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Denúncia de corrupção

27 de outubro de 2011

Desde que foi escolhido para sediar a Copa de 2014 e as Olimpíadas, em 2016, o Brasil tem tido que comprovar capacidade de cumprir requisitos de organização, infraestrutura e segurança. Mas a situação política não ajuda.

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Ministro do Esporte, Orlando Silva, foi exonerado do cargoFoto: AP

Para aumentar a pilha de dúvidas que já pairam sobre a capacidade de organização do Brasil para sediar os dois megaeventos, um fato novo: o ministro brasileiro do esporte, Orlando Silva, foi exonerado do cargo nesta quarta-feira (26/10). Quem assume a pasta é o deputado Aldo Rebelo (PCdoB), segundo informou a ministra da Comunicação Social, Helena Chagas.

O Ministério dos Esportes, órgão que comanda toda a preparação para os dois grandes eventos, e, especialmente seu agora ex-chefe, Orlando Silva, tem sido alvo de denúncias de desvios de verba destinada a programas sociais comandados pelo órgão.

Com a troca de comando, cresce a dúvida sobre a capacidade de gestão do governo brasileiro. Paulo Henrique Azevedo, coordenador de pesquisas internacionais no Laboratório de Gestão do Esporte, na Universidade de Brasília, disse à Deutsche Welle que as denúncias devem ser encaradas com seriedade. Para ele, o tratamento dado à Copa de 2014 e às Olimpíadas de 2016 pelo Brasil deve continuar sendo institucional. “Consequentemente, a mudança de interlocutores e agentes do governo não deve provocar alteração no processo que está em andamento”, afirma Paulo.

Confusão inédita

O impacto das denúncias e da troca no comando, segundo Azevedo, é negativo para a imagem do Brasil no exterior. “A repercussão de denúncias não é favorável à imagem do Brasil, mas penso que isso não modificará tudo o que está sendo realizado para o evento”, avaliou.

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Atraso nas obras para a Copa de 2014 geram ceticismoFoto: picture alliance/Agencia Estado

Essa, entretanto, não é a opinião de Wilson Almeida, pós-doutor em relações internacionais pela Universidade de Georgetown e professor da Universidade Católica de Brasília. Segundo ele, o problema que o Brasil enfrenta hoje não foi visto em nenhuma outra edição da Copa ou das Olimpíadas.

“Considerando que o Brasil já é visto como um país em que a corrupção é algo inerente, acho que haverá repercussão, sim”, afirmou Wilson ao falar do impacto negativo da crise para a imagem do Brasil no exterior .

Segundo ele, uma das consequências mais concretas deverá afetar o campo dos investimentos. “Eu tenho preocupação que isso seja um primeiro passo para uma série de eventos que possam prejudicar financeiramente a Copa e as Olimpíadas em termos de patrocinadores”, alertou Wilson.

Denúncias de corrupção

As denúncias contra o agora ex-ministro Orlando Silva e outros membros do Ministério dos Esportes foram divulgadas pela primeira vez na revista semanal Veja.

Segundo a reportagem que iniciou a série de denúncias, Silva teria recebido, em 2008, dinheiro que deveria ter sido aplicado em um programa de incentivo à prática do esporte, o programa Segundo Tempo.

Brazilian President Dilma Rousseff speaks at the Preliminary Draw of the 2014 FIFA World Cup Brazil in Rio de Janeiro, Brazil, Saturday July 30, 2011. The 2014 World Cup takes shape Saturday as the qualifying draw lays out each nation's path to securing a spot in the tournament in three years' time. The draw will determine the layout of the qualifying groups for Africa; North, Central America and the Caribbean; Asia; Europe; and Oceania. (Foto:Silvia Izquierdo/AP/dapd)
Dilma enfrenta onda de instabilidade em ministériosFoto: dapd

As informações do suposto esquema, que teria acontecido em 2008, foram divulgadas por dois homens que teriam participado ativamente das transferências ilegais de dinheiro ao ministro.

Desde o surgimento das primeiras denúncias, Orlando Silva adotou a estratégia de se colocar à disposição da polícia, da Justiça e dos jornalistas para prestar esclarecimentos.

Ele chegou a ir voluntariamente à Câmara dos Deputados para prestar esclarecimentos e foi enfático ao dizer que são falsas as acusações e que está pronto para colaborar com as investigações.

Ao confirmar sua saída do cargo, Silva reiterou que “não há, não houve e não haverá quaisquer provas” que o incriminem. “Fato nenhum houve que possa comprometer minha honra e conduta ética”, disse o ex-ministro. Ele complementou dizendo que sofreu um “linchamento público”, mas disse ter falado à presidente que, em poucos dias, a verdade virá à tona. “Vai ficar claro para a sociedade brasileira que não há nada que possa me incriminar”, enfatizou Silva.

O Supremo Tribunal Federal abriu inquérito para apurar as acusações. A Corte definiu o prazo de dez dias para que o Tribunal de Contas da União e a Controladoria Geral da União enviem ao tribunal cópias de procedimentos abertos para investigar irregularidades nos contratos do programa Segundo Tempo.

Autora: Ericka de Sá
Revisão: Francis França