Polícia retira 78 corpos de mina ilegal na África do Sul
15 de janeiro de 2025A polícia da África do Sul encerrou uma operação de resgate em uma mina de ouro abandonada na cidade de Stilfontein, nesta quarta-feira (15/01), onde disse ter encontrado 78 corpos no local e resgatado 246 sobreviventes.
Os mineiros trabalhavam ilegalmente na mina de Buffelsfontein, de 2,5 quilômetros de profundidade, e estavam presos há meses em um dos pontos de extração de ouro mais profundos do país.
Todos os sobreviventes foram levados sob custódia, acusados por mineração ilegal e invasão após o resgate. Segundo observadores no local, muitos deixaram o local debilitados.
A operação, que teve início na segunda-feira, encerra um cerco de meses promovido pelas forças de segurança para coibir as atividades ilegais no local.
Polícia bloqueou acesso a comida e água, diz ONG
Segundo organizações da sociedade civil, a polícia teria bloqueado o acesso a suprimentos que eram levados às profundezas da mina como forma de obrigar a saída dos trabalhadores ilegais. A estratégia foi defendida por um ministro sul-africano que defendeu o isolamento da área como forma de expulsar os mineiros do local.
O cerco acontece ao menos desde agosto, afirmou o líder sindical Mametlwe Sebei, quando agentes removeram um sistema de polia usado para entregar alimentos e água.
O governo se recusou, porém, a iniciar um resgate anteriormente. Para os grupos de defesa dos direitos humanos, isso pode ter sido definidor para provocar a morte dos trabalhadores por fome ou desidratação. A operação para retirada dos garimpeiros só aconteceu após uma decisão judicial deferida na última semana.
A causa oficial da morte dos corpos encontrados ainda não foi divulgada. Grupos que acompanharam o resgate e estão em contato com familiares acreditam que ainda existam corpos na mina e que os trabalhos não deveriam ter sido encerrados.
A Federação Sul-Africana de Sindicatos também acusou o governo do país de permitir que os homens "morressem de fome nas profundezas da terra".
"Esses mineradores, muitos deles trabalhadores sem documentos e desesperados de Moçambique e de outros países da África, foram deixados para morrer em uma das mais horríveis demonstrações de negligência voluntária do Estado na história recente", disse a federação em um comunicado.
Polícia nega as acusações
A polícia nega as acusações. "Nunca bloqueamos nenhum poço. Nunca bloqueamos ninguém de sair", disse Athlenda Mathe, porta-voz nacional da polícia sul-africana, nesta quarta-feira. "Nosso mandato era combater a criminalidade e é exatamente isso que fizemos", continuou. "Se fornecessemos alimentos, água e necessidades a esses mineradores ilegais, estaríamos permitindo e incentivando a criminalidade."
As autoridades sul-africanas defendem que, ao isolar a área, a polícia não impediu os mineiros de sairem pelo poço, e que eles permaneceram no subsolo por medo de serem presos. Os ativistas, porém, disseram que a saída envolveria uma perigosa caminhada subterrânea, e muitos estavam muito fracos ou doentes pela falta de comida e água.
O argumento das autoridades foi reforçado pelo ministro de Minas do país, Gwede Mantashe. Segundo ele, a mineração ilegal custou à África do Sul mais de 3 bilhões de dólares no ano passado. "É uma atividade criminosa. É um ataque à nossa economia por estrangeiros, principalmente", disse.
Segundo a polícia, desde agosto de 2024, 1.576 mineiros saíram do local de forma autônoma até o início da operação de segunda-feira. Todos foram presos e 121 foram deportados.
O Partido da Aliança Democrática, o segundo maior da coalizão governamental liderada pelo Congresso Nacional Africano, disse nesta quarta-feira que a repressão na mina "saiu totalmente do controle" e pediu uma investigação independente.
A mineração ilegal é comum em algumas partes da rica África do Sul. Normalmente, mineradores sem documentos conhecidos como zama zamas entram em minas abandonadas por mineradores comerciais e tentam extrair o que resta. Alguns atuam sob o controle de gangues criminosas violentas.
A maioria dos mineradores encontrados em Stilfontein eram imigrantes de Moçambique, Zimbábue e de Lesoto. Apenas 21 deles eram sul-africanos, segundo a polícia.
Um tribunal decidiu em dezembro que voluntários deveriam ser autorizados a enviar suprimentos essenciais para os mineradores cercados. Uma decisão separada na semana passada ordenou que o estado iniciasse o resgate.
gq (Reuters, AP, ots)