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Promotoria alemã confirma grampos contra ativistas do clima

25 de junho de 2023

Autoridades da Alemanha têm monitorado telefones e e-mails do movimento ambientalista Letzte Generation, alvo de investigação criminal no país. Grupo diz que vigilância é "absurda".

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Protesto do grupo Letzte Generation em Berlim
Alguns dos maiores protestos do Letzte Generation vieram após a notícia de que o grupo estava sendo investigadoFoto: JONAS GEHRING/aal/IMAGO

A promotoria pública de Munique confirmou neste domingo (25/06) que investigadores alemães têm grampeado e monitorado várias comunicações do grupo ativista climático Letzte Generation (Última geração), após revelações na imprensa alemã sobre o caso.

A vigilância envolve telefones, e-mails e correios de voz vinculados ao grupo ou a alguns de seus membros, informou a promotoria à agência de notícias alemã DPA.

As autoridades do estado da Baviera estão atualmente investigando o Letzte Generation sob a suspeita preliminar de formar ou apoiar uma organização criminosa.

A investigação se segue a uma série de protestos ambientalistas realizados pelo grupo, geralmente envolvendo o bloqueio do tráfego em estradas e atos contra obras de arte em museus e, mais recentemente, contra edifícios, aviões e barcos particulares.

A vigilância contra o grupo foi revelada no início da semana pelo jornal Süddeutsche Zeitung, com sede em Munique. Segundo a reportagem, as escutas começaram a ser realizadas em outubro passado e, entre as linhas telefônicas monitoradas, estaria o ramal de imprensa do Letzte Generation.

Ativistas do clima em frente a obra de arte vandalizada em museu em Viena
O Letzte Generation ficou mais conhecido por suas intervenções em museus, em que jogavam líquidos contra obras de arte famosasFoto: LETZTE GENERATION ÖSTERREICH/dpa/picture alliance

"Como um jornalista, assim como muitos outros, estive no telefone com representantes do Letzte Generation ao longo dos últimos meses. Agora está claro: os telefones deles vêm sendo grampeados pela polícia desde outubro. Até mesmo o telefone oficial para imprensa", escreveu no Twitter Ronen Steinke, autor da reportagem publicada no Süddeutsche Zeitung.

"Trata-se do ramal com código de área de Berlim que o Letzte Generation usa como seu contato oficial com a imprensa. Toda vez que jornalistas ligavam lá, investigadores da Polícia Criminal do estado da Baviera estavam também na linha", completou o jornalista.

Um porta-voz da promotoria de Munique disse à DPA que os jornalistas não eram alvos da vigilância, mas reconheceu que eles "foram afetados pelas medidas por causa de ligações feitas para os números de telefone monitorados".

O funcionário também garantiu que questões como a liberdade de imprensa foram "apropriadamente consideradas" ao se decidir sobre a permissão das escutas telefônicas.

Em alguns casos, também foram monitorados os celulares dos integrantes do grupo de ativistas, contas de e-mail e dados de localização por GPS dos celulares.

A reação do grupo

Neste fim de semana, o Letzte Generation emitiu uma declaração afirmando que o monitoramento pela polícia é desnecessário e que as investigações criminais contra o grupo são infundadas.

"Protestamos com nossos nomes e rostos, publicamos nossos planos, aceitamos as consequências legais", escreveu o grupo no Twitter.

"Mesmo assim, a LKA [polícia regional de investigação criminal] da Baviera protocola nossos telefonemas, e-mails e movimentações. Até mesmo nosso telefone para a imprensa foi espionado. Isso é um absurdo!"

Carla Hinrichs, porta-voz do grupo, também contou em suas redes sociais que detalhes de suas ligações pessoais – incluindo para amigos e familiares – estavam agora sendo anotados nos arquivos de um promotor público. "Essa é a minha realidade", afirmou.

A reação de políticos

O deputado do Parlamento alemão (Bundestag) Lars Castellucci, do Partido Social-Democrata (SPD), disse que "as preocupações sobre a radicalização do movimento climático devem ser levadas a sério", mas destacou que "a investigação sobre a possível formação de um grupo criminoso não deve ser um convite para a adoção de medidas que, por si só, podem radicalizar os suspeitos".

Por sua vez, o líder do partido A Esquerda, Dietmar Bartsch, afirmou que todo o caso contra o grupo foi um golpe de campanha eleitoral emanado do governo conservador da Baviera.

Bartsch chamou a escuta telefônica de "desproporcional" e disse que ela "mostra que é errado influenciar politicamente nossas promotorias públicas". "Elas estão sendo mal utilizadas para os propósitos de uma campanha eleitoral inadequada", acusou.

As próximas eleições estaduais da Baviera ocorrem em 8 de outubro.

Avião pintado de laranja, atrás de carros de polícia
Mais recentemente, grupo tem concentrado seus protestos em alvos como pequenas aeronaves e prédiosFoto: Julius Schreiner/TNN/dpa/picture alliance

As investigações contra o Letzte Generation

Os promotores da Baviera iniciaram investigações criminais contra o grupo de ambientalistas no mês passado, incluindo operações policiais contra alguns de seus membros.

A resposta do público sobre o caso foi dividida, com alguns chamando a investigação de reação exagerada, e outros saudando a medida.

A ministro do Interior da Alemanha, Nancy Faeser, afirmou recentemente que 580 possíveis ofensas criminosas foram atribuídas ao grupo ou a seus membros desde o início de 2022, muitas delas relacionadas a coerção (geralmente por atrasarem cidadãos nas estradas em bloqueios), vandalismo ou danos à propriedade.

Faeser, que é do SPD, chegou a defender a ação da polícia contra o grupo. Ela argumenta que alguns dos protestos do Letzte Generation foram desproporcionais e até mesmo arriscaram alienar as pessoas da causa ambiental.

Desde que a investigação foi iniciada, o Letzte Generation alterou suas táticas de protesto para se concentrar em alvos que perturbam menos o público.

Em vez de se colar em estradas ou invadir museus de arte, como costumavam fazer, os ativistas têm jogado tinta em prédios públicos e comerciais e em aeronaves e barcos particulares menores, afirmando que buscam causar menos transtorno às pessoas comuns, e mais aos emissores de carbono que lucram com a destruição ambiental.

ek (AFP, DPA)