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Quem precisa dos social-democratas?

Monika Dittrich (av)11 de setembro de 2007

Recentes pesquisas de opinião mostram que a sede de justiça social nunca foi tão grande como agora na Alemanha. Porém o SPD desperdiça sua chance e energias em querelas internas. Monika Dittrich dá sua opinião.

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Monika Dittrich Fernschreiber
Monika Dittrich

Basta uma olhada no sistema partidário alemão e já surge a pergunta: quem é que ainda precisa mesmo dos social-democratas (SPD)? O partido parece ter se tornado cada vez mais dispensável. De um lado, os democrata-cristãos e social-cristãos (CDU/ CSU), que passam francamente por social-democratas melhorados.

A chanceler federal Angela Merkel propaga o compartilhamento do bem-estar social entre todos. E faz um bom tempo que seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), invade o terreno do SPD com uma política familiar moderna e novo amor pela proteção ambiental.

No extremo esquerdo do espectro político, a situação também fica cada vez mais incômoda para os social-democratas. O Partido do Socialismo Democrático (PDS) passou a se chamar Partido da Esquerda e há muito deixou de ser um fenômeno regional alemão oriental.

Ele se impôs como agremiação socialista, prometendo benefícios a aposentados e desempregados. Com Oskar Lafontaine como figura de proa, o Partido de Esquerda rouba ao SPD não só eleitores e filiados, como também a autoconfiança.

Há meses, o Partido Social Democrata se arrasta pelas pesquisas de opinião com 25% das intenções de voto. E, por mais que a liderança partidária afete indiferença, o nervosismo é inegável. O SPD parece um cachorro que apanhou, vacilante e débil. Ainda por cima, seu presidente, Kurt Beck, totalmente desprovido de charme ou carisma, está agindo de forma errática.

Prever mais, prover menos

Uma cruenta luta entre as alas contribui para a autodilaceração do partido. A ala mais de esquerda exige um perfil social mais definido e claro comprometimento com a redistribuição de cima para baixo. Seu argumento: os eleitores só evadiram para o Partido de Esquerda porque o ex-premiê e chefe de partido Gerhard Schröder, através de sua Agenda 2010, identificou o SPD com neoliberalismo e frieza social.

Do outro lado estão os reformistas, como o ministro das Finanças, Peer Steinbrück, ou o ex-chefe de partido Matthias Platzeck. Esses exigem disposição para mudança e criticam a mentalidade de "venha a nós", fabricada pelo Estado social. Em sua opinião, o futuro Estado social deveria prover menos e prever mais.

Com tais querelas internas, o SPD desperdiça, infelizmente, energia demais, deixando de ver que esta poderia ser a hora da social-democracia. Pois poucas vezes foi tão grande a sede de justiça por parte da sociedade alemã. Segundo enquete recente, 72% da população crê que o governo federal não está fazendo o suficiente pela justiça social.

Novas receitas de justiça social

Assim, o desafio do futuro é possibilitar novamente maior mobilidade social. É um escândalo, para um país como a Alemanha, que filhos de operários não tenham perspectiva de uma formação mais elevada; que o escolares da hauptschule (escola secundária de formação básica) estejam fadados a se tornarem dependentes da previdência social; e que mães solteiras resvalem para a pobreza, por falta de quem tome conta de seus filhos.

Não é mais possível vencer tais desafios com as receitas do Estado social dos anos 60 e 70: neste ponto os reformistas do SPD têm razão. Por isso faz sentido sua noção de um Estado social assistencialista.

Contudo o SPD tem que ficar atento para que uma concepção inteligente como esta não seja roubada por outro partido. Ele deve se empenhar pela idéia, com coragem e paixão, pois só assim reconquistará filiados e eleitores. Caso contrário, em breve chegará a hora de a gente se perguntar seriamente: quem é que precisa mesmo dos social-democratas?