E agora Manchester. Mais uma vez, terror em meio a uma metrópole europeia. Mais um ataque contra gente que simplesmente queria se divertir. Mais um atentado suicida. E mais uma vez o "Estado Islâmico" (EI) reivindica a autoria do terror assassino, antes mesmo de a polícia revelar qualquer dado sobre a pessoa do autor.
Desta vez, a escolha do local do atentado foi especialmente pérfida: o show de uma cantora jovem, deixando, portanto, muitas crianças e adolescentes entre as vítimas. Quem ainda se lembra da própria puberdade, ou tem filhos adolescentes sabe como eles antecipam uma noite assim, com que alegria e animação voltam para casa.
E aí, caírem nos braços de um assassino tão bestial... Nenhum terrorismo do mundo é capaz de se justificar convincentemente, mas quão doente uma pessoa tem que ser para, consciente e intencionalmente, procurar esse tipo de vítimas?
Sensação de déjà-vu também na forma de lidar com o ato. Em todos os sites de notícias, as mesmas manchetes: "Cronologia do terror", "O que se sabe – ou não". Depoimentos de testemunhas vazios e simplesmente voyeurísticos: "Todo mundo gritava e fugia correndo" – sim, e qual era a alternativa? "Havia sapatos por toda parte" – lógico, numa geração que considera cadarços coisa do passado.
E as incontáveis reações do mundo da música e da política, pretendendo mostrar comoção, mas soando perfeitamente permutáveis e rotineiras. Desde a madrugada da terça-feira (23/05), se atropelavam as mensagens no Twitter: os pensamentos de todos estão com as vítimas; e todas as nações civilizadas estão solidárias ao lado do Reino Unido – o que quer que isso queira dizer concretamente, num dia como esse.
Tampouco podia faltar a Torre Eiffel de Paris com as luzes apagadas, na noite seguinte. Obviamente um sinal de condolência, que de manhã estamparia todos os portais de notícias. Da mesma forma que as imagens da primeira-ministra britânica, Theresa May, no local do ataque, e da manifestação de luto que ainda transcorrerá em Manchester.
Tudo isso mostra que a União Europeia, atualmente assomada com regularidade certeira pelo terror radical islâmico, já desenvolveu uma rotina na forma de lidar com o medo. Rituais que servem para obliterar o fato de que não existe – nem não pode existir, naturalmente – uma resposta simples e imediatamente eficaz na luta contra o terrorismo.
E prosseguirá a vida na Europa, como se nada tivesse ocorrido. Os cidadãos seguirão frequentando concertos, centros comerciais, partidas de futebol, ou, na Alemanha, participarão do Dia da Igreja Protestante. Talvez com certa inquietação, mas irão, porque há muito aceitaram como normalidade o possível perigo terrorista.
A extrema direita política verá aí um sinal de fraqueza, continuará a vociferar pela expulsão de todos os muçulmanos da Europa. E todos os outros verão um sinal de força e tenacidade, porque não se pode deixar-se intimidar e abater pelo terrorismo.
E no entanto a política permanece responsável por agir. Há possibilidades como, por exemplo, vigilância estreita e eventualmente até proibição das mesquitas e casas de oração em que terroristas se radicalizaram, existentes em toda a Europa.
Ou fazer como Donald Trump, com todo pragmatismo, no domingo, em Riad: cerca de 50 chefes de Estado – tendo à frente o rei da Arábia Saudita – assinaram um acordo se comprometendo a coibir o financiamento direto ou indireto do EI em seus países.
Pode ser que também isso não ajude no combate ao terror nas cidades europeias: só o futuro dirá. Mais sensato do que não fazer nada, ou estupidamente lançar bombas sobre cidades no Oriente Médio, onde naturalmente também vivem civis, isso é, sem sombra de dúvida.