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Parentes de vítimas da covid-19 na Itália processam governo

11 de junho de 2020

É a primeira ação coletiva do tipo na Itália. Familiares acusam autoridades de negligência e erros na gestão da pandemia. "Não queremos vingança, queremos justiça."

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Italien Poster für Solidarität in Bergamo
A cidade de Bérgamo, uma das mais antigidas pela covid-19 na ItáliaFoto: Imago Images/Independent Photo Agency Int./S. Agazzi

Um grupo de parentes de vítimas do coronavírus entrou nesta quarta-feira (10/06) com uma queixa contra as autoridades de Bérgamo, no norte da Itália, por negligência e erros na gestão da pandemia que matou mais de 34.000 pessoas no país.

É a primeira ação legal coletiva do tipo movida no país, um dos mais atingidos pelo coronavírus no mundo.

"Não queremos vingança, queremos justiça", disse Stefano Fusco, um dos fundadores do grupo. "Vamos denunciar. Verdade e justiça para as vítimas da covid-19", disse. A doença matou seu avô em março em um asilo.

Acompanhados por advogados e membros do comitê, os parentes apresentaram 50 queixas ao Ministério Público em Bérgamo, a cidade símbolo da pandemia na Itália, "porque se tornou o símbolo dessa tragédia, embora sejam de todo o país", explicou.

A página no grupo no Facebook, que em apenas dois meses teve mais de 50.000 adesões, tornou-se um comitê nacional, com advogados que estudam apresentar outras 150 queixas, disse Fusco.

Os familiares acusam as autoridades de terem demorado a declarar a cidade como "zona vermelha", algo que a associação, assim como alguns partidos e sindicatos, atribuem ao fato de que os interesses econômicos prevaleceram sobre os da saúde, por ser uma zona industrial próspera.

O Ministério Público de Bérgamo já abriu uma investigação sobre o caso e ouviu os depoimentos de políticos, incluindo o governador da Lombardia, Attilio Fontana, e seu consultor para a Saúde, Giulio Gallera.

Os familiares também questionam a política de cortes que nos últimos anos afetou o sistema de saúde.Alguns parentes relataram as tragédias sofridas, devido à falta de informações ou à falta de cuidados durante a emergência de saúde.

O MP deve agora decidir se existem elementos para a abertura de um julgamento.

Cristina Longhini, farmacêutica que perdeu o pai Claudio, 65 anos, durante a pandemia espera descobrir a verdade sobre a morte dele em um hospital de Bergamo.

"Meu pai havia acabado de se aposentar, estava em boas condições físicas, quando começou a apresentar sintomas, febre, disenteria e vômito", disse ela à imprensa.

"Quando ele morreu, esqueceram de nos notificar", lamenta Longhini, que mais tarde precisou identificar o corpo.

"Ele estava irreconhecível, sua boca estava aberta, seus olhos estavam inchados, ele tinha lágrimas de sangue nas órbitas", lembra Longhini.

"Eles me entregaram seus objetos pessoais em um saco de lixo, incluindo roupas manchadas de sangue, testemunho de seu sofrimento e também infectada", relata.

Como os cemitérios locais estavam cheios, o caixão foi transportado, juntamente com vários outros, em um caminhão militar para um destino desconhecido da família, que finalmente descobriu o que havia acontecido quando recebeu pelo correio a conta de funerária a 200 quilômetros de distância pelo processo de cremação.

"Queremos saber, ponto por ponto, como foi o tratamento na emergência, os erros, responsabilidades", explicou à imprensa o presidente do comitê, Luca Fusco (pai de Stefano).

"Para o povo de Bergamo, para todos os que perderam um ente querido, pedimos justiça", diz Laura Capella, 57 anos, membro do comitê que, como os outros parentes, não pretende obter indenização.

JPS/rt

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