Venezuela
16 de fevereiro de 2009"Está é uma vitória da revolução", anunciou Hugo Chávez de boca cheia. Após seu triunfo nas urnas, ele prometeu combater a corrupção, romper as estruturas deterioradas dos partidos políticos, acabar com a dependência do petróleo e, acima de tudo, reavivar os ideais de liberdade do herói Simon Bolívar. "Socialismo ou morte. Tudo ou nada" era o lema de Bolívar. Os venezuelanos confiaram no então tenente-coronel das Forças Armadas. No dia 2 de fevereiro de 1999, Hugo Chávez era empossado pela primeira vez no cargo de presidente.
É possível dizer que o tempo parou em Caracas. Hugo Chávez, líder autoproclamado da revolução bolivariana e defensor do socialismo do século 21, venceu, dez anos mais tarde e com as mesmas palavras de ordem de tempos atrás, o referendo pela permissão de uma mudança constitucional. Chávez pode ser agora reeleito infinitamente. Ele próprio já cogita festejar seus 20 anos no cargo no ano de 2019. E não é necessário ser um profeta para vislumbrar que ele irá, nesses próximos anos, continuar alegrando seus conterrâneos com seus estrondos revolucionários.
O discípulo político de Fidel Castro queria combater a corrupção. De fato, só há seguidores de Chávez ocupando posições-chave na política e os tão elogiados projetos de combate à pobreza são, com frequência, minados pela corrupção. Embora a qualidade de vida tenha melhorado e o número de pessoas que vivem na pobreza tenha diminuído de 44% para 30% da população, muitos venezuelanos ainda não têm acesso aos alimentos subsidiados e não dispõem de assistência de saúde gratuita.
A burocracia aumentou e a corrupção está pior do que nunca: agora, uma mera visita a um departamento público pode durar dias em vez de horas. Mesmo assim, geram-se empregos: muitos venezuelanos ganham um trocado aqui e ali, guardando lugar para homens e mulheres de negócios nas filas das repartições públicas.
A dependência do petróleo aumentou ainda mais nos últimos anos: hoje, mais de três quartos do orçamento da Venezuela vêm do petróleo. Os lucros em profusão já pertencem, contudo, ao passado do quinto maior exportador de petróleo do mundo. O país enfrenta tempos difíceis, pois o barril do combustível não está sendo mais vendido a 70 dólares, mas sim a apenas 40 dólares.
A inflação voltou a atingir 30% e a conjuntura esfriou depois de cinco anos de crescimento econômico. A crise econômica mundial chegou no momento errado para Chávez, pois agora ela já passou a afetar as camadas mais pobres da população, ou seja, sua base de poder.
Um dos ideais políticos de seu ídolo Simon Bolívar foi realmente atingido por Hugo Chávez em sua vitória no plebiscito: o combatente sul-americano da independência defendia um presidente eleito vitalício.
O segundo ideal – a confederação de todos os Estados latino-americanos – Chávez tentou levar adiante com a criação da ALBA, a Alternativa Bolivariana para as Américas. No entanto, a aliança econômica sem o papel dominante dos EUA pode emperrar agora. Primeiro, porque o novo presidente norte-americano, Barack Obama, vai certamente cuidar mais do chamado quintal dos EUA que seu antecessor George W. Bush. Segundo, porque – se os preços do petróleo continuarem caindo – a Venezuela não vai conseguir se manter por muito tempo na condição de país doador de recursos para países como Cuba, Nicarágua, Bolívia, Equador ou Paraguai.
Esta foi uma vitória da revolução também para o líder revolucionário cubano, o ancião Fidel Castro, que, segundo Chávez, foi o primeiro a parabenizá-lo. O "líder máximo" governou o país caribenho por quase meio século, até seu afastamento no primeiro semestre de 2008. Apesar de sua vitória recente, é improvável que Hugo Chávez permaneça por tanto tempo no poder na Venezuela. (sv)
Oliver Pieper é redator do programa em alemão da DW-RADIO especializado em América Latina.