Arte
3 de novembro de 2008"Falar sobre a pintura não é apenas difícil, como talvez até completamente sem sentido", disse certa vez o pintor Gerhard Richter. Interpretações de obras de arte costumam ser carregadas de clichês, diante dos quais Richter se irrita com facilidade. Para ele, perguntar o que um pintor "pensou ao construir uma obra" é a mesma coisa que "perguntar a Einstein o que ele pensou quando apresentou a Teoria da Relatividade. Ele não pensou, ele fez contas", diz o artista.
Lugar na história da arte
Para o colecionador de arte Bernd Lunkewitz, Richter é, há muito tempo, "o mais importante artista alemão vivo". Conhecido há mais de quatro décadas, ele atinge extamente agora, aos 76 anos, o auge de sua carreira. "Acredito que Richter garante, sem dúvida, seu lugar na história da arte. Hoje tudo possui uma outra dimensão em função da mídia e também de um mercado de arte louco", analisa Ulrich Wilmes, curador da mostra dedicada à fase abstrata de Richter no Museu Ludwig, em Colônia.
O mercado de arte se mostra, de fato, completamente insano quando o assunto é Gerhard Richter – o pintor mais caro da atualidade. Sua obra Kerze (Vela) foi leiloada em fevereiro deste ano pelo valor recorde de mais de 10 milhões de euros.
"O ápice acontece no mercado secundário, em leilões, quando a arte é negociada como uma ação da bolsa", diz Wilmes. Para o artista, esse fenômeno acaba sendo apenas periférico, pois ele certamente não se coloca em frente a uma tela consciente de que vai pintar um quadro que custará 500 mil euros ou 1 milhão, acredita o curador.
Continuidade e renovação
Richter vem sendo escolhido com freqüência "o mais famoso artista plástico vivo do mundo". Pintura abstrata, fotografia pincelada com tinta ou seu famoso vitral na Catedral de Colônia, tudo o que ele faz se torna notícia e custa milhões. "Por um lado é a continuidade de seu trabalho e, por outro, são a renovação e mudança constantes, a dinâmica que fascinam em sua obra. Ele não se curva a um só estilo", comenta Wilmes.
Mas mesmo longe da insanidade dos marchands e da cena elitista da arte, Gerhard Richter é reconhecido. As exposições de suas obras costumam causar filas nas portas dos museus. No momento, o Museu Ludwig, de Colônia, expõe, pela primeira vez, uma retrospectiva da fase abstrata do artista. A mostra atrai todo tipo de público, de crianças pequenas a grupos de estudiosos ou idosos.
Sua obra dispensa, contudo, qualquer detalhismo de interpretação. Afinal, nem mesmo o próprio artista gasta muitas palavras para descrever seu trabalho. Quando o vitral da Catedral de Colônia ficou pronto, Richter foi convidado a comentar o resultado. "Está ótimo assim", concluiu, lacônico, o pintor.