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Liberdade de expressãoEspanha

Preso na Espanha rapper condenado por tuítes

16 de fevereiro de 2021

Pablo Hasél foi condenado por insultos à monarquia e às forças de segurança, além de glorificação do terrorismo. Cerca de 200 artistas, incluindo Pedro Almodóvar e Javier Bardem, assinaram um manifesto em sua defesa.

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Rapper espanhol Pablo Hasél sendo escoltado algemado por policiais
"Morte ao Estado fascista", gritou o rapper espanhol Pablo Hasél antes de ser colocado dentro de viatura policial, em LleidaFoto: J. Martin/AFP

Símbolo para alguns da liberdade de expressão na Espanha, o rapper Pablo Hasél foi detido nesta terça-feira (16/02) para cumprir uma pena de prisão de nove meses por tuítes em quais atacou a monarquia e as forças de segurança do país.

Hasél tinha até sexta-feira passada para se entregar voluntariamente e começar a cumprir sua pena. Contrariado e numa tentativa de evitar a prisão, o rapper havia se refugiado dentro da universidade de Lleida, no oeste da Catalunha, com cerca de 50 jovens. Nesta terça-feira, dezenas de policiais invadiram a universidade e prenderam Hasél.

"Eles nunca vão nos parar, eles não vão nos dobrar!", gritou o rapper com o punho erguido, enquanto a polícia o escoltava para fora do complexo estudantil. "Morte ao Estado fascista", vociferou Hasél instantes antes de ser colocado pelos agentes dentro da viatura policial, em meio a vaias de ativistas.

Um tribunal havia sentenciado Hasél em 2018 a nove meses de prisão devido ao conteúdo de letras de suas músicas e mensagens publicadas em sua conta no Twitter entre 2014 e 2016, que, segundo afirmaram os promotores, glorificavam o terrorismo e insultavam a realeza e as forças de segurança.

Rei "ladrão" e policiais "mercenários de merda"

Nas mensagens, o rapper atacou a monarquia e chamou, por exemplo, o antigo rei da Espanha Juan Carlos, que se mudou para Abu Dhabi depois de acusações de corrupção, de "ladrão" em suas letras. Hasél também chamou de "mercenários de merda" as forças policiais, acusando-as de torturar e assassinar manifestantes e imigrantes.

Em 2014, o rapper já havia sido condenado a dois anos de prisão por glorificar o terrorismo em canções que clamavam pela morte da família real ou elogiar grupos extremistas responsáveis por atentados violentos. Na ocasião, a prisão não foi executada porque Hasél não tinha antecedentes e porque a pena não ultrapassava dois anos.

Rapper espanhol Pablo Hasél em um dos corredores da universidade de Lleida, na Espanha
Hasél havia se recusado a se entregar à polícia e se refugiado na Universidade de Lleida, na CatalunhaFoto: J. Maretin/AFP/Getty Images

Em entrevista por telefone à agência francesa de notícias AFP, Hasél disse na sexta-feira que não iria se entregar à polícia. "Eles terão que vir me sequestrar, e isso também servirá para retratar o Estado pelo que é: uma falsa democracia", disse, em tom de desafio.

Na segunda-feira, diante dos rumores de uma prisão iminente, ele se refugiou na universidade de Lleida. Hasél, cujo nome verdadeiro é Pablo Rivadulla, escreveu em seu Twitter: "Estou trancado dentro da universidade de Lleida com alguns apoiadores. Portanto, eles terão que invadir se quiserem me prender e me colocar na prisão."

Hasél também publicou diversos tuítes em que critica sua condenação e adicionou as antigas mensagens pelas quais foi condenado. "Tuítes pelos quais vou ser preso em alguns minutos ou horas. Literalmente por explicar a realidade. Amanhã pode ser você", escreveu. "Eles vão me prender de cabeça erguida por não ceder ao terror deles."

Apoio de artistas e saia justa no governo

Em Madri e em Barcelona houve manifestações de apoio a Hasél. Cerca de 200 artistas, entre os quais o cineasta Pedro Almodóvar, o ator Javier Bardem e o cantor e compositor Joan Manuel Serrat, assinaram um manifesto em sua defesa.

O escândalo incomoda o governo esquerdista do socialista Pedro Sánchez, cuja porta-voz María Jesús Montero reconheceu na semana anterior que não havia "proporcionalidade" na condenação do rapper.

O Executivo prometeu "uma revisão dos crimes relacionados aos excessos no exercício da liberdade de expressão", com o objetivo de impor penas "dissuasivas" e não de prisão.

O parceiro minoritário da coalizão de governo, o partido de esquerda radical Podemos, denunciou abertamente a situação. "Todos aqueles que se gabam 'dessa normalidade democrática' e se consideram progressistas deveriam se sentir envergonhados", escreveu a legenda.

A mensagem evoca declarações recentes do seu líder e vice-presidente de governo, Pablo Iglesias, que assegurou que "não existe situação de plena normalidade política e democrática na Espanha". Seus comentários, que geraram muita polêmica, referem-se à situação dos nove líderes catalães que cumprem entre nove e 13 anos de prisão pela tentativa separatista fracassada em 2017.

O caso de Hasél lembra o do também rapper espanhol Valtonyc, que em 2018 fugiu para a Bélgica momentos antes de ser preso para cumprir pena por insultos ao rei, glorificação do terrorismo e ameaças em suas canções.

A Bélgica rejeitou a extradição solicitada pela Espanha sob a alegação de que as ações de Valtonyc não constituem um crime sob a lei belga. O caso está no aguardo de um processo de apelação.

pv/lf (Efe, AFP, Reuters)