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Os olhos da Stasi

(rr)5 de abril de 2005

O serviço secreto da RDA contava com uma arma especial: a máquina fotográfica. Opositores, artistas, mas também cidadãos comuns caíram na mira de suas lentes. Livro analisa mais de 1,4 milhão de fotos.

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Espionagem documentada não só em papelFoto: AP

"A fotografia nas mãos de um tchequista é uma poderosa arma contra o inimigo" – assim estava escrito em um manual da Stasi, o serviço secreto da ex-Alemanha Oriental.

De fato, trata-se de uma arma usada copiosamente pelos membros da organização de espionagem do Partido Comunista, cuja denominação interna foi derivada diretamente do serviço secreto soviético, informalmente chamado de Tcheca. A historiadora Karin Hartewig avaliou as mais de 1,4 milhão de fotos feitas pelas câmeras da Stasi.

"Essas imagens foram feitas, em sua maioria, a partir do começo da década de 70", explica Hartewig. Nos anos 50, a Stasi restringia seus métodos a denúncias, prisões rápidas, confissões forçadas e outros processos secretos. "Os especialistas da violência bruta ainda tinham que aprender o penoso trabalho da observação e documentação secretas", escreveu Hartewig em seu livro O olho do partido.

Stasi Akten von Helmut kohl
Atas sobre ex-premiê Helmut Kohl foram abertas a pesquisadores e jornalistas em março de 2005Foto: AP

Nos anos 60, os "paparazzi da Stasi" já haviam aperfeiçoado suas técnicas e tiravam fotos nas mais diversas situações. As câmeras eram escondidas em bolsas femininas, barrigas falsas, regadores em cemitérios ou até instaladas em portas de automóveis.

Para espionar políticos da Alemanha Ocidental e homens de negócios, os fotógrafos da Stasi não hesitavam em perfurar paredes de hotéis ou instalar suas objetivas nos pontos de passagem para Berlim Ocidental ou mesmo na representação oficial da Alemanha Ocidental em seu território.

Cidadãos eram principais vítimas

Mas na mira das lentes da Stasi estavam mesmo cidadãos da República Democrática Alemã (RDA) que se opunham à concepção de "vida socialista" imposta pelo partido único.

"Roqueiros, artistas e intelectuais contrários ao sistema, punks e skinheads atraíam o interesse dos fotógrafos", descreve Hartewig. Nos arquivos do órgão que atualmente administra o material da Stasi, a historiadora encontrou álbuns inteiros de dissidentes que não podiam ser presos por serem famosos.

Stasi Archiv in Berlin
Arquivos da Stasi em BerlimFoto: AP

Um deles era o crítico do regime Robert Havemann. "Ele vivia sob perseguição", conta Hartewig. Do terreno vizinho, espiões controlavam sua casa nos arredores de Berlim. Cada visitante era fotografado e, em cada ida à cidade, os fotógrafos o perseguiam. A autora encontrou um álbum com mais de 50 fotos suas.

"Até mesmo seu enterro foi uma orgia de vigilância", conta. Naquele 17 de Abril de 1982, os convidados foram fotografados já ao desembarcar na estação de trem. Um círculo vermelho em volta do rosto apontava jornalistas da Alemanha Ocidental. Assim, a Stasi tentava obter uma vista geral dos círculos da resistência no começo da década de 80.

Espionagem descarada

Os espiões nem sempre cuidavam para que seu trabalho passasse despercebido. Muitas vezes, disparavam suas câmeras sem disfarçar, de modo a intimidar a vítima. Além de membros da oposição e jovens rebeldes, cidadãos que haviam requerido vistos de viagem caíram na mira da Stasi.

Schauspieler und Sänger Manfred Krug
O ator Manfred KrugFoto: AP

Famosos como o ator Manfred Krug foram fotografados secretamente nas proximidades da fronteira. Quem fosse pego tentando fugir, tinha que se submeter a uma humilhante reconstituição da cena da fuga só para que o fato pudesse ser registrado pelas lentes da Stasi.

Hoje, as fotos são de grande importância para a história recente da RDA, pois contém detalhes não apenas da oposição, mas do cotidiano na Alemanha Oriental. E, claro, do funcionamento da própria organização. Afinal, eventos internos também eram muitas vezes registrados. "Especialmente o caráter pequeno-burguês e careta dessas comemorações, que quase sempre acabavam em bebedeira, me irrita", critica Hartewig.

Título: Das Auge der Partei. Fotografie und Staatssicherheit

Autora: Karin Hartewig

Editora: Ch. Links, Berlim