"Nunca houve tanto consenso", disse o presidente da Federação de Empregadores da Alemanha (BDA), Ingo Kramer, na última segunda-feira (16/12) na Chancelaria Federal em Berlim. Ele se referia ao consenso entre quase todas as forças políticas e econômicas relevantes na Alemanha de que o país precisa de mão de obra qualificada do exterior.
E não apenas da União Europeia (UE), mas também de outros países. Até 2030, segundo todos os especialistas, haverá uma escassez de seis milhões de pessoas no mercado de trabalho da Alemanha. O alarme para a falta de operários, por exemplo, já soa há anos – atualmente faltam 250 mil pedreiros, bombeiros, pintores, etc.
Uma razão está no envelhecimento da população alemã. Mas isso também se deve ao fato de que, para muitos alemães, principalmente profissões que exigem trabalho braçal não são atraentes e ou são consideradas mal pagas. E isso é porque, naturalmente, a economia da Alemanha como nação exportadora ainda está aquecida.
Então, por força dos fatos, chega ao fim quase silenciosamente uma luta cultural que sempre teve características absurdas na Alemanha.
Apenas 20 anos atrás, políticos conservadores empreendiam campanhas eleitorais no país com o medo da população frente à imigração de mão de obra. O político conservador Jürgen Rüttgers, que alguns anos depois foi eleito governador da Renânia do Norte-Vestfália, disse na época numa entrevista: "Em vez de indianos, são os nossos filhos que precisam trabalhar com computadores!"
Nem uma coisa nem outra aconteceram. A tentativa de recrutamento de especialistas em informática indianos, empreendida pelo então governo verde-social-democrata em Berlim, foi amplamente ineficaz. As crianças alemãs também não foram mais bem treinadas em computação, principalmente nas escolas.
Basicamente, a razão desses estranhos debates foi que os políticos alemães nunca ousaram falar abertamente sobre o que já era uma situação de fato: há muito tempo a Alemanha é um país de imigração. Ao longo da década de 1960, em parte ainda mais cedo, muitos italianos, turcos, portugueses e gregos chegaram ao país e foram deliberadamente chamados de "trabalhadores convidados", o que expressava a expectativa de que eles acabariam indo embora.
Mas eles não foram – eles ficaram, tiveram filhos, assim como os filhos deles também o fizeram. Mas muitos deles nunca chegaram realmente ao novo país porque não havia uma afirmação clara que de que se queriam eles aqui permanentemente. Isso também criou os problemas de integração que preocupam a Alemanha atualmente.
Essa luta cultural continua até hoje, mas agora está sendo empreendida em outras áreas: o papel do estrangeiro inimigo passou a ser propagando pela legenda populista de direita "Alternativa para a Alemanha" (AfD), enquanto os partidos tradicionais do país uniram forças.
Também se deve à sobriedade da chanceler federal, Angela Merkel, de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), o banimento do fantasma do estrangeiro perigoso. Merkel já está convencida há muito tempo de que o país só pode manter sua prosperidade por meio de mais imigração.
Agora, a Alemanha deve agir com base nos fatos que reconheceu: entre os principais países industrializados, a Alemanha, a economia mais forte da UE, ocupa apenas uma posição intermediária quando se pergunta às pessoas no exterior se gostariam de ir para lá.
A burocracia é desnecessariamente complicada e, em muitos outros países, o pagamento é simplesmente melhor. Muitas vezes, falta algo como uma cultura de boas-vindas. Além disso, relatos de atos de violência de extrema direita e antissemita também afastam imigrantes em potencial.
Paralelamente ao fato agora amplamente reconhecido de que a Alemanha precisa de imigração trabalhista, o debate sobre refugiados continua, é claro. Depois das muitas pessoas que vieram para o país em 2015 e 2016, o país endureceu suas leis de refúgio.
Os refugiados também ajudam a preencher as vagas: nos últimos quatro anos, quase meio milhão deles encontraram trabalho no país. Em breve, muitos britânicos, chocados com a saída de seu país da União Europeia, deverão querer vir para a Alemanha – e muitos deles ficarão para sempre.
O país continuará mudando – ficará mais cosmopolita, mais diversificado. Apesar de todos os gritos vindos da extrema direita: contra fatos não há argumentos, e a maioria na Alemanha finalmente entendeu isso.
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