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Peshmerga vendem armas militares alemãs no mercado negro

22 de janeiro de 2016

Com dificuldades financeiras, combatentes curdos no norte do Iraque comercializam armamento enviado pela Bundewehr para o combate contra o "Estado Islâmico". Muitos financiam assim suas fugas à Alemanha.

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Militar alemão treinando combatente peshmerga com um rifle de assalto G3Foto: picture-alliance/Foto: Bundeswehr/S. Wilke

Rifles de assalto e pistolas do estoque da Bundeswehr (Forças Armadas alemãs) estão sendo vendidas no mercado negro por combatentes peshmerga no norte do Iraque. Segundo relatos da imprensa alemã, publicados nesta quinta-feira (21/01), os combatentes estariam vendendo as armas depois de não terem sido pagos por vários meses.

Repórteres das emissoras alemãs NDR e WDR encontraram vários fuzis G3 e uma pistola P1 com gravuras das iniciais "BW" de Bundeswehr nas cidades de Erbil e Sulaymaniyah. As armas aparentemente vieram de um estoque que Berlim entregou ao governo autônomo curdo no norte do Iraque. O armamento foi enviado para apoiar os combatentes peshmerga na luta contra a organização extremista "Estado Islâmico" (EI).

De acordo com as investigações dos jornalistas alemães, os combatentes peshmerga venderam suas armas após não terem recebido seus salários por vários meses devido à difícil situação econômica do Iraque.

Venda de arma financia fuga à Alemanha

A reportagem cita um curdo que vendeu a sua arma – no caso dele um rifle russo Kalashnikov – e fugiu com sua família à Alemanha. Ele recebeu 1.800 dólares americanos pela arma, mas um primo dele conseguiu vender uma G36 – arma alemã – por 4 mil dólares. Os preços no mercado negro, no entanto, caíram significativamente – a oferta é imensa, segundo ele.

O homem disse ter lutado por quase 30 anos com os peshmerga e que foi um dos muitos combatentes treinados por militares alemães. Ele afirmou ainda conhecer ao menos outros cem peshmerga que venderam suas armas nos últimos meses para fugirem do Iraque.

A situação se tornou insuportável para muitos. O baixo preço do petróleo, a falta de pagamentos por parte do governo central iraquiano e a luta contra o EI, que consome cerca de 5 milhões de dólares diariamente, levaram o governo autônomo curdo à beira da falência.

Ele próprio deixou de receber durante cinco meses e não sabia como pagar aluguel, alimentação e medicação para sua filha deficiente. Agora ele vive com sua esposa e os seis filhos num lar para requerentes de asilo no leste alemão.

Oposição expressou preocupações

Vários partidários do Partido Verde e da A Esquerda há bastante tempo têm expressado preocupações no Parlamento alemão apontando que as armas entregues aos combatentes peshmerga poderiam cair em mãos erradas.

No ano passado, a Bundeswehr já teve de reconhecer não saber quais unidades dos peshmerga receberam suas armas. Até meados de 2015, Berlim enviou aproximadamente 12 mil fuzis G3, 8 mil fuzis G36 e 8 mil pistolas P1, além de vários milhões de cartuchos de munição, metralhadoras, granadas, bazucas, entre outros equipamentos militares. A decisão de enviar armas ao Iraque era tabu naquela época. Até então, reinava a regra na Alemanha de que o país não forneceria armas para regiões em crise.

O governador da província de Kirkuk, Nadshmeddin Karim, confirmou as alegações, dizendo às emissoras alemãs que o governo curdo não possui as receitas necessárias para pagar regularmente os funcionários públicos, incluindo combatentes peshmerga.

Em reação às reportagens, o Ministério da Defesa da Alemanha afirmou que o governo do Curdistão do Iraque é responsável pelas armas, acrescentando que ele tinha "se comprometido em verificar a correta entrega das armas" e de utilizar os suprimentos de acordo com o direito internacional. Rastrear armas individualmente por forças alemãs nunca foi a intenção e nem seria possível.

PV/afp/ots