Durante anos, os governos brasileiros hesitaram em leiloar a concessão do aeroporto de Congonhas. Situado no coração de São Paulo e com grande faturamento, é considerado a joia da coroa entre os aeroportos do país. A expectativa era a de que operadoras aeroportuárias estrangeiras superassem umas às outras em suas ofertas para arrematar o aeroporto e inclui-lo em seu portfólio.
Por isso, Congonhas, o segundo maior aeroporto do Brasil, foi leiloado somente agora, na sétima rodada de concessões da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) – e com o ainda restante aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, deveria compor o final grandioso e bem-sucedido dos leilões, por assim dizer.
Mas não foi bem isso o que aconteceu. O governo leiloou a concessão para operar Congonhas por 30 anos, mas apenas um licitante mostrou interesse. O grupo espanhol Aena fez uma oferta com um ágio de 231%. O governo comemorou o resultado do leilão como grande sucesso, enquanto, na realidade, deveria comemorar por não ter acabado em desastre.
Amazônia, meio ambiente e corrupção
Afinal, o baixo nível de interesse das empresas estrangeiras é uma grande decepção. O atual investidor mostra a importância de Congonhas: entre os 46 aeroportos que a Aena opera no mundo, Congonhas é o número 4 em volume de passageiros − um aeroporto que toda operadora aeroportuária do mundo gostaria de ter em seu portfólio.
No entanto, o fato de apenas uma empresa demonstrar interesse evidencia o quão ruim está a reputação do Brasil no mundo. As palavras-chave para o comportamento hesitante dos investidores estrangeiros são: Amazônia, meio ambiente e corrupção. Empresas da Europa e dos Estados Unidos vêm relutando em investir no Brasil, temendo que, se o fizerem neste momento, serão cobradas pelos acionistas a dar explicações.
CEOs e conselhos fiscais na Europa querem evitar ter que justificar investimentos no Brasil diante do aumento das taxas de desmatamento na Amazônia, povos indígenas ameaçados ou garimpo de ouro desenfreado. A reputação do Brasil nunca foi tão ruim quanto agora − nem mesmo durante a ditadura militar.
Mesmo caso com licitações de rodovias
O governo tenta justificar o baixo interesse em Congonhas com as difíceis perspectivas em geral: a inflação está subindo rapidamente, assim como as taxas de juros, o que eleva os custos de investimento. É difícil fazer previsões para o setor aéreo após dois anos e meio de pandemia e intensificação dos conflitos geopolíticos. Congonhas só foi ofertado em um pacote com dez aeroportos menores, difíceis de operar para gerar lucros. Esses argumentos são todos válidos.
Mas as últimas licitações de infraestrutura para rodovias de longa distância em 2021 já haviam mostrado que novos investidores estão relutantes em vir ao Brasil no momento. Apenas empresas que já investiam no país estão expandindo seu escopo.
E mesmo essas companhias hesitam. As operadoras Zürich, da Suíça, Fraport, da Alemanha, ou Vinci, da França, já estão no Brasil e afirmaram repetidamente nos últimos anos que estão interessadas em ampliar seus investimentos. Todas elas têm aeroportos importantes em seus portfólios e precisariam expandir sua presença para criar sinergias. Mas agora se contêm.
Isso só vai mudar se a reputação do Brasil no mundo melhorar. E não há indicativos disso no momento.
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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.
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