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Problemas não podem ser resolvidos sem a Rússia, afirma especialista

Tatiana Petrenko (ca)14 de julho de 2006

O especialista em política russa do governo alemão, Andreas Schockenhoff, esteve na Rússia antes do início da cúpula dos países que formam o G8 em São Petersburgo. A DW-WORLD conversou com ele em entrevista exclusiva.

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O encontro dos oito países será realizado em São PetersburgoFoto: AP

A Rússia é pela primeira vez, neste fim de semana (15–17/07), sede de um encontro do grupo das oito nações mais industrializadas do mundo (G8). Na reunião de São Petersburgo, deverão estar na agenda as diferenças dos diversos países em relação às questões do Irã e da Coréia do Norte e à situação no Oriente Médio. A Rússia precisa se modernizar e se democratizar, entretanto, para que possa conversar de igual para igual com os demais sete países que compõem o bloco. A DW-WORLD conversou com o especialista do governo alemão para a política russa sobre esses temas.

DW-WORLD: O Kremlin não queria que representantes do G8 participassem do fórum de discussão alternativo "A outra Rússia". O senhor participou. Por quê?

Andreas Schockenhoff, CDU Mitglied des Deutschen Bundestags
Andreas Schockenhoff, membro da CDU no parlamentoFoto: www.andreas-schockenhoff.de

Andreas Schockenhoff: Acho que devemos enviar um sinal de que apoiamos todo o espectro da sociedade russa. Em Moscou, eu me encontrei com Ella Pamfilova, a comissária da presidência russa para a sociedade civil. Mas, eu também participei de "A outra Rússia", encontro independente arranjado por organizações não-governamentais (ONGs). Creio que é o equilíbrio certo.

Que impressões o senhor levou do encontro?

Um dos problemas era a diversidade dos participantes. Havia uma série de ONGs que são bem conhecidas e que têm feito um bom trabalho nos últimos anos. Infelizmente, também havia grupos radicais da esquerda e da direita, que usaram o encontro em seu próprio benefício. Visto como um todo, foi um retrato amplo e diversificado da sociedade russa.

O fato de esse retrato poder aparecer e ser divulgado em público demonstra que progressos estão sendo feitos. Além do mais, o presidente Putin concordou, no encontro organizado por Pamfilova na semana passada, que partes das leis que regulamentam as atividades das ONGs serão melhoradas. Apesar dos retrocessos, existem sinais esperançosos de que o caminho democrático esteja se consolidando na Rússia.

Este evento influenciará de alguma maneira o conteúdo e o tom das conversas durante a cúpula do G8?

Não creio. Putin mencionará, entretanto, o tema das organizações não-governamentais e da sociedade civil no encontro do G8. A declaração final do encontro deverá incluir uma passagem sobre esse tema e deverá haver um acordo de que os encontros com grupos da sociedade civil deverão continuar no próximo ano, quando o G8 estará sob a presidência alemã.

Quais são os temas mais relevantes para a Alemanha na cúpula de São Petersburgo? A delegação alemã tem metas e tarefas concretas para o evento?

Acredito que as atuais crises pelo mundo – o Irã e particularmente os recentes acontecimentos no Oriente Médio – devem nos dar motivos para grandes preocupações. Esse será definitivamente um assunto importante. Acredito que, em primeiro plano, trataremos da Carta Européia de Energia e, sob os auspícios do G8, deverá haver um acordo para estabelecer caminhos específicos para se lidar com a energia e o seu fornecimento.

Erdgas Ukraine
A suspensão do fornecimento de gás à Ucrânia pela Rússia preocupou o mundo em dezembro últimoFoto: dpa

Mas o foco deverá se concentrar também nas rotas de fornecimento e como se podem criar condições políticas estáveis e seguras nos países que servem como rota para o fornecimento de energia. Também deveremos tratar da demanda crescente de energia nos países de transição e nos países em desenvolvimento. Devemos nos certificar de que, para termos acesso à energia, não devemos quebrar certas regras de conduta com vistas a aqueles países que fornecem petróleo.

Leia ainda sobre a Carta Européia de Energia.

A Rússia ainda não ratificou a Carta Européia de Energia. A Europa tem novos argumentos que possam convencê-la a tomar esse passo?

A ratificação é uma questão legal. Acho que temos que nos conscientizar politicamente que dependemos uns dos outros. A Rússia lucra obviamente com a imensa demanda por energia. O país tem a segunda maior reserva de petróleo e a maior reserva de gás natural do mundo. Mas a Rússia quer e deve se modernizar. A longo prazo, o país não deverá ser capaz de expandir sozinho seu poder pelo mundo através de suas reservas de petróleo e gás natural. É por isso que a Rússia também tem interesse em ser parceira da Europa e também dos Estados Unidos, podendo assim modernizar sua economia e sua sociedade.

O que a União Européia fará se a Rússia cumprir sua ameaça de concentrar seu mercado de energia na China e em outros países asiáticos?

É natural que a Rússia se volte para o mercado asiático. A Rússia não se orienta somente para o Oeste, mas para a modernização. A China não é um parceiro possível. É por essa razão que a Europa e a Rússia dependem uma da outra. Temos de fato uma identidade comum. Temos uma identidade histórica e cultural comum. E acredito que devemos usar essas questões estratégicas para desenvolver um conjunto de valores comuns.

Tratando-se da cúpula, há várias críticas de que a Rússia não estaria ainda pronta para participar do G8, nem economicamente nem politicamente. Deveria ser dado à Moscou um status de observador. Como o senhor vê essa questão?

Yukos- Hauptniederlassung in Moskau
Companhias petrolíferas como a Yukos estão liderando a economia russaFoto: AP

Eu não estou de acordo com essa linha de pensamento. Problemas que afetam a civilização ocidental não podem, hoje em dia, ser resolvidos sem a Rússia. Isso se aplica às atuais crises pelo mundo, à questão nuclear do Irã, por exemplo. Há o Oriente Médio e os perigos na península coreana, onde a tensão cresceu após os testes atômicos realizados pela Coréia do Norte. Não podemos resolver todas essas questões sem trabalhar diretamente com a Rússia.

Por essa razão, estamos interessados no desenvolvimento interno da Rússia. É por isso que expressamos nossas preocupações quando achamos que esse desenvolvimento interno está no caminho errado. Isso não é uma crítica à Rússia, é fruto da consciência de que no século 21 somos dependentes um do outro e de que questões internas russas também afetam nossos interesses.

Em sua primeira visita oficial à Rússia, a chanceler federal Angela Merkel deixou claro que estaria disposta a levar a Putin problemas "difíceis". Ela insistirá nessa atitude em sua visita à São Petersburgo?

Claro, queremos deixar claro que os problemas domésticos russos também são importantes para nós. E foi justamente por esse motivo que fui enviado pelo governo alemão para assistir ao encontro "A outra Rússia". Para ratificar que achamos importante mostrar que a Rússia não é homogênea, mas multifacetada. Nesse aspecto, o estilo de Angela Merkel é completamente diferente do de seu antecessor, Gerhard Schröder. Portanto, acho que ela possui mais autoridade na Rússia e já conseguiu desenvolver um sentimento de confiança perante Putin.

Angela Merkel encontrou-se com o presidente norte-americano George W. Bush antes do encontro de cúpula. Existem diferenças básicas entre os dois países com relação à Rússia?

Não acredito, o Departamento de Estado norte-americano já reconheceu a Rússia como um parceiro importante. Sem ela, teremos grandes dificuldades de expressar nossos interesses em regiões de extrema dificuldade no mundo e, por isso, acho que será essencial para Alemanha e para os Estados Unidos tentar levar a Rússia a se transformar em um parceiro responsável.