objetivo nem ser alcançado durante seu tempo de vida. No entanto, as condições políticas globais nunca estiveram tão favoráveis à redução do arsenal atômico.
"Pela primeira vez em anos, a discussão está sendo direcionada não só por representantes políticos, mas também pela população, que antes não levava isso a sério. É claro que ter os Estados Unidos na liderança mudou muito a dinâmica política desse processo", opina Oliver Meier.
Autor: Michael Knigge
Revisão: Simone Lopes