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PolíticaFrança

Quem é quem na aliança de esquerda que venceu pleito francês

David Ehl
10 de julho de 2024

Formada às pressas antes de eleição legislativa, Nova Frente Popular surpreendeu ao formar maior bancada de deputados. Agora, desafio da aliança é manter união e encontrar agenda de consenso

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Ao lado de apoiadores, Olivier Faure ergue o punho em comemoração à vitória nas eleições parlamentares francesas. Ao fundo, logotipo da coalizão de esquerda Noveau Front.
Aliança de esquerda levou a melhor, beneficando os socialistas, como o líder Olivier FaureFoto: Aurelien Morissard/AP Photo/picture alliance

Imediatamente após as eleições europeias de 9 de junho, a França teve duas grandes surpresas políticas: o anúncio do presidente Emmanuel Macron de que a Assembleia Nacional seria dissolvida e novas eleições seriam realizadas. E, no dia seguinte, a esquerda francesa, que estava dividida em vários partidos, surpreendeu a todos ao formar uma aliança conjunta, a Nova Frente Popular (NFP), que também passou a atuar para impedir uma vitória eleitoral da ultradireitista Reunião Nacional (RN), de Marine Le Pen. 

E a aliança de esquerda surpreendeu: formou a maior bancada no segundo turno das eleições, em 7 de julho, e agora tenta assegurar a indicação de um primeiro-ministro. "A Nova Frente Popular está pronta para governar", disse o líder do partido populista de esquerda A França Insubmissa (LFI), Jean-Luc Mélenchon, um dos membros da NFP, na noite da eleição. "Ganhamos e agora vamos governar", declarou Marine Tondelier, secretária-geral dos Verdes, que é considerada a principal iniciadora da nova aliança de esquerda.

"A Nova Frente Popular deve assumir o controle dessa nova página da nossa história", declarou o líder do Partido Socialista (PS), Olivier Faure, em seu discurso, tornando claro o conflito para um futuro próximo: Faure não quer trabalhar com a coalizão centrista Ensemble (Juntos), do preidente Macron. 

Quem faz parte da aliança de esquerda?

Os socialistas são o único grupo da aliança de esquerda com experiência no governo. Com François Mitterrand (1981-1995) e François Hollande (2012-2017), o partido já contou com dois presidentes franceses. O PS também tem experiência com a chamada "coabitação", ou seja, a situação política na qual o partido do presidente não tem maioria no parlamento e precisa trabalhar em conjunto com um governo organizado por um grupo político rival. De 1997 a 2002, os socialistas contaram com o primeiro-ministro Lionel Jospin sob o presidente conservador Jacques Chirac.

O primeiro-ministro Lionel Jospin (esq.) e o presidente Jacques Chirac
Dupla politicamente desfavorável: o primeiro-ministro Lionel Jospin e o presidente Jacques Chirac, no final de sua coabitação em 2002Foto: epa belga Doppagne/dpa/picture-alliance

No entanto, os socialistas são apenas o segundo grupo mais forte na atual aliança de esquerda: a impopularidade de Hollande em 2017 favoreceu a ascensão de seu ex-colega de partido Jean-Luc Mélenchon, cujo legenda A França Insubmissa (LFI) se concentra mais no populismo de esquerda e no ceticismo em relação à UE. O próprio Mélenchon provocou polêmica no passado com declarações acusadas de serem antissemitas, além de ter minimizado a invasão russa da Ucrânia. Ele ainda pede que a França deixe a Otan.

O terceiro maior parceiro é o Partido Verde, cujo nome completo é "Europa Ecológica dos verdes" (EELV). O Partido Comunista Francês (PCF) também está representado, embora com menor peso, bem como uma série de partidos menores ou minúsculos, como por exemplo, um grupo que é a favor da independência do distante território ultramarino da Polinésia Francesa.

A aliança de esquerda pode enfrentar o mesmo destino de seus antecessores?

A aliança de esquerda NFP surgiu de uma colaboração anterior que é considerada um fracasso: quando Macron e Le Pen se enfrentaram em 2022, Mélenchon convocou a esquerda francesa a se unir sob sua liderança. Sua aliança: a "Nova Frente Popular Ecológica e Social" (Nupes) acabou se tornando a segunda força mais forte no parlamento, mas não conseguiu converter esse sucesso eleitoral em poder político. A formação de um grupo parlamentar conjunto na Assembleia Nacional fracassou - devido aos socialistas, comunistas e verdes, que não queriam diluir seus respectivos perfis em uma aliança de oposição do eurocético Mélenchon.

Apoiadores do líder do partido populista de esquerda, A França Insubmissa (LFI) Jean-Luc Melenchon
Apoiadores do líder do partido populista de esquerda, A França Insubmissa (LFI) Jean-Luc Mélenchon reagem aos primeiros resultados eleitorais, em ParisFoto: Michel Euler/AP Photo/picture alliance

Da Nupes à nova aliança de esquerda NFP, houve uma mudança fundamental: em vez de Mélenchon como figura central, os líderes dos maiores partidos estão agindo como uma liderança coletiva - e, portanto, sem um candidato principal, que seria o candidato lógico para o cargo de chefe de governo com base nos últimos resultados das eleições.

A cientista política Sophie Pornschlegel, do think tank Europe Jacques Delors, sediado em Bruxelas, acredita que a nova aliança tem mais chances de sucesso: "Eles têm mais motivos para permanecerem juntos, pois podem de fato formar um governo e exercer o poder executivo. Essa é uma grande motivação para caminharem juntos." Além disso, os socialistas têm mais peso dentro da aliança após as recentes eleições e uma nova geração de políticos menos egocêntricos nos partidos está definindo o rumo, refelete Pornschlegel.

Da aliança à coalizão?

Ainda não se sabe se a aliança de esquerda conseguirá capitalizar politicamente sua maioria relativa: Mesmo no período que antecedeu a eleição, representantes de alguns partidos se manifestaram a favor de um governo de unidade - com Macron, contra Le Pen. No entanto, a LFI, em particular, insistiu em suas demandas políticas máximas, que não podem ser realizadas com Macron. No entanto, o presidente descartou categoricamente a possibilidade de trabalhar com Mélenchon no período que antecedeu a eleição.

"É mais uma questão de quem fica e com quais cargos no novo governo", diz Sophie Pornschlegel: "É muito improvável que A França Insubmissa forneça o primeiro-ministro porque não funcionará com Macron. Mas as negociações estão apenas começando, por isso ainda é difícil prever."

No decorrer desta semana, a aliança de esquerda quer chegar a um acordo sobre uma proposta para o primeiro-ministro. No entanto, uma questão ainda mais importante, afirma Marine Tondelier, dos verdes, será quais políticas o novo governo deve implementar.