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Programa nuclear

9 de novembro de 2011

Relatório da AIEA sobre programa nuclear iraniano aponta necessidade de aumentar pressão sobre o país através de sanções, mas não recomenda ataque militar. Daniel Scheschkewitz comenta.

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Em Israel e Washington já havia consenso quanto à interpretação do relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) antes mesmo de sua divulgação. Os indícios recentes de atividades nucleares iranianas são, segundo o documento, a prova de que Teerã quer possuir armas nucleares o mais rápido possível.

E, de fato, pela primeira vez, o relatório da AIEA expõe uma série de constatações, que, somadas, não dão margem a nenhuma outra avaliação. Cientistas iranianos trabalhavam, pelo menos até pouco tempo, continuamente em projetos ligados à tecnologia nuclear, cujas possibilidades de uso – tendo em vista objetivos pacíficos ou militares – são inerentes à sua natureza ambivalente.

Também a Alemanha conhece a metodologia da construção de armas nucleares, embora tenha declarado oficialmente, perante a comunidade internacional, que abdica de armas atômicas. Teerã não fez isso até hoje. O regime dos mulás deixa todas as opções em aberto e trabalha secretamente, com a ajuda de cientistas estrangeiros – como sabemos agora – também no desenvolvimento de componentes militares, como por exemplo ogivas nucleares e mecanismos de disparo.

Muita coisa indica que o Irã já domina praticamente todas as tecnologias, de forma que entre a decisão de construir uma bomba e sua execução poderiam transcorrer, na pior das hipóteses, poucas semanas. Esta é uma ameaça incontestável para Israel e para a paz no mundo, que se dá bem às portas da Europa. O que fazer, então?

Durante anos, tentou-se, em vão, convencer o Irã, através de meios diplomáticos, a abandonar as armas nucleares. Em meados da última década, foram feitos progressos sensíveis neste sentido, entre outros através da mediação alemã, antes de um novo acirramento entre as frentes. No entanto, diante das recentes ameaças de Israel, os diplomatas estão sendo requisitados mais uma vez.

Um ataque militar contra o programa nuclear iraniano continua não sendo uma opção recomendável. Isso não iria destruir e nem ao menos danificar para sempre as usinas nucleares do país, desencadeando, todavia, um incêndio muito mais perigoso. Um ataque militar iria provocar uma cumplicidade entre a população iraniana e o regime, mascarando as divergências de opinião existentes. Em suma, um ataque levaria o país a se posicionar contra o Ocidente. Uma situação que Israel não pode desejar – por isso o Nobel da Paz Obama tem que frear seu aliado.

A capacidade de Israel de revidar um ataque nuclear – que existe independentemente de todos os mecanismos de controle internacionais – é de conhecimento de Teerã. Um contra-ataque poderia ter como consequência a destruição completa do Irã. É também por isso que as incitações ao pânico e os discursos militares em prol da necessidade de um ataque preventivo ao Irã são um exagero.

O relatório segue agora para os membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que deveriam discutir de imediato a possibilidade de aplicação de novas sanções. Isso terá que ser admitido também pela Rússia, que, no passado, manteve sempre uma posição muito retraída frente às pretensões nucleares iranianas. Mesmo que soe totalmente absurdo, só se a comunidade internacional aumentar a pressão sobre o Irã através de sanções, é que Teerã poderá ser forçada a retornar à mesa de negociações.

Ao mesmo tempo, é preciso apontar ao país uma saída para a espiral das sanções. Já neste momento, as sanções econômicas colocam o país e parte de suas lideranças contra a parede. A frente composta pelos mulás não é de forma alguma tão coesa quanto parece quando vista de fora. Se a comunidade internacional fizesse ofertas concretas de cooperação econômica, incluindo o uso pacífico da energia nuclear, o equilíbrio de poder no regime iraniano poderia ser modificado, facilitando ao país a retomada das negociações em pé de igualdade com os parceiros internacionais. A meta teria que ser, de qualquer forma, evitar a construção da bomba atômica no país.

Autor: Daniel Scheschkewitz (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer