Otan x Rússia
26 de abril de 2007Em pronunciamento anual à nação nesta quinta-feira (26/04), o presidente russo Vladimir Putin surpreendeu os países ocidentais, ao questionar o Tratado de Armas Convencionais na Europa, , propondo uma moratória unilateral.
Assinado em 1990 pelos países então pertencentes à Otan e ao Pacto de Varsóvia, o tratado entrou em vigor dois anos mais tarde. Ele prevê uma redução de determinados tipos de armas como canhões e aviões de guerra, e foi adaptado em 1999, após a dissolução do Pacto de Varsóvia e a ampliação da Otan. Os países-membros da aliança militar, no entanto, ainda não o ratificaram até hoje.
Longa história
A Rússia e os países ocidentais discutem há anos questões relacionadas à aplicação do tratado, com um lado acusando o outro de estar agindo de má fé.
Putin aproveitou a reunião dos países-membros da aliança em Oslo, com o fim de definir a instalação do escudo antimísseis no Leste Europeu, e alfinetou os que não ratificaram o tratado. "Já é tempo de nossos parceiros darem sua contribuição para a redução de armas, não apenas em palavras, mas de fato", declarou o presidente.
A sugestão de Putin é que a moratória do tratado vigore até que "os outros membros da Otan, sem exceção", também o ratifiquem. A declaração é uma reação aos planos dos EUA de instalarem um sistema antimísseis na Polônia e na República Tcheca. "Nossos parceiros comportam-se de maneira incorreta", disse o presidente russo, ao acentuar que os pontos militares dos Estados da Otan estão se aproximando cada vez mais da fronteira russa.
A secretária norte-americana de Estado, Condoleezza Rice, havia criticado no mesmo dia a rejeição da Rússia ao escudo antimísseis como "um absurdo completo". Antes do encontro da Otan em Oslo, iniciado nesta quinta-feira, Rice declarara que Moscou teria "milhares de mísseis estacionados". Os EUA estão, segundo ela, interessados num "diálogo aberto" com Moscou, mas a partir de premissas "realistas".
Discutir abertamente
O secretário-geral da Otan, Jaap de Hoop Scheffer, afirmou em Oslo que as declarações de Putin estão sendo discutidas no encontro da aliança militar, do qual participa o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov. "Espero que ele explique as palavras de seu presidente", disse Scheffer, salientando, contudo, que as declarações de Putin são um estímulo a "discussões completamente abertas" sobre o assunto.
Antes do início do encontro, o ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, também presente em Oslo, havia acentuado a importância para Berlim de manter boas relações com a Rússia e de encontrar soluções conjuntas para os problemas comuns.
Outras divergências
Durante o encontro na capital norueguesa, as arestas entre a Rússia e países ocidentais não estarão presentes apenas em relação ao sistema antimísseis. As divergências vão ainda além: Moscou acusa "governos estrangeiros" de estarem "se intrometendo em questões internas" do país. De acordo com o presidente, algumas nações tentam, através de uma "retórica pseudo-democrática", minar a independência política e econonômica da Rússia.
Outro ponto de discórdia é o destino do Kosovo. Tradicionais aliados dos sérvios, os russos se opõem terminantemente à independência da província, muito devido ao temor de que as reivindicações de autonomia se espalhem pela região do Cáucaso. Rice e outros representantes europeus, contudo, afirmam que, sem a concessão da independência à região, os conflitos entre sérvios e albaneses pode voltar a escalar. (sv)