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Trump merece seu impeachment

19 de dezembro de 2019

Continuar aceitando os mandos e desmandos do presidente dos EUA não é mais opção. Os democratas estão certos em acusar Donald Trump de abuso de poder e obstrução do Congresso, opina Alexandra von Nahmen.

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Câmara dos Representantes dos EUA plena de deputados
Câmara dos Representantes cumpriu sua tarefa, diz Alexandra von NahmenFoto: picture-alliance/AP Photo/P. Semansky

A votação foi clara: quase todos os parlamentares democratas na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos votaram a favor do impeachment do presidente Donald Trump. Ao fazer isso, eles enviaram o processo contra ele ao Senado, que deverá julgá-lo por abuso de poder e obstrução do Congresso.

Os votos foram aceitos, apesar das ressalvas de parlamentares democratas recém-eleitos em zonas eleitorais tradicionalmente conservadoras. Os republicanos fizeram igualmente frente unida contra as acusações, mas estavam impotentes para contê-las.

Trata-se de um êxito enorme para o Partido Democrata e para Nancy Pelosi, adversária de Trump e presidente democrata da Câmara dos Representantes. Ela fez seu partido entrar na linha. Os democratas agiram sem hesitação, mas não conseguiram convencer os republicanos. Como sempre, estes continuam a apoiar o presidente, por mais inacreditável que isso pareça para um observador externo, pois fecham os olhos para seu comportamento escandaloso. Não havia como esperar outra coisa.

Este processo de impeachment e o subsequente julgamento vão polarizar ainda mais a política e a opinião pública dos EUA. O clima se tornará mais tóxico; o tom, ainda mais duro. E no fim, Donald Trump provavelmente será absolvido de todas as transgressões pelo Senado controlado pelos republicanos. Ele usará o impeachment nas eleições presidenciais de 2020 como munição para mobilizar sua base de eleitores e depreciar seus adversários.

Para os democratas, as consequências podem ser dramáticas: nenhuma mudança de poder na Casa Branca, perda da maioria na Câmara dos Representantes, eleitores decepcionados, crise de liderança. Tudo isso pode acontecer. Talvez. Mesmo assim, enfrentar Trump é importante, e o passo certo a tomar.

Como os EUA podem continuar com um presidente que pede a um país estrangeiro, a Ucrânia, que o ajude a ser reeleito? E isso apenas um dia após o encerramento da investigação do procurador especial Robert Mueller sobre suposta conspiração com outro governo, o da Rússia? Como os americanos podem continuar com um presidente que insulta brutalmente seus adversários, que age como um ditador e impede o Congresso de cumprir sua tarefa?

Se os legisladores democratas não tivessem agido, isso teria significado a autodestruição do Congresso, essa venerável instituição americana. Quem não esteja disposto a defender a Constituição americana, não tem direito de prestar juramento. Neste caso, os democratas não tiveram escolha.

Uma parcela dos eleitores americanos não parece interessada que seu presidente acredite estar acima da lei. Mas aqueles cuja tarefa é atuar como um freio e contrapeso para o Executivo são instados a intervir. Para quem realmente acredita em dever e responsabilidade, isso é mais do que o papo furado sobre consciência e moralidade.

O que aconteceria se ninguém estivesse disposto a enfrentar agressores e tiranos, só porque pode haver um custo político e pouca chance real de mudar fundamentalmente a situação? Os democratas teriam perdido toda credibilidade. Eles precisam manter um equilíbrio delicado: tirar Trump do cargo e, ao mesmo tempo, cooperar com a Casa Branca e os republicanos para o bem de todos os americanos.

Não se pode saber como esse dia vai entrar para a história. É improvável que o processo de impeachment ou o julgamento no Senado mude o estilo de governança errático de Trump ou mitigue seu desdém por regras e ética. Tampouco está claro se os eleitores recompensarão a intervenção da Câmara dos Representantes na cabine de votação.

Mas uma coisa é certa: a presidência Donald Trump ficará manchada para sempre. Continuar como estava não era opção.

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 Alexandra von Nahmen
Alexandra von Nahmen Chefe da sucursal em Bruxelas, com foco nas relações entre EUA e Europa e política de segurança.