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Trump deixa sauditas escaparem impunes de assassinato

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Michael Knigge
21 de novembro de 2018

Obscena leniência do presidente americano com a liderança em Riad na morte do jornalista Jamal Khashoggi é ataque frontal aos direitos humanos. É preciso que haja consequências, opina o correspondente Michael Knigge.

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Príncipe-herdeiro saudita Mohammed bin Salman (esq.) e presidente dos EUA, Donald Trump, em Riad
Ligações perigosas: príncipe-herdeiro saudita Mohammed bin Salman (esq.) e Trump em RiadFoto: picture-alliance/AP Photo/E. Vucci

A essência da desconexa e tosca declaração expedida pela Casa Branca sobre o caso Jamal Khashoggi, que parece ter sido ditada pelo próprio presidente Donald Trump, poderia ser resumida assim:

"O príncipe-herdeiro da Arábia Saudita pode ter ordenado o atroz assassinato dentro do consulado de seu país em Istambul, mas, sabem o quê? Eu não dou a mínima e não vou deixar a chacina premeditada de um jornalista residente nos Estados Unidos nos impedir de fazer dinheiro com os sauditas e perseguir o Irã."

Se qualquer outra pessoa tivesse divulgado um texto desses, ouviria duas perguntas:

- Você não tem ninguém que faça o copidesque?

- Você não tem o menor senso de moral?

Para Trump, nenhuma dessas duas perguntas é relevante. Ao que tudo indica, ele não tem interesse nas sutilezas de apresentar um argumento coerente. E, aparentemente, não podia se importar menos com as questões mais básicas do que é bom ou mau.

Mas ser incapaz ou indisposto – ou ambos – de diferenciar o bem do mal não absolve ninguém, muito menos o líder do país mais poderoso do mundo, de ser denunciado por um comportamento tão gritantemente contrário ao tipo de liderança moral de que os presidentes dos Estados Unidos costumavam tanto se orgulhar. Mesmo que muitas vezes não a tenham honrado devidamente.

Trump é diferente. Ele sequer finge ser um líder moral. Como esse presidente transacional tem deixado sobejamente claro, dinheiro saudita e apoio à política anti-Irã dele pesam muito mais do que o homicídio de um colunista do Washington Post, um jornal que o republicano despreza. Tal comportamento não é, obviamente, surpresa, mas só mais uma confirmação de que tipo de pessoa foi eleita presidente dois anos atrás.

Ainda assim, a declaração desta terça-feira (20/11) conta entre os pontos mais baixos de uma presidência transbordante de retórica e ações embaraçosas, ofensivas e perigosas. Por um simples motivo: ela deixa os líderes sauditas escaparem impunes de assassinato.

Isso porque, segundo todas as informações disponíveis, a armadilha montada para Khashoggi no consulado saudita na Turquia, onde ele foi brutalmente assassinado por uma equipe saudita, foi tão descarada e inescrupulosa que só poderia ter sido orquestrada com o aval da cúpula saudita, especialmente do príncipe-herdeiro Mohammed bin Salman.

Ao simplesmente desconsiderar a conclusão de seu próprio e de outros serviços de inteligência e se recusar a impor quaisquer sanções apropriadas por um ato tão monstruoso, o bilionário americano compactua com a barbárie e crueldade cometidas pelos sauditas.

Pior ainda, ao inocentar tal comportamento, Trump está apoiando e fomentando ações semelhantes por outros déspotas em todo o mundo. O presidente americano transformou o 20 de novembro de 2018, antevéspera do Dia de Ação de Graças, num dia mundial de luto para os direitos humanos.

Isso não pode ser tolerado. Como fez em relação à relutância de Trump em punir a Rússia, o Congresso deve intervir e agir já. E se o órgão legislativo em fim de mandato – em que muitos republicanos seguem evitando ofender Trump – não agir e dirigir sanções significativas contra a Arábia Saudita, então o Congresso recém-eleito – com a Câmara dos Representantes liderada pelos democratas – deve fazê-lo.

Investigar o comportamento da administração Trump para com Riad e aplicar sanções à Arábia Saudita podem não ter constado no topo da agenda da nova Câmara democrata em 2019. Agora precisam constar.

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