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Pandemia faz pilotos trocarem avião por trens na Europa

Andreas Spaeth
30 de maio de 2021

Crise no setor aéreo faz pilotos buscarem emprego junto a companhias de trens, bondes e até de ônibus, que há anos estão em busca de novos funcionários.

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Lokführer bei der Bahn
Foto: Arne Dedert/dpa/picture-alliance

A situação da aviação mundial continua precária devido à pandemia. Até agora, só na Europa, um terço de todos os aviões comerciais de passageiros permaneceram em solo. A principal companhia aérea alemã, a Lufthansa, anunciou em 4 de maio que operou 81% menos voos do que no mesmo dia em 2019. E a maioria desses 306 voos era exclusivamente para carga.

Durante a pandemia, as restrições de viagem têm sido um pesadelo para pilotos e copilotos, colocando em risco os empregos de milhares de pessoas. A EPA (associação europeia de pilotos) diz que, dos cerca de 65 mil funcionários de cabine de pilotagem na Europa antes da pandemia, até 18 mil poderiam perder permanentemente seus empregos. Só a Lufthansa poderá ser forçada a demitir 1.200 funcionários de cockpit no próximo ano.

Uma pesquisa divulgada no início deste ano com quase 2.600 pilotos em todo o mundo, conduzida pela GOOSE Recruitment e pelo portal FlightGlobal, revelou que apenas 43% estavam fazendo o trabalho para o qual haviam sido treinados. Outros 30% estavam desempregados, 17% estavam suspensos de suas funções e 10% em funções não relacionados diretamente ao voo. Cerca de 82% dos participantes estavam dispostos a aceitar cortes salariais em troca de um novo emprego.

Saída no transporte terrestre

Enquanto a crise da aviação está longe de terminar, os pilotos encontraram uma demanda por suas habilidades nas empresas de transporte terrestre. As companhias ferroviárias na Alemanha, Áustria e Suíça estão procurando desesperadamente maquinistas profissionais. Assim como as autoridades de transporte público em Hong Kong e os operadores de ônibus fretados na Austrália. Como resultado, cada vez mais pilotos de linha aérea estão trocando de emprego.

Mesmo antes do início da pandemia, a operadora ferroviária alemã Deutsche Bahn estava encontrando dificuldade de cumprir os horários dos trens devido à falta de motoristas. A operadora suíça SBB até lançou campanhas de recrutamento em outros países europeus, mas com pouco sucesso. Agora, com cada vez mais pilotos de aviação desempregados, a sorte da empresa pode estar se virando.

Pilotos são geralmente considerados como bem treinados, resilientes e confiáveis - as mesmas qualidades profissionais exigidas dos maquinistas de trem. A Deutsche Bahn disse recentemente à agência de notícias alemã DPA que recebeu candidaturas de 1.500 ex-pilotos e comissários de bordo, dos quais tinha contratado até agora cerca de 280, incluindo 55 pilotos e 107 tripulante de cabine.

"As tarefas são semelhantes"

Dennis Seidel trabalhou por dez anos como piloto para a LGW, uma subsidiária da antiga companhia aérea alemã Air Berlin. Em entrevista ao portal Ailiners.de, ele disse que tornar-se piloto era seu sonho de infância, que terminou abruptamente quando a empresa quebrou em meio à pandemia. Sua opção foi foi passar a pilotar trem.

Seidel está atualmente em treinamento como maquinista na Deutsche Bahn - um processo de qualificação que pode levar de 10 a 12 meses e está focado principalmente em como os motores dos trens funcionam e são operados. "A julgar pelo que você está realmente fazendo, as tarefas são bastante semelhantes. Os maquinistas de trem têm um trabalho igualmente responsável como pilotos", disse Seidel. A grande diferença, segundo ele, é que os maquinistas ficam sozinhos, sem um copiloto, e há mais passageiros em um trem de alta velocidade do que em um avião.

Felician Baumann, de 27 anos, de Hamburgo, também teve que reorientar sua carreira durante a pandemia, pouco depois de terminar o treinamento de piloto com a Austrian Airlines. Como a pandemia reduziu substancialmente suas chances de se tornar piloto, ele decidiu tornar-se um motorista de bonde com a operadora de transporte público Wiener Linien, sediada em Viena. "A tarefa em ambas as profissões é levar um número similar de passageiros de A a B com segurança", disse Baumann em um vídeo no YouTube postado por seu empregador.

A história de Baumann se tornou viral no país alpino. Surpreendentemente, a diferença salarial entre um piloto e um motorista de bonde de Viena "não é tão significativa", explicou Baumann a um jornal local. "Agora, ganho apenas um pouco menos do que teria ganho como piloto júnior".

Maquinistas ganham mais de 50 mil euros por ano

De acordo com os números da Deutsche Bahn, maquinistas de trem totalmente qualificados ganham de 44.000 a 52.500 euros anualmente, incluindo bônus e outros pagamentos. Em comparação, os pilotos da Lufthansa em seu primeiro ano recebem salários base de cerca de 65 mil euros – cifra que muitas companhias aéreas reduziram durante a pandemia. O salário anual dos primeiros pilotos, com mais de 20 anos de experiência profissional, é cerca do dobro.

Outros pilotos têm uma história diferente sobre cortes salariais para contar. Earnest Li, de Hong Kong, foi comandante de Airbus durante 19 anos antes da Cathay Dragon ter falido, no final do ano passado. Agora o piloto veterano dirige um ônibus de dois andares e tornou pública sua mudança de carreira no Facebook em dezembro.

"Hoje todos estão por baixo, mas não é culpa nossa. Ainda somos os melhores pilotos", disse ele, antes de revelar que agora ganha 17.400 dólares de Hong Kong (2.180 euros) por mês. É um valor baixo em comparação com os 175 mil dólares de Hong Kong que ele recebia como capitão.

O destino de Li é atualmente compartilhado por muitos funcionários de companhias aéreas ao redor do mundo, incluindo 13 ex-pilotos da Qantas, que antes pilotavam o Airbus A380 superjumbo e agora transportam turistas pela Austrália em ônibus de excursão fretados.