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Pterossauro do Brasil abala teorias sobre evolução das penas

22 de abril de 2022

Crânio fossilizado de réptil alado da Bacia do Araripe leva paleontólogos a reverem teorias sobre a plumagem de pterossauros, dinossauros e aves. Estruturas podem ter surgido 100 milhões de anos antes do que se pensava.

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Ilustração do pterossauro Tupandactylus imperator mit Federn
Tupandactylus imperator viveu cerca de 113 milhões de anos atrásFoto: StockTrek Images/IMAGO

Um fóssil originário do Nordeste brasileiro proporcionou uma revelação paleontológica sensacional: os pterossauros que viveram centenas de milhões de anos atrás já tinham estruturas semelhantes a penas. Elas serviriam à regulação da temperatura e à comunicação visual, como ocorre nas aves modernas, segundo artigo publicado nesta quarta-feira (20/04) pela revista científica Nature

Pterossauros são répteis alados extintos, parentes próximos dos dinossauros. Juntamente com as aves, eles integravam o grupo taxonômico Avemetatarsalia, que compartilha um ancestral evolutivo comum.

O fóssil em questão, com cerca de 113 milhões de anos, era de parte do crânio de um Tupandactylus imperator, espécie caracterizada por uma enorme crista na cabeça, composta de pele sobre ossos delgados e, neste caso, coberta por penas excepcionalmente bem preservadas.

Fóssil de pterossauro em blocos de calcálrio
Condições geológicas do Araripe permitem fósseis extremamente detalhados, muitas vezes levados ilegalmente do paísFoto: Cover-Images/IMAGO

Regulação térmica e comunicação visual

A conclusão da equipe liderada pelos paleontólogos Pascal Godefroit, do Real Instituto de Ciências Naturais da Bélgica, e Maria McNamara é que as penas se desenvolveram já no antepassado comum dos dinossauros, pássaros e pterossauros, cerca de 250 milhões de anos atrás. Ou seja: cerca de 100 milhões de anos mais cedo do que se pensava.

"Para mim, esses fósseis fecham o assunto: pterossauros realmente tinham penas", comentou à NBC News o professor de paleontologia Steve Brussate, da Universidade de Edimburgo, que revisou o estudo. "Penas não são só uma coisa das aves, nem mesmo só dos dinossauros, elas evoluíram num passado bem mais remoto."

McNamara e Godefroit detectaram dois tipos de penas no Tupandactylus imperator, um deles de estrutura ramificada, como as das aves atuais. Suas dimensões reduzidas e a ausência de ramificações secundárias indicam que elas não tinham a função de auxiliar o voo, mas provavelmente ajudavam os répteis a manterem a temperatura interna.

Além disso, ao examinar as penas do réptil pré-histórico sob um microscópio de elétrons de alta potência, os pesquisadores encontraram melanossomas, organelas produtoras do pigmento melanina, com formas variadas.

Nas penas dos pássaros atuais, há uma correlação entre a forma dessas estruturas e a cor das penas. Portanto, além de confirmar os laços genéticos entre as duas ordens animais, o achado sugere que os pterossauros possuíam plumagem multicolorida, cuja função secundária seria comunicativa.

"Uma das grandes questões é: por que as penas se desenvolveram, qual era sua função?", comenta McNamara. "Acho que aqui temos indícios realmente fortes de que a comunicação visual foi um fator importante em impulsionar a evolução das penas." Assim, é possível que as cristas de alguns pterossauros transmitissem mensagens visual, como para atrair parceiros de acasalamento ou intimidar rivais.

Fósseis brasileiros cobiçados e contrabandeados

O fóssil de Tupandactylus imperator, excelentemente preservado em quatro blocos de calcário, foi originalmente encontrado na Bacia do Araripe, entre os estados de Pernambuco, Ceará e Piauí. Ele provavelmente deixou o Brasil de forma ilegal, mas foi repatriado em 2022 por meio de acordo entre o Real Instituto de Ciências Naturais da Bélgica e o governo brasileiro.

Segundo o jornal Folha de S. Paulo, a cobiça pelos fósseis do Araripe é grande, pois as condições geológicas da região contribuem para preservar detalhes dos tecidos moles (músculos, pele, vasos sanguíneos) e outras estruturas, como penas.

A paleontóloga Taissa Rodrigues, especialista em pterossauros da Universidade Federal do Espírito Santo, comentou à Folha de S. Paulo: "Eu fui a um encontro acadêmico alguns anos atrás e vi o trabalho descrevendo essas estruturas ser apresentado. Na época, o espécime estava numa coleção estrangeira. Fico muito contente em ver que as políticas das revistas especializadas, como a Nature, estejam resultando na repatriação de fósseis brasileiros, como é o caso desse Tupandactylus."

av/bl (ots)