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PolíticaCoreia do Norte

Quem é Kim Ju-ae, a filha de 12 anos de Kim Jong-un?

Julian Ryall
14 de janeiro de 2023

Ditador norte-coreano tem sido fotografado ao lado da menina, levantando especulações de que ela poderia se tornar sua sucessora.

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O líder norte-coreano, Kim Jong Un (centro), e sua filha acenam para soldados
A mídia estatal norte-coreana descreve Kim Ju-ae como a "filha mais amada" de Kim Jong-unFoto: Korean Central News Agency/AP Photo/picture alliance

Nos últimos meses, o ditador norte-coreano,Kim Jong-un, tem aparecido na imprensa estatal como um pai orgulhoso ao lado de sua filha mais velha, Kim Ju-ae. Em uma das imagens, divulgada em novembro, ele segura a mão dela à sombra de um míssil numa base de lançamentos. Em outra, caminha ao lado da menina ao longo de uma fileira de tropas leais ao regime.

Acredita-se que Kim Ju-ae tenha nascido em 2013 e seja a segunda dos três filhos de Kim, que consistiriam em um filho e duas filhas.

Sua aparição ao lado do chefe da única dinastia comunista do mundo levou o serviço de inteligência sul-coreano a concluir que Kim quer assim demonstrar que pretende manter a linhagem de sua família no controle do Estado pelas próximas gerações.

Mas analistas dizem que supor que Kim Ju-ae irá assumir a posição de seu pai seria tirar conclusões por demais precipitadas, pois isso implicaria uma mudança inédita nos costumes de uma sociedade dominada por homens e quase certamente desencadearia resistência dos escalões superiores predominantemente masculinos do país, tanto no mundo militar quanto político.

Intenções nebulosas

Analistas admitem, porém, que só o próprio Kim seria capaz de responder se pretende um dia fazer de sua filha a líder da nação isolada.

Em fotos divulgadas pela mídia norte-coreana, altos funcionários do regime aparecem se curvando diante da garota, com a legenda descrevendo a jovem como a filha "mais amada" de Kim. Ela já apareceu com uma parka branca e um longo casaco preto com gola forrada de pele, sugerindo um senso de moda semelhante ao de sua mãe, Ri Sol-ju, que é uma espécie de ícone de estilo na Coreia do Norte.

Pouco mais se sabe sobre Kim Ju-ae ou seus irmãos.

Mas em um briefing no início de janeiro, o Serviço Nacional de Inteligência sul-coreano disse a políticos importantes que, ao levar sua filha a lugares públicos, Kim já está preparando o terreno para o que seria a terceira sucessão hereditária de poder em Pyongyang.

O líder norte-coreano Kim Jong Un, ao lado de sua filha, inspecciona um míssil balístico intercontinental
Ao lado da filha, líder norte-coreano inspeciona um míssil balístico intercontinental Foto: KCNA via REUTERS

O próprio Kim substituiu seu pai, Kim Jong-il, quando ele morreu repentinamente em dezembro de 2011. Mas reforçando as dificuldades em se reivindicar a liderança da Coreia do Norte, por muitos anos o próprio Kim Jong-un não foi considerado o sucessor escolhido por seu pai.

Esperava-se que essa honra fosse para seu meio-irmão mais velho, Kim Jong-nam, até que ele enfureceu seu pai em 2001 ao ser preso em um aeroporto em Tóquio viajando com um passaporte falso da República Dominicana e aparentemente planejando visitar a Disneylândia.

Embora Kim Jong-un tenha superado seu meio-irmão no posto mais alto do país, ele claramente ainda o via como uma ameaça à sua legitimidade e governo. Em fevereiro de 2017, Kim Jong-nam foi assassinado no aeroporto de Kuala Lumpur com o agente nervoso VX, com os agressores fugindo rapidamente para a Coreia do Norte.

Kim Jong-un está doente?

Há rumores de que Kim Jong-un estaria com problemas de saúde, conforme sugerem imagens mostrando sua figura corpulenta, um visível hábito de fumar e boatos de que ele luta contra gota e possivelmente diabetes, assim como seu pai.

Ele pode ter apenas 39 anos, mas a questão da sucessão provavelmente já se tornou um tópico dentro dos salões do poder em Pyongyang.

Mesmo assim, apontar seu provável substituto ainda pode ser prematuro.

"Acho difícil acreditar que esta menina será capaz de substituir o pai, principalmente porque ela é mulher", disse Toshimitsu Shigemura, professor da Universidade Waseda de Tóquio e autor de vários livros sobre a dinastia Kim.

"A Coreia do Norte continua sendo uma sociedade profundamente conservadora e confucionista, faz crer que a hipótese de Kim Ju-ae emergir como sucessora de seu pai é impossível", disse ele à DW.

"Imagino que teremos que supor que ele escolherá passar o controle para seu filho quando chegar a hora, mas ele definitivamente vai querer que a posição de líder permaneça na família, para seguir o que a Coreia do Norte chama de 'linhagem Paekdu'," avalia.

O Monte Paekdu atravessa a fronteira com a China e é onde a propaganda norte-coreana afirma que Kim Il-sung, o fundador da nação e avô de Kim Jong-un, tinha sua base de guerrilha enquanto lutava contra os ocupantes japoneses da Península Coreana na década de 1940. Outros relatos dizem que ele passou a maior parte do tempo em um campo na Rússia para deslocados até que a guerra acabou e ele foi nomeado governante fantoche da Coreia do Norte por Moscou.

Tentativa de "distrair a atenção"

"Acredito que Kim fez sua filha aparecer ao lado dele perante a mídia e nesses locais bastante simbólicos para demonstrar sua determinação na liderança do governo, apesar dos gravíssimos problemas que o país enfrenta devido às sanções econômicas e ao fechamento das fronteiras por causa da pandemia", disse Shigemura.

"Ele está tentando distrair a atenção das pessoas, mostrar sua família feliz e até encorajar o povo a expressar o quanto está impressionado com ele como pai e também como líder", acrescentou o especialista.

"Ainda existe um respeito generalizado e até admiração pela família Kim entre as gerações mais velhas na Coreia do Norte, embora o aumento do contrabando de programas de televisão e filmes estrangeiros esteja enfraquecendo esse apoio entre os mais jovens", disse Shigemura.

"Ao demonstrar que pretende que sua família continue a governar, Kim pode estar tentando desencorajar a dissidência", acrescenta Shigemura.

Lim Eun-jung, professora associada de estudos internacionais na Universidade Nacional de Kongju, na Coreia do Sul, disse que, dada a idade dos filhos de Kim, é muito cedo para especular sobre quem pode assumir seus cargos.

"É verdade que ele não parece muito saudável, mas não acho que seja possível dizer o que pode acontecer no futuro porque Kim Ju-ae é muito jovem", disse ela.

"Acho que essas aparições conjuntas são mais provavelmente uma tentativa de enviar sinais para o público norte-coreano, criando uma imagem de um futuro melhor para as gerações mais jovens", avalia. "Pode ser um pouco teatral, mas sem dúvida parece mais 'avançado' para Kim estar com sua filha nesses eventos em vez de com seu filho. "Mas é muito cedo e muito difícil interpretar além disso."