Nem toda crítica a Israel é antissemita
19 de julho de 2018"Não há nem uma resposta padrão nem uma definição clara", disse recentemente o embaixador israelense na Alemanha, Jeremy Issacharoff, respondendo à questão da revista hebraica berlinense Spitz (edição de julho de 2018) sobre quando uma crítica legítima ao Estado de Israel se torna incitamento antissemita.
A discussão sobre antissemitismo na Alemanha vem ganhando cada vez mais peso: por isso, o governo nomeou há poucas semanas um encarregado especial para combate ao antissemitismo. E, claro, os recentes ataques contra portadores de quipás nas ruas alemãs, assim como o bullying a um estudante judeu em Berlim, levantam questionamentos sobre a segurança da vida judaica no país. Parece que uma nova velha forma de afirmação antissemita está se estabelecendo: o ódio aos judeus disfarçado como crítica a Israel.
Mas como a crítica legítima às políticas de Israel pode ser distinguida do discurso de ódio antissemita?
Não há dúvida: a negação do direito de existência de Israel não pode ser objetivamente justificada – isso é discurso de ódio. Mas o que dizer das duras críticas à política de ocupação israelense nos territórios palestinos ou das alegações de crimes contra os direitos humanos? Seria isso sempre automaticamente um discurso velado de ódio antissemita?
Métodos aparentemente objetivos, com nomes que soam científicos, que examinariam afirmações relacionadas a Israel em busca de seu conteúdo antissemita (por exemplo, o método de "3D", que procura demonização, dúbios padrões e deslegitimação), exibem, com suspeita frequência, resultados que são desejados pelo usuário. O embaixador Issacharoff, no entanto, diz: "Não estou sugerindo que qualquer crítica a Israel seja antissemita, e acho que a crítica legítima procura, afinal, métodos legítimos para se exprimir de forma construtiva”.
A questão decisiva é sempre, portanto, por qual propósito político e em que contexto são realizadas afirmações críticas a Israel. A mesma pergunta também deve ser feita, entretanto, quando imediatamente é levantada a acusação de antissemitismo devido a uma crítica a Israel. Este é um ritual que se repete com demasiada frequência: uma pessoa expressa crítica à política israelense ou uma instituição convida a uma discussão crítica sobre a situação nos territórios ocupados – e logo surge a suspeita de motivação antissemita.
Sem dúvida há, com suficiente frequência, críticas insuportáveis e extremamente unilaterais a Israel e a seu meio político. Mas quando a crítica é objetivamente justificada, seu confronto com os métodos 3D e similares apenas cria a suspeita de que faltam sobretudo bons argumentos àqueles que aqui discordam.
Mas em uma democracia, impedir uma discussão sempre só deve ser o último recurso. Esta é outra razão para que a acusação de antissemitismo, cada vez mais inflacionária, seja considerada perigosa. Além disso, a frequência com que esta ocorre desvaloriza justamente ela própria. Acima de tudo, ela insinua que as pessoas devem se manter longe de tópicos específicos sobre Israel e, de preferência, de Israel em geral. Seria essa uma meta desejável?
Ao mesmo tempo, porém, políticos como Viktor Orbán e os líderes do partido polonês PiS são cortejados pelo governo israelense e absolvidos da legítima acusação de antissemitismo, só porque se apresentam como amigos de Israel. Mesmo o desrespeito pela história judaica da Europa parece não ser um preço alto demais apenas para se angariar o apoio político dos piores populistas da Europa.
Por outro lado, mesmo as mais cuidadosamente formuladas críticas de cidadãos muçulmanos a Israel, especialmente na Alemanha, são imediatamente tachadas como antissemitismo. Isso só serve de meio para um fim que é colocar em questão a integração dos muçulmanos na Europa Central – a pior das acusações no atual contexto alemão. Como consequência, o partido populista de direita AfD se permite utilizar a acusação de antissemitismo como um argumento para a sua política racista, antimuçulmana – mais macabro do que isso é impossível.
O embaixador Issacharoff tem razão. A diferença entre a crítica legítima e incitamento antissemita é difícil de definir. Mas é preciso que encaremos, de tempos em tempos, essa tarefa – com coragem para diferenciar.
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