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Opinião: O cartel dos trapaceiros

25 de julho de 2017

Acusação de que Volkswagen, Daimler e BMW se uniram para evitar a concorrência e enganar o consumidor alemão é o fim do mundo para setor que era o orgulho da nação, afirma o jornalista de economia Henrik Böhme.

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Dieter Zetsche (Daimler), Harald Krüger (BMW) e Matthias Müller (Volkswagen)
Os chefes da Daimler, Dieter Zetsche, da BMW, Harald Krüger, e da Volkswagen, Matthias MüllerFoto: picture-alliance/dpa/A. Gebert

As ligações telefônicas entre Wolfsburg, Stuttgart, Munique, Ingolstadt e Zuffenhausen não pararam no fim de semana. Com certeza. E talvez até tenha havido uma reunião de emergência de um grupo de trabalho, talvez até mesmo dos chefes, em algum lugar secreto. Afinal, os chamados grupos de trabalho sempre se encontraram às escondidas, não importa se fosse para combinar tetos de conversíveis ou redução de emissões. Foram 20 anos de maracutaia, e quem pagou a conta foi o consumidor alemão.

No último fim de semana, uma nova era começou para a indústria automobilística alemã. Perto do que foi revelado, o escândalo de fraude nas emissões da Volkswagen, o chamado "dieselgate", é brincadeira de criança. Mesmo que nada tenha sido provado até aqui, porque as autoridades antitruste da Alemanha e da União Europeia recém começaram a analisar documentos, uma coisa já é clara em meio à fumaceira dos escapamentos: a acusação de formação de cartel é o fim do mundo para a menina dos olhos da indústria alemã.

Henrik Böhme
Henrik Böhme é jornalista de economia da DW

Às pressas, as montadoras tentam salvar o que não tem mais salvação: como numa corrida para ver quem se denuncia primeiro, Volkswagen e Daimler encaminharam suas autodenúncias às autoridades em Bruxelas e Bonn. Isso porque, num processo por formação de cartel, leva vantagem – ou até mesmo consegue se livrar do pior – aquele que primeiro entregar o esquema.

Do ponto de vista financeiro, isso pode até ser vantajoso para este ou aquele. Mas a imagem do setor está arruinada. Volkswagen, Daimler e BMW: isso é nada mais nada menos que o orgulho da nação. Mas quem pode sentir orgulho de trapaceiros? Desde o escândalo da Volkswagen, a imagem de bom mocinho das montadoras alemãs andava arranhada, até porque havia outras montadoras afundadas nessa lama. Só que as novas acusações dizimaram de uma tacada só todos os esforços que foram feitos em Wolfsburg, Stuttgart e Munique para limpar a barra do setor.

As primeiras reações das montadoras já deixaram claro o nocaute que foram as denúncias: não comentamos especulações, disseram, em coro, BMW, Daimler e Volks. Só a BMW se defendeu da acusação de que tenha feito acertos com as outras no tema manipulação de emissões. Fora isso: um setor inteiro da indústria alemã teve perda total, a destruição foi completa. E esse é um setor que todos diziam ser modelo. E que dá emprego a 800 mil pessoas, garante o bem-estar de centenas de milhares de famílias. São cidades inteiras que têm o destino atrelado às montadoras ou fornecedores que abrigam.

E os chefões não perdiam uma oportunidade de dizer que tinham consciência da sua responsabilidade social. Tudo papo furado! Nem uma palavra dessas asneiras era verdade!

E também o governo alemão desempenha um papel importante nesse megaescândalo. Berlim – principalmente os "chanceleres federais do automóvel" – sempre dava uma mãozinha política em Bruxelas quando se queria apertar mais um pouco as emissões de poluentes ou quando os chineses queriam definir uma cota para carros elétricos. Aí valia o famoso discurso da salvação dos empregos, e as centrais das montadoras recebiam a seguinte mensagem: podem continuar tocando como sempre que nós resolvemos esse negócio para vocês. Agora é hora de impor um claro distanciamento. Mas, como ninguém quer andar com trapaceiros, é provável que as montadoras já tenham perdido um importante aliado.

A chamada cúpula do diesel, marcada para a semana que vem em Berlim, deve mostrar a quantas anda a relação. A ideia original do encontro era encontrar uma alternativa às proibições para a circulação de carros nos centros das grandes cidades alemãs, por exemplo por meio de recalls para reduzir as emissões de motores poluentes. Agora provavelmente não vai dar em nada, pois as montadoras não podem mais contar com o apoio do governo alemão.

E é grande também a expectativa em relação ao Salão do Automóvel de Frankfurt, que começa daqui a algumas semanas. Como as montadoras alemãs vão se apresentar? E a chanceler federal vai falar na abertura, como fez todos os anos? Ela vai se apresentar ao lado de trapaceiros? Quando estiverem faltando apenas dez dias para as eleições? Mesmo com muito boa vontade, fica difícil de imaginar algo assim.

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