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Vítimas do voo PS 752 merecem transparência

10 de janeiro de 2020

Se o avião ucraniano tiver sido derrubado pelo Irã, as vítimas são um alerta amargo tanto para Teerã como para Washington. Mais uma vez, seriam os civis inocentes a pagar o preço do confronto, opina Matthias von Hein.

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Flores no chão diante de mesa com velas e retratos
Homenagem às vítimas da queda do voo PS752Foto: Getty Images/AFP/S. Supinsky

É difícil acreditar que 2020 tenha apenas dez dias, principalmente no Golfo Pérsico. Nestas nem 300 horas, o mundo já foi quase à beira da guerra e – pelo menos temporariamente – voltou. Além disso, há que lamentar a trágica queda do voo PS 752, com a morte de todos seus 176 ocupantes.

A tragédia, e especialmente sua causa, levanta muitas questões. No entanto as acumulam-se as indicações de que o avião foi abatido por um lançamento não intencional da defesa aérea iraniana. Mas o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, não é o único a querer ver provas, antes de aceitar essa versão. Quando uma situação é tão acalorada quanto no Golfo Pérsico, informações de agências de inteligência devem sempre ser encaradas com uma boa dose de ceticismo.

Entretanto o cenário é bastante plausível. Logo após o ataque de retaliação iraniano contra alvos dos EUA no Iraque, a defesa aérea iraniana tinha que estar preparada para um contra-ataque americano, e devia estar altamente nervosa. É perfeitamente concebível que alguém sob estresse tenha tomado uma decisão fatídica e errada. O que levanta a questão: como, diante da situação, as autoridades iranianas mantiveram aberto o aeroporto da capital, deixando aeronaves civis decolarem e pousar, como se nada tivesse acontecido?

Até agora Teerã rejeitou a versão do lançamento de míssil. O desmentido, no entanto, seria mais convincente se todos os investigadores tivessem acesso ao local da queda. Para obter credibilidade, o Irã deve garantir transparência total. O país deve isso às famílias das vítimas e à comunidade mundial. Uma politização do acidente em qualquer direção seria inadmissível.

Um bom sinal é Teerã ter agora convidado especialistas do fabricante americano de aeronaves Boeing para ajudar na investigação do ocorrido. Por causa das sanções dos EUA, no entanto, os especialistas precisam primeiro de uma permissão especial do Departamento do Tesouro em Washington. Um bom sinal é também as declarações sobre a catástrofe pelo presidente dos EUA, Donald Trump, serem extremamente conciliadoras – para os padrões dele. "Talvez alguém tenha cometido um erro", disse na Casa Branca.

Se o avião de passageiros tiver sido derrubado acidentalmente pela defesa aérea iraniana, as 176 vítimas seriam um alerta amargo tanto para Teerã como para Washington: quem toma o rumo do enfrentamento não tem mais controle sobre o caminho a que ele leva. E são os civis inocentes que acabam pagando o preço, como em tantos outros casos.

Por isso é importante a diplomacia europeia de crise entrar em ação. Agora. Após a moderada retaliação de Teerã pelo assassínio do general Soleimani por um drone americano e a reação igualmente moderada de Washington a ela, o momento parece favorável. Mas pode passar logo.

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