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Quadrinho conta história de pessoas LGBTQ+ acima dos 50 anos

Sarah Hucal
31 de março de 2024

Publicado pela editora Moom Comics, sediada em Berlim, livro ilustra a trajetória de 12 pessoas LGTBQ+ mais velhas, e busca reduzir a lacuna entre as diferentes gerações.

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Quadrinho mostra um rapaz enxugando o cabelo enquanto outros dois apontam para duas mulheres em um banheiro
Graphic novel "Back Then" mostra como décadas atrás era difícil para pessoas LGTBQ+ entenderem quem eram e o que estavam vivenciandoFoto: Moom Comics

"Tinha 23 anos quando me mudei da casa dos meus pais para Chemnitz. E então a vida real começou", diz um quadro da história ilustrada, que mostra um jovem alegre com os braços estendidos em frente a uma bola de discoteca na cidade alemã.

"Chemnitz parece incrivelmente entediante para a maioria das pessoas. Ela tem uma reputação ruim", diz o texto no quadro seguinte. "Para mim, como um jovem gay que encontrou uma pequena comunidade, clubes gays e assim por diante, foi o melhor lugar do mundo."

A história é ilustrada em preto, branco e amarelo pelo artista Jean-Come. É uma das várias retratadas visualmente em Back Then, uma graphic novel queer que será publicada em alemão e inglês em maio pela Moom Comics, editora de quadrinhos queer sediada em Berlim.

O livro é um projeto importante para o fundador da Moom Comics, Lukasz Majcher. O homem de 39 anos, que se mudou da Polônia para Berlim em 2015, há muito tempo é fascinado pelas histórias de homens gays com mais de 50 anos, em parte graças ao grupo de amigos que compartilha com seu parceiro Stefan Paul, de 53 anos.

"Eu passava muito tempo com esses caras, e eles falavam sobre a vida gay nos anos 80. Por exemplo, meu amigo Malcolm sobreviveu à pandemia de aids", disse Majcher à DW. "Percebi que as pessoas de hoje em dia, especialmente os gays mais jovens, não têm ideia de como era a vida das pessoas que se assumiram naquela época. É por isso que o livro se chama Back Then ou Damals em alemão."

Ilustração mostra homem pensando que ele tinha muitas amigas mulheres, mas nunca quis ter uma namorada.
Quatorze artistas diferentes expressaram seu estilo particular no livroFoto: Moom Comics

Com a ajuda de 13 outros artistas de quadrinhos, ele se propôs a dar vida às histórias de 12 pessoas gays com mais de 50 anos. Suas histórias são contadas por meio de ilustrações vibrantes, no estilo de cada artista. Ao longo de vários meses, eles conduziram entrevistas e criaram roteiros e, em seguida, ilustraram histórias da infância e da juventude dessas pessoas.

Desafios compartilhados

Todas as pessoas entrevistadas vivem atualmente em Berlim. E, embora algumas delas pertençam ao círculo de amigos de Majcher, ele aprendeu mais sobre suas experiências durante o processo de criação do livro.

Majcher percebeu um tema comum nas entrevistas: como décadas atrás era difícil para as pessoas LGTBQ+ entrevistadas entenderem exatamente quem eram e o que estavam vivenciando, antes da internet.

"Eles não tinham acesso ao conhecimento sobre sexualidade como temos hoje – tinham que aprender tudo por intuição. Era muito difícil para eles descobrir o que estava acontecendo – será que eles eram 'normais'? Muitos deles tinham medo de ter problemas de saúde mental ou de serem pervertidos, também por causa do estigma social", disse Majcher.

Muitos dos indivíduos entrevistados levaram anos para finalmente entender e aceitar quem realmente eram. "Por exemplo, meu parceiro Stefan, que também aparece no livro, estava convencido de que era normal os meninos observarem outros meninos e até mesmo se sentirem atraídos pelo físico deles. Embora houvesse um fundo sexual nisso, ele achava que esses sentimentos eram normais porque não tinha ninguém com quem conversar sobre isso."

Com poucas pessoas a quem recorrer naquela época, "eles estavam criando suas próprias definições de sexualidade", disse Majcher.

Dedicada aos quadrinhos queer

A fundação da Moom Comics é o ponto alto da jornada profissional de Majcher. Ele trabalhou em marketing e em festivais de música em sua terra natal, a Polônia, antes de se mudar para Berlim após se apaixonar por seu ex-parceiro.

Não foi uma mudança fácil. Enquanto se esforçava para aprender alemão, ele teve uma série de empregos, incluindo limpar banheiros em um aeroporto.

"Eu desenhei quadrinhos a minha vida inteira, mas antes não profissionalmente – sentia que não era bom o suficiente. Mas então conheci as pessoas certas que me convenceram de que eu tinha mais talento do que eu pensava", disse.

Quadrinho mostra homem em frente a boate pensando sobre experimentar beijar uma mulher
Editora Moom Comics, focada em temas queer, foi fundada em 2023Foto: Moom Comics

Por fim, Majcher começou a publicar seus próprios quadrinhos e, em 2023, decidiu dar o próximo passo e fundou sua própria editora independente de quadrinhos, a Moom Comics, para poder publicar também o trabalho de outros ilustradores.

A Moom Comics é a primeira editora de quadrinhos na Alemanha a se concentrar inteiramente em temas queer. Publicações anteriores incluem a série de super-heróis Power Bear, com foco em saúde mental, que acompanha Max, um funcionário de um escritório em Berlim que um dia se vê com habilidades sobre-humanas.

Embora os personagens principais dos livros sejam gays, "nossos quadrinhos são dedicados a todos os leitores. Independentemente da cor da pele, nacionalidade e crenças", disse Majcher.

Ele também espera que o livro ajude a diminuir a lacuna entre as diferentes gerações na comunidade LGTBQ+. Isso é importante porque a mídia, bem como redes sociais como TikTok e Instagram, muitas vezes ignoram as vozes queer nessa faixa etária, preferindo destacar pessoas mais jovens e "mais bonitas", acrescentou.

"É um tema muito importante atualmente: o que vai acontecer com as pessoas queer à medida que envelhecem – não é tão fácil para elas. Às vezes, eles não têm uma família grande, talvez tenham apenas seus parceiros", disse Majcher.

Ele espera que, ao criar mais empatia na comunidade, haja mais preocupação com o bem-estar dos mais velhos. "É muito importante compartilhar esse conhecimento e empatia com essas pessoas, e reduzir essa lacuna entre as gerações."