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Cáucaso

1 de outubro de 2009

O atual relatório sobre a guerra no Cáucaso não surtirá muitos efeitos para a Geórgia e a Rússia especificamente, mas deveria gerar na UE um processo de reflexão, analisa Ingo Mannteufel.

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A diplomata suíça Heidi Tagliavini e sua equipe internacional fizeram um trabalho excelente. Em relatório apresentado nesta quarta-feira (30/09), em Bruxelas, sobre as razões e o decurso da guerra de cinco dias entre a Rússia e a Geórgia, em agosto de 2008, chegou-se a um resultado convincente, pois diferenciado: o de que a guerra foi iniciada pela Geórgia, na noite do 7 para o 8 de agosto; embora boa parcela de culpa pese sobre a Rússia, por haver provocado ao longo de meses. Além disso, durante o conflito, o país haveria atentado contra o Direito Internacional.

A União Europeia – que em dezembro de 2008 encomendara esse relatório baseado em investigações independentes, sob sugestão do ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier – tampouco fica isenta de culpa: segundo o relatório, o bloco europeu tentou evitar demasiado tarde e timidamente o conflito que ardia desde o primeiro semestre de 2008.

Adesão dividida

Apesar desse resultado equilibrado, devem permanecer as divergências de opinião sobre a guerra entre a Rússia e a Geórgia. Mesmo que os especialistas do mais alto escalão que formaram a comissão para o Cáucaso tenham conseguido conversar com quase todos os envolvidos, durante suas pesquisas em Moscou, Tbilisi, Tskhinvali e Sokhumi, as interpretações são distintas. Cada lado vê suas próprias convicções até certo ponto confirmadas pelo relatório.

De fato, para o governo em torno de Mikhail Saakashvili, é decepcionante o relatório não confirmar a tese georgiana de que o ataque à Ossétia do Sul fora uma reação à investida russa. Mas, sem dúvida, a Geórgia pode evocar o fato de a Rússia haver acirrado o conflito através de meses de provocações, e de que seu desrespeito ao Direito Internacional foi agora atestado. Essa também é a forma como irão ler o relatório as nações do Leste Europeu e Europa Central que apoiam Saakashivili – Polônia, Países Bálticos e Ucrânia. Elas sentem a própria segurança ameaçada pelo comportamento agressivo e – segundo seu ponto de vista – imperialista da Rússia.

O Kremlin também interpreta o relatório das investigações da forma que mais lhe convém. A liderança russa sublinha com satisfação o fato de que, segundo o relatório, foi a Geórgia a começar a guerra. No entanto, Moscou rejeita decididamente as acusações de haver provocado ou de violar o Direito Internacional. Na Rússia, vai continuar circulando a tese de que diplomatas norte-americanos teriam supostamente apoiado o presidente Saakashvili em suas aventuras militares, embora o relatório não comprove tal afirmativa.

Consequências políticas do relatório

Os efeitos concretos deste relatório sólido e detalhado deverão ser mínimos. Não é de se esperar nem que a Rússia repense sua presente posição e retire o reconhecimento diplomático da Ossétia do Sul e da Abkházia. Nem se pode partir do princípio de que a Geórgia vá abdicar de reivindicar as regiões em questão, mesmo que o presidente Sakashvili sofra pressões políticas internas, em função do relatório. O conflito está congelado e, na melhor das hipóteses, não voltará a ocorrer confronto militar na região.

Mas o relatório também pouco deverá afetar as opiniões divergentes dos países da UE sobre a política europeia para a Rússia e Leste Europeu: principalmente a Polônia e os Países Bálticos deverão manter seu ceticismo em relação à Rússia, rejeitando um aprofundamento das parcerias euro-russas. Pelo contrário: irão favorecer a aproximação da Geórgia, assim como da Ucrânia, em relação à Otan. Países da UE como a Alemanha, a França e a Itália não repensarão radicalmente suas políticas para a Rússia, só por causa da Geórgia. Além disso, a Rússia é simplesmente um interlocutor importante demais, em questões internacionais como a crise financeira, o Irã ou a Coreia do Norte.

Mesmo assim, o relatório deveria desencadear dentro da UE uma discussão intensa sobre como as ex-repúblicas soviéticas hoje voltadas para o Ocidente podem obter maiores garantias de segurança frente a uma Rússia em ação revisionista. Caso contrário, o excelente trabalho da comissão de investigações ficará na memória apenas como uma contribuição ao registro da história europeia.

Autor: Ingo Mannteufel
Revisão: Augusto Valente