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Justiça

12 de novembro de 2009

Alex W., acusado de ter assassinado a farmacêutica egípcia Marwa El-Sherbini por motivos xenófobos em julho último, foi condenado à prisão perpétua. Um veredicto que não deixa margem de dúvidas, opina Rainer Sollich.

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O assassinato de Marwa El-Sherbini não foi interpretado somente por fanáticos incorrigíveis como expressão de uma atmosfera avessa ao Islã na Alemanha. Reações altamente emocionais deste tipo houve também entre a maioria muçulmana no Egito, na Alemanha e em outros países, que rejeita consequentemente toda forma de extremismo.

Muitos alemães, contudo, não conseguiam reconhecer no homicídio nada além de um caso extremo e isolado. Eles surpreenderam-se com as reações impetuosas de muitos muçulmanos, considerando-as simplesmente exageradas e irracionais.

Contudo, o tribunal não teve que decidir sobre a pertinência dessas reações ou sobre o grau de hostilidade contra o Islã na sociedade alemã, mas sim pronunciar um veredicto sobre um caso concreto de homicídio e as razões que o motivaram. Esse veredicto foi pronunciado com toda clareza: o assassino foi condenado à pena máxima e terá que passar o resto de sua vida atrás das grades. Mesmo uma libertação antecipada parece praticamente impossível.

Com o veredicto, o tribunal, a princípio, deixou claro apenas algo evidente: na Alemanha, crimes ou homicídios de motivação xenófoba não são nem negligenciados nem tolerados, mas punidos com a maior rigidez jurídica possível.

No entanto, dois pontos continuam não esclarecidos. De um lado, para muitos muçulmanos continuará sendo incompreensível o fato de que, especialmente num país seguro como a Alemanha, um criminoso tenha podido entrar em um tribunal portando uma faca.

De outro, a percepção completamente distinta do assassinato por muçulmanos e não muçulmanos deve ser refletida. De forma menos contundente e, por sorte, menos violenta, tornou-se novamente evidente a profunda incompreensão mútua que já havia aflorado em 2006 no conflito das caricaturas de Maomé e mais tarde após o polêmico discurso do papa em Regensburg.

Do lado islâmico, houve infelizmente muito poucas vozes moderadoras, que atentassem para o fato de que muçulmanos na Alemanha não são discriminados por parte do Estado nem propositalmente abandonados à mercê de criminosos violentos.

E, infelizmente, também do lado alemão houve muito poucas vozes que reconheceram que o problema é ainda mais profundo: enquetes representativas comprovam que, em certos setores da sociedade alemã, existe uma grande desconfiança, muitos temores e também uma aversão aberta em relação ao Islã. A sociedade alemã deve agora debater essa questão de forma verossímil também para os muçulmanos.

Autor: Rainer Sollich
Revisão: Rodrigo Rimon