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ConflitosIsrael

Atos pró-palestinos se espalham por universidades dos EUA

Carla Bleiker
24 de abril de 2024

Estudantes organizaram grandes protestos contra as operações militares de Israel na Faixa de Gaza. Detenções de alunos provocaram indignação, e manifestantes foram acusados de antissemitismo.

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Estadudantes com bandeira palestina, cartazes e o tradicional lenço palestino
Protesto pró-palestinos na Universidade de Nova YorkFoto: Fatih Aktas/AA/picture alliance

O gramado no centro do campus de Manhattan da Universidade de Columbia é um lugar onde, normalmente, os alunos se reúnem para estudar sob o sol ou antes de irem a bares do bairro de Morningside Heights. Nos últimos dias, porém, o local se tornou o ponto de encontro de manifestantes pró-palestinos, em meio a uma controvérsia que se espalhou do Oriente Médio a Nova York e nas universidades ao longo dos Estados Unidos.

Em 18 de abril, a presidente da Universidade de Columbia, Nemat Minouche Shafik, acionou o Departamento de Polícia de Nova York para intervir no protesto. A tropa de choque prendeu mais de 100 estudantes que haviam montado barracas no gramado e protestavam contra as operações militares de Israel na Faixa de Gaza.

"Adotei essa medida extraordinária porque estas são circunstâncias extraordinárias", escreveu Shafik em um e-mail ao campus na tarde daquela quinta-feira, afirmando que lamentava profundamente a decisão.

Os alunos presos acabaram também sendo suspensos pela universidade. Mesmo assim, não tardou para que novas barracas surgissem no gramado central.

Solidariedade dos professores

Nesta segunda-feira (22/02), centenas de membros do corpo docente da instituição fizeram uma paralisação em solidariedade aos alunos e criticaram a administração da Columbia. A universidade anunciou que as aulas seriam realizadas de maneira remota na segunda-feira e, mais tarde, informou que elas ocorreriam em um modelo híbrido pelo restante do ano letivo. 

Os estudantes protestam contra os ataques das Forças de Defesa Israelenses (IDF) na Faixa de Gaza, iniciados em resposta aos atentados terroristas do grupo radical islâmico Hamas, em 7 de outubro de 2023, que deixaram 1.200 mortos – outras cerca de 240 foram sequestradas.

Desde o início da ofensiva israelense na Faixa de Gaza, mais de 34 mil pessoas morreram no enclave palestino, segundo o Ministério da Saúde local, administrado pelo Hamas. A situação humanitária no território é descrita por organismos internacionais como catastrófica, em meio à escassez de alimentos, água potável e medicamentos.

"Exigimos que nossas vozes contra a matança em massa de palestinos em Gaza sejam ouvidas", diz uma nota divulgada no Instagram, nesta segunda-feira, pela coalizão de grupos estudantis pró-palestinos Apartheid Divest, formada por alunos da Universidade de Columbia. "Nossa universidade é cúmplice dessa violência, e é por isso que protestamos."

Protestos também em Yale, NYU e outras

Recentemente, os protestos estudantis pró-palestinos se espalharam da Columbia para outras instituições. Na Universidade de Nova York (NYU), a uma curta viagem de metrô da Columbia, um acampamento de estudantes reuniu centenas de manifestantes na segunda-feira.

Depois de a administração da universidade pedir que as pessoas deixassem o local e alegar que a situação se tornara caótica, a polícia foi chamada e vários estudantes acabaram presos.

Harvard Yard, uma área central da universidade de Harvard nos arredores de Boston, foi fechado ao público na segunda-feira. Estruturas como barracas e mesas somente podiam ser montadas no local mediante autorização.

Vista aérea do protesto na Universidade de Columbia, onde podem ser observadas muitas barracas azuis e muitas pessoas
Barracas foram armadas em um jardim da Universidade de Columbia, em Nova YorkFoto: Lokman Vural Elibol/Anadolu/picture alliance

Na Universidade de Yale, em Connecticut, policiais prenderam cerca de 45 manifestantes e os acusaram de invasão de propriedade. Todos foram liberados na condição de comparecerem ao tribunal futuramente.

Nos campi universitários, os manifestantes pedem que suas universidades apoiem um cessar-fogo em Gaza e se afastem de empresas que tenham associação com Israel.

Acusações de antissemitismo

Houve também acusações de antissemitismo contra os manifestantes. A administração da NYU, afirmou ter ouvido "cantos intimidadores e vários incidentes antissemitas" nos protestos em seu campus.

Shafik relatou que abusos antissemitas ocorreram recentemente no campus da Columbia. "O volume de nossas discordâncias somente aumentou nos últimos dias", disse a presidente da universidade. "Essas tensões são exploradas e amplificadas por indivíduos que não têm afiliação com a Columbia e que foram ao campus para defender seus próprios interesses."

A coalizão de grupos estudantis que organiza os protestos na Columbia rejeitou as acusações de antissemitismo contra os protestos de maneira integral, dizendo que alguns poucos indivíduos tentaram distorcer a causa e se comportaram de maneira inaceitável.

Mão levanta um cartaz que diz, em inglês: "solidariedade palestina não é antissemitismo"
Cartaz com dizeres "solidariedade palestina não é antissemitismo"Foto: Fatih Aktas/AA/picture alliance

"Rejeitamos categoricamente qualquer forma de ódio e intolerância e permanecemos vigilantes contra tentativas de não-estudantes de perturbar a solidariedade forjada entre os estudantes – colegas palestinos, muçulmanos, árabes, judeus, afrodescendentes e pró-palestinos que representam a total diversidade de nosso país", disse o grupo em declaração postada em seu perfil no Instagram.

Jovens criticam política dos EUA para Israel

Os protestos deixam claro que muitos jovens americanos estão descontentes com a política do presidente dos EUA, Joe Biden, sobre Israel. Historicamente, Washington é o maior aliado de Tel Aviv e seu maior apoiador no atual conflito contra o Hamas.

Logo no início das operações militares em Gaza, Biden deu ênfase à forte aliança entre os dois países. Mas, à medida que mais e mais civis em Gaza foram mortos, cada vez mais pessoas no espectro liberal da sociedade americana – especialmente os eleitores mais jovens – passaram a expressar seu descontentamento com o uso do dinheiro dos contribuintes para financiar Israel. Eles exigem que Biden apele por um cessar-fogo imediato e o fim da ajuda ao governo israelense.

O posicionamento adotado pelos EUA tem, de fato, influência sobre as ações de Israel. Após uma série de bombardeios israelenses matarem funcionários de entidades de ajuda humanitária, Biden lançou um ultimato dizendo que os EUA iriam modificar sua política de apoio caso Tel Aviv não levasse em conta o sofrimento de civis em Gaza e a segurança dos trabalhadores. A declaração fez com que Israel logo anunciasse medidas para aumentar o fluxo de ajuda à população da Faixa de Gaza.