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Quem é Kamala Harris, cotada para lugar de Biden na eleição

Darko Janjevic
8 de julho de 2024

Vice-presidente dos EUA é a primeira na linha de sucessão de Joe Biden, tanto na Casa Branca quanto na disputa contra Trump. Apesar do histórico de conquistas, ela é criticada por ter ficado à sombra do presidente.

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Joe Biden e Kamala Harris acenam para o público enquanto assistem aos fogos de artifício da varanda da Casa Branca
Joe Biden e Kamala Harris durante o espetáculo de fogos de artifício do último 4 de julho, dia da Independência dos Estados UnidosFoto: Tierney L. Cross/newscon/picture alliance

Quando Kamala Harris concordou em ser a vice na chapa de Joe Biden e apertou a mão do colega no palco, em agosto de 2020, o futuro da dupla parecia brilhante.

Biden estava no caminho certo para derrubar Donald Trump e devolver um senso de normalidade aos Estados Unidos, graças, em grande parte, a sua experiência política de décadas. Harris era uma líder carismática e enérgica para a nova era – uma mulher negra e filha de pais imigrantes que entrou para a política depois de ter alcançado o cargo de procuradora-geral da Califórnia.

Harris pode agora ser chamada para salvar a chapa presidencial dos democratas e enfrentar Donald Trump em novembro. Mas seu brilho diminuiu durante os quatro anos na Casa Branca.

A história americana de Harris

Kamala Harris nasceu em uma família de acadêmicos imigrantes em Oakland, Califórnia, em 1964. A mãe de Harris, Shyamala Gopalan, era uma pesquisadora do câncer de mama nascida na Índia, e seu pai era o professor de economia Donald J. Harris, da Jamaica. Os pais de Harris participaram ativamente do movimento pelos direitos civis da década de 1960.

Segundo consta em sua autobiografia, "Aquilo em que Acreditamos" (no original em inglês, "The Truths We Hold"), essa experiência influenciou sua própria carreira. Harris relata se lembrar da mãe dizendo a ela e a sua irmã, Maya: "Não fiquem sentadas reclamando das coisas. Façam alguma coisa!"

Shyamala Gopalan, mãe Kamala Harris, com cabelos longos e pretos, ao lado de amiga, em meio a protesto na Califórnia na década de 60
À esquerda, mãe de Kamala Harris, Shyamala Gopalan, acompanhada de uma amiga, durante protestos por direitos civis na Califórnia na década de 60Foto: Kamala Harris campaign/AP/picture alliance

O casamento de seus pais se desfez quando Harris tinha sete anos. Cinco anos depois, Gopalan conseguiu um trabalho de pesquisa no Canadá, e a família se mudou para Montreal.

A futura vice-presidente norte-americana cursou o ensino médio no Canadá. Em seguida, voltou para os EUA para estudar ciências políticas e economia, em Washington, DC. Em 1986, voltou para seu estado natal, a Califórnia, para estudar direito.

Harris foi aprovada no exame da Ordem dos Advogados em 1990 e iniciou sua carreira como promotora pública, subindo na hierarquia para se tornar procuradora-geral da Califórnia, em 2011. Ela foi a primeira mulher, negra e sul-asiática americana a ocupar o cargo.

"Melhor policial" da Califórnia

A carreira de Harris como promotora teve altos e baixos. Ela se autodenominava a "melhor policial" da Califórnia, mas irritou parte da polícia com sua recusa em aplicar sentença de morte contra um acusado de matar um policial. Ao mesmo tempo, foi criticada por uma fraca atuação contra a corrupção dentro das forças policiais.

Ela liderou um sistema de multas e até prisão, em casos mais graves, para pais cujos filhos estavam faltando a muitas aulas, o que teve impacto desproporcional em famílias não brancas. Kamala riu da questão da legalização da maconha em 2014, para dizer, cinco anos depois, que era "absolutamente a favor" da liberação.

Em 2015, anunciou que estava concorrendo ao Senado e garantiu o apoio de Joe Biden e do então presidente Barack Obama. Em 2017, se tornou a segunda mulher negra a servir no Senado. Em 2019, lançou uma campanha no partido Democrata para a sua indicação presidencial, tendo Biden como um de seus oponentes.

Brigas com Biden

Durante um dos debates, Harris pressionou Biden sobre sua relação com senadores dos EUA que se opuseram a esforços de acabar com a segregação racial no país nas décadas de 1970 e 1980. Ela acusou Biden de trabalhar com eles contra o "busing" – uma prática em que crianças de áreas minoritárias eram transportadas para escolas predominantemente brancas para diversificar as salas de aula.

Biden respondeu dizendo que ela "descaracterizou" sua posição e observou que ele escolheu ser um "defensor público" em vez de um promotor durante a agitação que se seguiu ao assassinato do ativista negro Martin Luther King Jr.

Os anos de Harris como promotora também voltaram a assombrá-la com o meme pejorativo "Kamala is a cop" ("Kamala é uma policial") durante sua campanha. Ela acabou desistindo da disputa e apoiou Biden, que mais tarde a convidou para ser sua vice-presidente.

"Czar da fronteira" durante a crise de imigração

Biden e Harris lutaram juntos em uma campanha dura e acabaram derrotando Donald Trump e o vice-presidente Mike Pence. Eles tomaram posse em 20 de janeiro de 2021, apenas duas semanas depois que uma multidão violenta invadiu o Capitólio exigindo que a votação fosse anulada. Harris mais uma vez fez história – ela foi a primeira mulher, a primeira pessoa negra e a primeira pessoa de origem indiana a servir como vice-presidente dos EUA.

O cargo deu a Harris a autoridade para assumir a administração se o presidente falecer ou for considerado incapaz para o cargo. Mas Harris tem se esforçado para aumentar seu perfil durante seu tempo na Casa Branca.

Em 2021, Biden atribuiu a ela a tarefa de lidar com a imigração, combatendo as motivações que levam as pessoas a deixar a América Latina de forma irregular.

"Não consigo pensar em ninguém que seja mais qualificado para fazer isso", disse Biden sobre Harris na época. "Quando ela fala, ela fala por mim."

Apesar dos esforços de Harris e das reuniões com líderes latino-americanos, o número de pessoas indocumentadas que cruzam a fronteira continuou a crescer, atingindo níveis recordes no ano passado. O Partido Republicano rapidamente apelidou Harris de "czar da fronteira" e depois a criticou por não conseguir conter o número de pessoas que entram nos EUA.

Fila de imigrantes na fronteira entre EUA e México, no Texas
As questões de fronteira e imigração tornaram-se temas dominantes na campanha eleitoral presidencial dos EUAFoto: John Moore/Getty Images

"Tudo está em jogo"

Enquanto isso, Harris encontrou um campo de batalha diferente contra seus rivais políticos. Quando a Suprema Corte dos Estados Unidos revogou o caso Roe vs. Wade e efetivamente reverteu o direito ao aborto em grande parte do país em 2022, Harris se tornou uma voz poderosa em favor da proteção desse direito. No início deste ano, ela deu início à caravana "Fight for Reproductive Freedoms" (Luta pelas liberdades reprodutivas) pelos EUA.

"Os extremistas de todo o nosso país continuam a empreender um ataque total contra as liberdades duramente conquistadas e lutadas", disse Harris, segundo a Casa Branca.

Trump endossou a decisão da Suprema Corte e reivindicou o crédito.

Poucos dias antes do recente debate Trump-Biden, Harris alertou que "tudo está em jogo" com relação aos direitos reprodutivos se Trump for reeleito.

O futuro do Partido Democrata?

Após o fraco desempenho de Biden no debate, Harris foi uma das defensoras mais rápidas e vocais do presidente, mesmo quando outros políticos democratas estavam divulgando seu nome, entre outros, para substituir o atual presidente na corrida à Casa Branca.

Mas se Biden desistir da disputa, Harris é vista por muitos como uma escolha natural para ele endossar na eleição de 2024.

A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, disse durante uma reunião logo após o debate entre Biden e Trump que uma das razões pelas quais Biden a escolheu em 2020 "é porque ela é, de fato, o futuro do partido".