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Panamenhos vão às urnas sob a sombra da Odebrecht

5 de maio de 2019

Eleitores vão escolher novo presidente e nova composição do Parlamento. Classe política do Panamá foi sacudida nos últimos anos por escândalos envolvendo empreiteira brasileira.

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Panama Wahl 2019 | Stimmabgabe in Panama City
Panamenhos em uma seção eleitoral na capital do país. Escândalos de corrupção minaram confiança dos eleitores na classe política localFoto: Reuters/C. Jasso

O Panamá realiza neste domingo (05/05) suas eleições gerais. O resultado do pleito presidencial ainda é imprevisível por causa da entrada recente de um candidato independente entre os favoritos e dos efeitos de uma série de escândalos de corrupção envolvendo a empreiteira brasileira Odebrecht que sacudiram o mundo político do país.

Cerca de 2,7 milhões de panamenhos devem eleger o sucessor do presidente Juan Carlos Varela, que registra popularidade muito baixa devido à desaceleração econômica, escândalos de corrupção e a crise em setores como saúde e justiça.

Estão ainda disputa as 71 vagas no Parlamento nacional, 20 assentos no Parlamento da América Central, 679 representantes locais e nove conselheiros.

Todos os eleitos têm um período de cinco anos de serviço no seu respetivo cargo.

Sete candidatos aspiram à Presidência, mas as pesquisas de intenção de voto apontam como favoritos o empresário pecuarista Laurentino Cortizo (Partido Revolucionário Democrático, social-democrata) e o ex-chanceler e advogado Rómulo Roux (Mudança Democrática, direita). Em terceiro lugar, aparece o independente Ricardo Lombana, que capitalizou a insatisfação com a corrupção da classe política.

Na pesquisa do instituto espanhol GAD3, publicada há algumas semanas pelo jornal La Prensa, Cortizo tinha intenção de voto de 27,9%, Roux de 16,9% e Lombana de 15,3% (com 2,9 pontos de margem de erro), enquanto indecisos somavam 15,2%.

"Acho que a poucos dias das eleições ainda há muita gente indecisa e, portanto, em 5 de maio qualquer coisa pode acontecer", disse à Rita Vásquez, diretora do jornal La Prensa.

O Panamá foi afetado nos últimos anos por escândalos como os chamados "Panama Papers" e as propinas da empreiteira brasileira Odebrecht, o que levou a população a um desinteresse total pela política.

Esse tédio favorece um aumento nas chances de Lombana, que alcançou o terceiro lugar na corrida presidencial com um discurso feroz contra a corrupção e a liderança partidária.

A Odebrecht reconheceu ter pagado pelo menos 59 milhões de dólares em propinas no Panamá entre 2010 e 2014 e concordou em pagar uma multa de 220 milhões de dólares ao país em 12 anos e colaborar com a Justiça, no âmbito de um acordo alcançado entre o Ministério Público brasileiro e o panamenho.

Este acordo estabelece o pagamento da multa, imunidade para os executivos da Odebrecht no Panamá, a revelação do esquema de corrupção usado pela empresa e dos nomes de todos os envolvidos nos atos de corrupção. No entanto, uma das cláusulas desagradou parte dos panamenhos: como parte do acordo, a Odebrecht pode continuar a fazer negócios com o Estado.

Desde 2005, A Odebrecht executou 17 projetos, entre rodovias, estradas, linhas de metrô, hidroelétricas ou reformas urbanas por um montante aproximado de 10 bilhões de dólares.

Em meio à campanha, vários grupos expressaram pedidos por mudanças nas leis de licitações públicas do Panamá, a fim de evitar que a Odebrecht faça novos negócios. Os principais candidatos presidenciais também endossaram essa mudança. "O que a Odebrecht fez na América Latina e no Panamá não pode ser perdoado", disse Cortizo em uma entrevista recente. "Empresas condenadas, esqueçam o Panamá!"

Mas o presidente Juan Carlos Varela vem se recusando a cancelar contratos com a Odebrecht. No mês passado, Varela posou para fotografias com trabalhadores após inaugurar o mais recente megaprojeto da empresa - um sistema de monotrilho elevado na Cidade do Panamá.

Campanha enfadonha

Após o golpe militar de 1968, que colocou no poder o general Omar Torrijos, e durante o governo de fato do ex-ditador Manuel Antonio Noriega, o debate político no Panamá se concentrou em defender ou criticar o governo militar.

Depois da invasão americana de 1989, que pôs fim à ditadura de Noriega, as eleições também foram protagonizadas por partidos representativos dessas antigas rivalidades, até a vitória do ex-presidente Ricardo Martinelli em 2009.

Agora, a realidade é muito diferente, afirmam analistas. "É a campanha mais enfadonha, mais sem graça, mais controlada e mais amarrada", disse o diretor do jornal Metro Libre, James Aparicio, que cobre as eleições panamenhas desde os anos 1980. Para o diretor dos serviços de informação da Rádio Panamá, Edwin Cabrera "esta campanha é absolutamente atípica em comparação a tudo o que vimos antes".

JPS/rt/afp/ots

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