Pequenos agricultores do Marrocos sofrem com escassez de água
6 de novembro de 2012Os habitantes de Suz, região da cordilheira do Atlas, sempre viveram da agricultura. Eles plantam principalmente cereais e comida para seu gado. Porém muitos dos poços tradicionais, onde os pequenos agricultores pegavam água para suas plantações, secaram. Um dos motivos é a agricultura em larga escala, cujas estufas e sistemas de bombeamento literalmente rouba a água dos outros produtores.
"Muitos agricultores perderam seu meio de subsistência com o bombeamento da água subterrânea, pois o nível do lençol freático caiu tanto, que os poços tradicionais não o alcançam mais", observa Jürgen Gräbener. Ele trabalha no Marrocos para a empresa alemã de consultoria Eco Consult, e conhece a situação da região, onde o nível dos lençóis freáticos cai quase três metros, a cada ano.
Antigamente os agricultores não precisavam cavar muito, para chegar até a água, já que o nível do lençol freático era de cerca de dez metros. Hoje é muito mais difícil irrigar os campos. A água provém de mais de 200 metros de profundidade, e as grandes empresas agrárias são praticamente as únicas que ainda conseguem utilizá-la. Nesta região seca, os açudes já estão vazios antes do fim da estação, a água não basta para a agricultura intensiva.
Grandes empresas x pequenos agricultores
Esta forma de exploração de recursos se desenvolveu nos últimos 30 anos, quando o Marrocos começou a adaptar sua política à economia mundial, com a suspensão das barreiras às importações e o corte de subsídios. "A agricultura de larga escala em estufas é o principal fator de exportação em todo o Marrocos, o mais importante fator para a economia da região", disse Jürgen Gräbener. Todos os anos, quase 700 mil toneladas de verduras são produzidas na planície de Suz, em grande parte destinadas ao mercado europeu.
Os pequenos agricultores pouco lucram com esses números. Nos últimos anos, eles têm protestado repetidamente contra o avanço da agricultura em larga escala, causa da deterioração de suas condições de vida. Afinal, não é apenas a água que escasseia. Como perderam suas terras, muitos precisam trabalhar como assalariados, em más condições.
As perspectivas não são nada positivas para os agricultores. O plano oficial do governo é continuar expandindo a região de Suz nos próximos anos, tornando-a um dos mais produtivos centros agrícolas, capaz de competir com outros, em nível internacional.
De olho no futuro
Sem uma melhor gestão hídrica, isso não será possível. Para este fim, 52 mil hectares de terra terão sua utilização redefinida. Onde até agora eram plantados cereais, serão cultivadas azeitonas, que consomem de menos água. "Produzir mais água" é a meta, explica Jürgen Gräbener. "Com esse fim, haverá no futuro duas usinas de dessalinização, e serão construídas mais barragens de médio e pequeno porte." As tecnologias modernas são, portanto, a chave para a solução do problema.
Para poder continuar cultivando, apesar dessas instalações gigantescas, muitos agricultores estão adotando a chamada irrigação por gotejamento. Nela, as plantas recebem pequenas quantidades de água, de forma automatizada. Este método é considerado um meio comprovado para manter viva a agricultura.
Para os especialistas está claro: não é possível renunciar á tecnologia moderna. Porém ao mesmo tempo apelam para que não se esqueça a tradição, a fim de que se possa praticar uma agricultura intensiva a longo prazo, numa região tão árida. A questão é comparável ao debate sobre a energia nuclear na Alemanha, diz Jürgen Gräbener. "Hoje, não temos nenhuma alternativa, mas temos que ver como nos livraremos [da energia nuclear], a longo prazo."
Até lá, ele espera que os poços tradicionais do Marrocos não tenham todos secado.
Autoria: Mabel Gundlach (aks)
Revisão: Augusto Valente