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Qual o projeto de Trump para as mudanças climáticas?

Martin Kuebler
3 de janeiro de 2025

Perspectiva para um segundo mandato do republicano nos Estados Unidos é de cortes orçamentários em estímulos à transição verde, leis ambientais enfraquecidas e apoio ao setor de combustíveis fósseis.

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Trump com boné Make America Great Again
Trump prepara desmonte de leis climáticasFoto: Alex Brandon/AP Photo/picture alliance

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, que se diz cético em relação às mudanças climáticas, não esconde seus planos para o clima na sua segunda presidência.

Na campanha eleitoral e desde sua eleição, ele se comprometeu a aumentar a exploração de combustíveis fósseis, cancelar créditos fiscais para veículos elétricos e projetos de energia limpa, desfazer regulamentações ambientais e recuperar fundos não gastos do que ele chamou de "novo golpe verde", uma legislação climática histórica aprovada pelo atual presidente Joe Biden.

A retórica de Trump ecoa as propostas delineadas no Projeto 2025, um manual de 900 páginas publicado pela ultraconservadora Heritage Foundation. Embora Trump tenha se distanciado publicamente do plano, vários de seus autores foram nomeados para cargos importantes do futuro governo.

Entre eles está Russ Vought, que, como principal funcionário da área de orçamento, ajudaria a definir as prioridades do governo e que, no Projeto 2025, enfatizou a importância da "agenda do presidente".

"Uma administração muito destrutiva"

"Não temos ilusões de que este não será um governo destrutivo", disse Rachel Cleetus, diretora de políticas para clima e energia da União de Cientistas Preocupados (UCS), com sede nos EUA. "Ele é anticientífico em sua essência."

Cleetus não acredita que o governo vá usar a pesquisa climática consolidada para "orientar a boa formulação de políticas" e agir no "interesse público", apontando que muitos dos indicados de Trump não têm nem mesmo a experiência mais básica para o cargo.

"Em vez de julgamento independente e conhecimento especializado, há muita lealdade, quase como se fosse um culto, a um presidente que assumiu uma postura muito forte contra a energia limpa, completamente comprometido com os interesses dos combustíveis fósseis", disse ela à DW.

Usina de fraturamento hidráulico em Dakota do Norte
O petróleo e o gás dos EUA extraídos por fraturamento hidráulico são extremamente prejudiciais ao climaFoto: Matthew Brown/picture alliance

E com as duas câmaras do Congresso controladas pelos republicanos e a Suprema Corte de maioria conservadora, pelo menos até as eleições de meio de mandato em 2026, Cleetus disse que restam "pouquíssimas barreiras" para resistir aos planos de Trump.

"Tudo isso junto é um cenário muito preocupante", disse ela.

Cortes orçamentários e leis enfraquecidas na Agência de Proteção Ambiental

O escolhido por Trump para chefiar a Agência de Proteção Ambiental (EPA), o ex-congressista de Nova York Lee Zeldin, se opôs à proteção ambiental e aos investimentos em energia limpa durante seu mandato no Legislativo.

Ao anunciar sua escolha em 11 de novembro, o presidente eleito disse que Zeldin ajudaria a "liberar o poder das empresas americanas e, ao mesmo tempo, manter os mais altos padrões ambientais, incluindo o ar e a água mais limpos do planeta".

Como chefe da EPA, Zeldin deve desmantelar regras rigorosas introduzidas pela administração Bidenpara controle da poluição do ar e da água, extração de combustíveis fósseis, biodiversidade e substâncias tóxicas – uma repetição do que Trump ordenou que a EPA fizesse quando substituiu Barack Obama em 2017.

"Eles falam sobre ar limpo e água limpa, mas estão [planejando] reverter todos esses [...] padrões de poluição que são especificamente projetados para proteger a saúde das pessoas e o meio ambiente", disse Cleetus. "Eles estão falando em cortar orçamentos e atacar a equipe em todas essas agências."

Mandy Gunasekara, chefe de gabinete da EPA durante a primeira presidência de Trump e autora colaboradora do Projeto 2025, disse ao jornal The New York Times em outubro que o plano para o segundo mandato de Trump seria "demolir e reconstruir" suas estruturas.

Durante a primeira presidência de Trump, a agência viu seu orçamento estagnar e teve que lidar com a perda de mais de 1,1 mil funcionários, muitos desmoralizados pelo enfraquecimento ou remoção de mais de 100 regras ambientais.

Futuro chefe da EPA, Lee Zeldin
Novo chefe da Agência de Proteção Ambiental dos EUA, Lee Zeldin é contra a proteção ambiental e a promoção de energias renováveisFoto: Matt Rourke/AP/picture alliance

Para o diretor executivo do Sierra Club, Ben Jealous, a nomeação de Zeldin "revela as intenções de Donald Trump de, mais uma vez, vender nossa saúde, nossas comunidades, nossos empregos e nosso futuro aos poluidores corporativos".

"Precisamos de uma mão firme e experiente na EPA para mobilizar recursos federais para combater as mudanças climáticas e utilizar todo o poder da lei para proteger as comunidades da poluição tóxica", disse a presidente da Earthjustice, Abigail Dillen, em um comunicado em 12 de novembro. "Lee Zeldin não é essa pessoa."

Foco em petróleo e gás

Um dos principais focos da campanha de Trump foi sua promessa de turbinar a extração de combustíveis fósseis que aquecem o planeta – um setor que já teve lucros recordes nos últimos anos. Assim como no Projeto 2025, ele defende restaurar a independência energética dos Estados Unidos e cortar os preços de energia pela metade.

Neste processo, a campanha de Trump cortejou agressivamente o setor de petróleo, dizendo aos seus principais executivos em uma reunião privada em abril passado que ele derrubaria leis ambientais, se eleito. Entre os participantes, conforme relatado inicialmente pelo jornal The Washington Post, estava o governador de Dakota do Norte, Doug Burgum, escolhido por Trump para chefiar o Departamento do Interior e o recém-criado Conselho Nacional de Energia.

Chris Wright, um cético em relação ao clima e indicado por Trump para chefiar o Departamento de Energia, é CEO da Liberty Energy, uma empresa de geração de energia com foco em gás natural. Ele tem defendido combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás com entusiasmo, argumentando em um relatório da empresa de janeiro de 2024 que "não existe energia 'limpa' ou 'suja'".

"Trump está enchendo seu governo de executivos vindos de algumas das maiores empresas de combustíveis fósseis", escreveu a organização ambientalista Sierra Club em seu site. "Eles querem afrouxar as regulamentações, reverter o progresso da energia limpa e destruir nosso planeta para seu lucro."

Manifestação de apoiadores de Trump
Trump quer desacelerar as energias renováveis ​​e carros elétricos em prol de usinas de gás e petróleoFoto: AP Photo/Alex Brandon/picture alliance

Ao parabenizar Trump por sua vitória em 6 de novembro, Tim Tarpley, presidente da associação comercial Energy Workforce & Technology Council, disse que previa que o novo governo agiria rapidamente para aumentar o fracking (fraturamento hidráulico, processo utilizado na extração de petróleo e gás natural) em terras federais e acelerar as licenças para projetos de petróleo e gás, inclusive no Golfo do México.

Trump vai atacar a energia limpa e os carros elétricos

Projetos de energia renovável e veículos elétricos (EVs) também estarão na mira de Trump em janeiro. O republicano está tentando reverter regras federais para reduzir as emissões de gases de veículos e conceder bilhões em créditos fiscais ao consumidor para projetos de energia limpa e carros elétricos.

As medidas foram aprovadas por Biden em 2022 como parte da Lei de Redução da Inflação (IRA), e podem ser desidratadas a despeito das dezenas de milhares de novos empregos criados nos últimos anos por projetos de energia limpa e veículos elétricos.

Analistas do setor, no entanto, apostam que não será tão fácil para Trump seguir com estes planos. Alguns dosfundos já estão investidos em projetos em todo o país – operações de extração de lítio na Califórnia, fábricas de painéis solares no Texas e fábricas de baterias e carros elétricos na Geórgia. E apesar das críticas dos republicanos à legislação, os empregos contam com algum apoio bipartidário.

Quase 60% dos projetos de energia limpa anunciados desde 2022 estão em distritos congressionais republicanos, de acordo com um relatório de setembro de 2024 da E2, uma organização sem fins lucrativos que defende políticas econômicas ambientais – em estados como Geórgia, Carolina do Norte, Carolina do Sul, Michigan, Arizona e Indiana, que ajudaram a eleger Trump. Espera-se que esses projetos acrescentem mais de 400 bilhões de dólares (R$ 2,4 bilhões) ao produto interno bruto dos EUA nos próximos anos.

Destacando o crescimento da energia renovável em lugares como China, Índia e Brasil, Cleetus disse que qualquer reversão das disposições da IRA seria "destrutiva" e arriscaria "deixar os EUA para trás nessa revolução global de energia limpa", com cadeias de suprimentos sendo estabelecidas em outros lugares.

"Acho que haveria muita oposição de entidades estaduais e locais, de empresas e de trabalhadores", disse ela.

Problemas climáticos cada vez mais difíceis de ignorar

Embora a série de mudanças sob Trump tenha alarmado os especialistas ambientais, Cleetus disse que isso não acontecerá da noite para o dia. "Há muitas coisas que não podem ser desfeitas apenas com o toque de uma caneta", afirmou ela, citando o complexo processo regulatório e administrativo, além dos desafios legais. "Podemos esperar que as vias legais sejam muito acessadas durante o governo Trump."

E mesmo com Trump planejando uma série de ordens executivas em seu primeiro dia, que não exigiriam aprovação do Congresso, a legislação ou os desafios legais poderiam atrasar a entrada em vigor.

"O clima agora se tornou uma questão de primeira linha na diplomacia global", disse a especialista, apontando os laços cada vez mais complexos com questões comerciais, de segurança e econômicas. "Muitos países em desenvolvimento, países de baixa renda, estão enfrentando impactos absolutamente catastróficos das mudanças climáticas. Portanto, os EUA terão dificuldade em separar seus interesses geopolíticos do clima."