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Spotify deve agir contra desinformação, e não os artistas

Silke Wünsch
4 de fevereiro de 2022

Grandes artistas deveriam retirar suas músicas de plataformas de streaming se estas forem usadas também para disseminar mentiras? Não, porque isso não resolve o verdadeiro problema, opina Silke Wünsch.

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Spotify
"As regras do Spotify para podcasts não são muito rígidas, para se dizer o mínimo, e as portas estão abertas para qualquer um"Foto: Fabian Sommer/dpa/picture alliance

Neil Young, Joni Mitchell, India Arie e outros artistas removeram suas músicas do serviço de streaming Spotify. É direito deles evitar que suas obras sejam executadas em uma plataforma que também negacionistas da pandemia.

O apresentador americano Joe Rogan, amplamente criticado por seu posicionamento em relação à vacinação contra a covid-19, comanda o podcast mais ouvido no Spotify. Sua ideologia antivacinação alcança milhões de ouvintes mundo afora.

Isso, é claro, gera questionamentos sobre como pode ser possível que essa pessoa possa disseminar essas coisas sem qualquer impedimento. A resposta é simples: porque ele pode.

Da mesma forma como vários outros artistas podem. Existem quase 3 milhões de podcasts na plataforma Netflix, 70 mil somente na Alemanha. Normalmente, eles têm vários episódios. Se somarmos tudo isso, veremos que há um número incrível de ofertas de áudio – além de músicas.

Spotify aceita de tudo

Fazer upload de podcasts para o Spotify é fácil, e qualquer um pode fazê-lo. E o serviço de streaming aceita quase tudo, sem se preocupar com o conteúdo.

As regras do Spotify para podcasts não são muito rígidas, para se dizer o mínimo, e as portas estão abertas para qualquer um, até mesmo para os que queiram espalhar absurdos perigosos.

"O Spotify para Podcasters não deve ser usado para a distribuição de músicas, mixagens de DJs ou conteúdo musical semelhante." Nada que vá além disso. Não consta uma só palavra sobre racismo, conteúdos ofensivos ou intencionalmente deturpados e prejudiciais serem imediatamente removidos. Outras plataformas vão bem mais longe do que isso.

Não à custa de artistas 

Fazer curadoria de conteúdo no Spotify não é uma tarefa para os músicos. Em torno de 8 milhões de pessoas fazem upload de arquivos para a plataforma, embora somente uma parcela consideravelmente menor seja realmente conhecida. O Spotify é importante para artistas desconhecidos que não querem vender coisa alguma – mesmo porque, os vencimentos gerados por streaming estão próximos de zero. Eles querem somente ser ouvidos.

Com a ajuda de um algoritmo, o Spotify compila playlists para cada um de seus 180 milhões de assinantes, nas quais sempre aparecem músicas raramente ouvidas. Isso pode ajudar bandas desconhecidas a chamar atenção.

A iniciativa de Neil Young pode gerar um dilema para bandas pequenas: se eu deixar minhas músicas no Spotify, significa que estou alinhado com negacionistas da pandemia? Devo seguir o exemplo dos astros e deixar essa plataforma tão popular, esse meio tão prático de promover minha música?

Spotify precisa mudar

As saídas de Neil Young e Joni Mitchell geram poucos prejuízos ao Spotify. Seu público representa apenas uma pequena parcela dos usuários da plataforma. Seria bem diferente se essa atitude partisse de super stars como Justin Bieber (que possui quase 30 vezes mais ouvintes mensais do que Joni Mitchell), Adele ou Ed Sheeran. A saída deles significaria danos imensos ao Spotify, assim como para incontáveis jovens talentos.

Mas, antes que isso venha a ocorrer, e que milhões de fãs abandonem o serviço juntamente com seus ídolos, o Spotify deveria assegurar que conteúdo não seja colocado na plataforma sem filtro algum, e que ela não se torne um parque de diversões para malucos. Mesmo que isso desencadeasse exigências por liberdade de expressão. As pessoas não podem simplesmente postar o que quiserem no Facebook, Twitter ou Instagram – e o YouTube também observa de perto o que é colocado em sua plataforma.

O Spotify também tem a opção de utilizar inteligência artificial para verificar conteúdos antes de serem publicados, rastreando certas palavras. A introdução dessa ferramenta é a tarefa mais importante para a plataforma de música.

Curiosidade: o Amazon Music realiza atualmente uma campanha para conquistar novos assinantes chamada "campanha Neil Young". A Apple Music também descobriu o "amor por Neil Young", e a plataforma de música Deezer promove uma "playlist 100% Neil Young". Mas sabe o que mais se pode ouvir nesses serviços? Todos eles oferecem podcasts.

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Silke Wünsch é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal da autora, não necessariamente da DW.