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Passo importante

20 de abril de 2009

O presidente dos EUA estendeu a mão à América Latina. Porém o futuro das relações no continente não é responsabilidade apenas dele. E os resultados do encontro foram antes parcos. Mirjam Gehrke opina.

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Barack Obama veio, falou e conquistou simpatias até agora concedidas a poucos presidentes estadunidenses pela América Latina. Na 5ª Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, os líderes de Estado e governo das Américas Central e do Sul e do Caribe vivenciaram o chefe da Casa Branca como um homem que reflete, pondera e sabe ouvir. E que ganhou pontos por sua modéstia e capacidade de autocrítica.

Está na hora de superar a desconfiança mútua de décadas e de interagir como parceiros em pé de igualdade – uma mensagem nova, sobretudo para as pequenas nações centro-americanas.

Washington pretende, no futuro, respeitar os governos eleitos da região, mesmo no caso de eventuais divergências, disse Obama. Não vai tão longe assim o tempo em que os Estados Unidos gostavam de usar meios militares para eliminar visões de mundo diferentes das suas.

E, por fim, a admissão por parte do governo norte-americano de que o embargo contra Cuba fracassou. O bloqueio econômico desde 1962 não contribuiu para que a ilha açucareira socialista diante da costa da Flórida se movesse sequer um passo em direção à democracia.

Nos últimos dez anos os norte-americanos foram forçados a uma posição defensiva em relação à América Latina. O "quintal" dos EUA se libertou da dependência política em relação a Washington.

Quatro anos atrás, na cúpula de Mar del Plata, os latino-americanos deram um claro "não" à zona panamericana de livre comércio, iniciada sob a administração de Bill Clinton. E o antecessor de Obama, George W. Bush, não desenvolveu novas concepções em seus oitos anos de mandato.

Pelo contrário: na luta global contra o terrorismo também a América Latina foi dividida em países bons e maus. Os últimos incluem todos os governos um pouco mais à esquerda – e o seu número cresceu consideravelmente nos últimos anos.

Agora, de acordo com Obama, acabou-se a era da confrontação ideológica. E justamente nessa afirmativa reside a força da nova política dos EUA para a América Latina. Até então era fácil para Hugo Chávez e seus correligionários apresentarem os Estados Unidos como a corporificação do mal, a causa da pobreza e da exploração e, até mesmo, de seu próprio fracasso político.

A melhor prova da nova postura norte-americana frente à América Latina foram os primeiros sinais de relaxamento do embargo a Cuba – a permissão aos cubanos em exílio nos EUA de enviar dinheiro a seus parentes na ilha caribenha, assim como de visitá-los – decretados por Obama antes da Cúpula em Trinidad e Tobago.

Agora a bola está no campo dos cubanos. A suspensão total do embargo e o retorno do país à Organização dos Estados Americanos (OEA) são indissociáveis do restabelecimento da democracia em Cuba. Uma exigência que certamente não desperta o entusiasmo do venezuelano Chávez. Mas, afinal de contas, no saldo positivo da cúpula, cabe registrar o envio de um embaixador da Venezuela aos EUA.

A euforia generalizada ocultou o fato de que, de resto, a 5ª Cúpula das Américas foi antes pobre de resultados. Decisiva é agora a forma como os chefes de Estado e governo vão assumir o novo clima de bem-estar após retornarem a seus países, e se vão aceitar a mão estendida do presidente estadunidense.

Obama deu um passo importante para as relações norte-sul no continente, porém ele não carrega sozinho a responsabilidade pelo progresso dessas relações. Para um ou outro dirigente do sul é possível que, com um presidente norte-americano disposto ao diálogo e ao consenso, comecem tempos mais difíceis.

Também esse fato só pode fazer bem à democracia na região, se pensarmos em nomes como Chávez, Castro e Daniel Ortega, na Nicarágua.

Autor: Mirjam Gehrke
Revisão: Alexandre Schossler