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Opinião: Merkel e Putin entre reaproximação e desconfiança

20 de maio de 2018

Ações dos russos nos últimos anos queimaram muitas pontes com a Europa. Mas, em uma lance irônico, política externa errática dos EUA está reaproximando europeus e russos, opina o jornalista Miodrag Soric.

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Russland Wladimir Putin & Angela Merkel in Sotschi
Putin e Merkel durante encontro em Sochi na última sexta-feira. Chanceler falou francamente sobre as políticas do presidente russo. Foto: picture-alliance/Sputnik/S. Guneev

Boas notícias não fazem há tempos mais parte do cotidiano das relações russo-alemãs. Seja por causa da Guerra na Ucrânia, o apoio russo ao ditador sírio Bashar al-Assad ou as retaliações mútuas no caso Skripal, há anos temas negativos são sucedidos por outros e relacionamento entre Oeste e Leste está sempre atingindo novos pontos baixos.

O fato de que a Alemanha não desempenhou um papel político internacional importante por quase um ano também não facilitou as coisas – a campanha eleitoral e a difícil formação de um novo governo Berlim eram consideradas mais importantes. 

Otimismo cauteloso

Nos últimos dias, vários ministros federais se dirigiram a Moscou. Agora a chanceler federal negociou diretamente com Putin. E de repente algo parecido com um otimismo cauteloso está se fazendo sentir. Aparentemente, o presidente concorda em continuar a deixar gás russo ser transportado por meio de dutos que passam pela Ucrânia mesmo após a conclusão de uma nova linha do gasoduto Nord Stream, que vai passar no fundo do mar Báltico. Kiev então poderá a continuar a faturar bilhões.

Mas é claro que o diabo mora nos detalhes: o governo ucraniano está satisfeito com tal informação? Quem pode garantir isso: o governo russo? A União Europeia? Ambos?  Mesmo após a cúpula russo-alemã, várias questões permanecem em aberto. O governo ucraniano continua desconfiado. Se considerarmos o que aconteceu nos últimos anos, não há como culpar Kiev. Mas a desconfiança por si só não é suficiente para resolver problemas. A Ucrânia tem que negociar – com o apoio da Alemanha e da UE. Especialmente se Moscou está pronta para fazer concessões ao Protocolo de Minsk. Putin sinalizou isso em Sochi.

Soric Miodrag Kommentarbild App
Miodrag Soric é correspondente da DW em Moscou.

É bem possível que a chanceler e o presidente russo se encontrem novamente em breve para negociar um acordo de paz para o leste da Ucrânia. Os presidentes da Ucrânia e da França então vão se sentar à mesa. Todos sabem que quanto mais o conflito perdurar, mais difícil será a sua solução. Não há alternativa ao Protocolo de Minsk.

Merkel e Putin também não veem alternativa ao acordo com Irã. Ambos os países querem preservá-lo, assim como outros países europeus e os chineses – mesmo que os americanos tenham sabotado a resolução.

Se Washington está mesmo disposta a impor sanções contra empresas estrangeiras que continuem a fazer negócios no Irã, será preciso esperar para ver. A ironia da história é essa: a saída dos EUA do acordo com o Irã acabou por reaproximar os europeus e os russos. E ainda isso: as ameaças dos EUA ao Irã ajudaram a elevar o preço do petróleo no mercado mundial – pela primeira vez em anos o barril ultrapassou a cotação de 80 dólares. Isso acabou por gerar um fluxo extra de dinheiro para os cofres russos – também um efeito colateral não intencional da errática política externa dos americanos.

Uma longa lista de diferenças

Ninguém pode acusar Angela Merkel de não ter abordado temas desagradáveis com o presidente Putin. Ela falou claramente: deplorou as restrições à liberdade de imprensa e a perseguição de intelectuais na Rússia; criticou os ataques de hackers ao Ministério das Relações Exteriores da Alemanha e o apoio russo ao governo sírio. A lista de tópicos foi longa. Mas a chanceler não parece ter desanimado. É claro que a desconfiança mútua permanece. Nos últimos anos, Moscou queimou muitas pontes políticas. Reconstruir tudo isso vai demandar tempo.

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