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Por que a covid-19 avança no Chile apesar da alta vacinação?

14 de junho de 2021

Embora seja líder regional em imunização contra o coronavírus, país teve que retomar rigoroso lockdown na capital para conter alta nos casos.

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Bancos de praça interditados na capital chilena, Santiago
Bancos de praça interditados na capital chilena, SantiagoFoto: Matias Basualdo/Zumapress/picture alliance

Desde o fim de semana, o mais rigoroso dos quatro níveis de lockdown está novamente em vigor na região metropolitana de Santiago do Chile. Só quem trabalha em profissões relevantes para o sistema têm permissão para sair de casa. Passear ou praticar esportes só é permitido pela manhã e com pessoas da mesma residência. Compras básicas podem ser feitas duas vezes por semana – e por duas horas apenas.

O presidente do Chile, Sebastian Piñera, apelou para que os chilenos sigam as regras e deu a perspectiva de que o novo confinamento possa ser flexibilizado novamente em duas semanas.

Desde meados de abril, o Chile enfrenta as taxas de infecção mais altas em um ano. Em maio, a incidência de sete dias havia diminuído um pouco. Mas, durante a última semana, o número de novos casos por 100 mil habitantes voltou ao nível nacional recorde de cerca de 260. A região da capital, onde vive quase metade da população do país, é particularmente atingida.

No domingo (13/06), o Chile superou pelo quarto dia seguido a barreira de 7 mil novos casos e registrou mais 138 mortes. No total, já foram mais de 30 mil óbitos por covid-19 no país.

A situação surpreende porque o Chile é líder em vacinação na América Latina. Quase 9 milhões dos cerca de 20 milhões de habitantes já foram totalmente vacinados. Outros 2,5 milhões receberam a primeira de duas doses.

O Chile alcançou 58% de seu objetivo de vacinar três quartos da população. Três quartos são considerados suficientes para alcançar a chamada imunidade de rebanho, quando grandes surtos da doença se tornam extremamente improváveis. Se o Chile continuar a vacinar no ritmo atual, poderá alcançar essa meta em agosto.

Alta nas infecções

Israel é o único país com uma população de mais de 2 milhões de habitantes que tem uma proporção maior de sua população totalmente vacinada do que o Chile (quase 60%). Em Israel, no entanto, a pandemia está praticamente controlada. A incidência de sete dias ronda apenas 14.

Há uma série de possíveis razões pelas quais a incidência no Chile é maior do que em Israel. Uma delas começa com a própria campanha de vacinação: em Israel, quase todos os vacinados receberam a vacina da Pfizer-Biontech, enquanto os demais receberam a da Moderna. Ambas são vacinas de tecnologia mRNA.

No Chile, por outro lado, mais de três quartos das doses administradas eram da chinesa Coronavac, que pode ser produzida em grandes quantidades relativamente rápido.

Para as duas vacinas de mRNA da Pfizer e da Moderna, os estudos mostraram uma eficácia de cerca de 95%. Os estudos sobre a eficácia da Coronavac produziram resultados muito diferentes. No Brasil, a vacina protegeu apenas cerca de 50% dos vacinados contra doenças sintomáticas e cursos moderados da doença, enquanto no Chile ela foi 63% eficaz. A eficácia contra a infecção e, portanto, contra a propagação da doença poderia ser ainda menor.

Os resultados poderiam indicar que a Coronavac é menos eficaz, especialmente contra a variante brasileira P.1. A mutação, que desde então foi batizada de "gama" pela OMS, é considerada duas vezes mais infecciosa que a cepa original do vírus e é agora também a variante mais difundida no Chile.

A mortalidade no Chile está se estabilizando a um nível ligeiramente mais baixo do que nos meses anteriores. Isso sugere que a Coronavac está pelo menos atenuando o curso da epidemia. No entanto, as UTIs na área metropolitana de Santiago estão atualmente atingindo seus limites de capacidade mais uma vez.

Cansaço do lockdown e dificuldades econômicas

Especialistas no Chile veem outra razão para a alta nos casos: o comportamento da população. Após meses de idas e vindas entre situações adversas e mais brandas, as pessoas estão cansadas, disse a médica intensivista Marcela Garrido, chefe de epidemiologia do hospital da Universidade dos Andes em Santiago do Chile, ao diário chileno La Tercera:

"As pessoas estão perdendo o respeito pelas medidas e não estão mais ficando em casa – há razões econômicas, mas também mentais", comentou.

A possibilidade de trabalhar a partir de casa está aberta a muito menos pessoas do que em Israel, por exemplo, para ficar na comparação entre ambos. O governo também está ciente disso. No fim da semana, Piñera anunciou mais ajudas para as pequenas e médias empresas que se depararam com dificuldades em consequência das restrições.

Mas mesmo no Chile, que é próspero dentro dos padrões regionais, muitas pessoas trabalham sem um contrato de trabalho fixo. A pressão econômica levou muitos a sairem de casa contra as instruções, explica Lidia Amarales, especialista em saúde da Universidade de Magallanes em Punta Arenas, ao La Tercera:

"Não sou a favor de culpar as pessoas. As pessoas deveriam ter recebido explicações melhores sobre do que se tratava, e as regras deveriam ser o mais compreensíveis possível. Isso foi negligenciado durante toda a pandemia."

O fato de os números de infecção terem subido tão alto agora, dizem especialistas, também pode ser devido ao fato de que as pessoas se sentiram mais seguras, tendo em vista a alta taxa de vacinação.

E como muitos vírus são absorvidos através do trato respiratório, a época do ano também desempenha um papel importante: no Chile, o inverno está apenas começando. E em 2020, foi em junho que o país experimentou sua primeira grande onda de coronavírus.