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ONU denuncia estupro de 125 mulheres no Sudão do Sul

2 de dezembro de 2018

Nos últimos dias, mais de uma centena de mulheres e meninas que estavam viajando a pé foram violadas e espancadas por homens no país africano, afirma missão das Nações Unidas. Mais jovens tinham menos de 10 anos.

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Foto de mulheres andando a pé no Sudão do Sul
Violência já provocou fuga de um terço da população do país africanoFoto: Reuters/A. Campeanu

A Missão da ONU no Sudão do Sul (Unmiss) denunciou neste domingo (02/12) que cerca de 125 mulheres e meninas foram estupradas nos últimos dez dias numa região controlada pelas tropas governamentais no estado de Unity, no norte do país.

De acordo com a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), algumas das vítimas teriam menos de 10 anos e outras, mas de 65. Mulheres grávidas também teriam sido estupradas, afirmou a ONG humanitária.

"Mulheres e meninas chegaram em massa à clínica dos MSF em Bentiu na última semana, depois de sobreviverem à horrível violência sexual", afirmou Ruth Okello, uma parteira que trabalha para a MSF no Sudão do Sul.

Segundo a MSF, os ataques ocorreram entre 19 e 29 de novembro, e não foi possível determinar quem os realizou.

As vítimas foram violadas, "chicoteadas, espancadas ou golpeadas com bastões ou armas" e ainda lhes foram retiradas as roupas, sapatos, dinheiro e cartões de comida.

"Há três anos venho trabalhando no Sudão do Sul, nunca vi um aumento tão dramático no número de pessoas que sobreviveram à violência sexual e que vieram ao nosso programa para obter ajuda médica", disse Okello.

"Nós tratamos de 104 sobreviventes de violência sexual e sexista nos primeiros dez meses deste ano, e ajudamos 125 durante a última semana", sublinhou.

Os estupros tiveram como alvo mulheres e meninas que estavam viajando a pé de seus vilarejos para a cidade de Bentiu, segundo a Unmiss.

As agressões sexuais foram cometidas por homens jovens vestidos com uniformes militares e roupas civis que, além de estuprarem as mulheres, as agrediram e roubaram perto das localidades de Nhialdu e Guit, acrescentou a Unmiss.

"Esses ataques violentos ocorreram numa área controlada pelo governo, e este tem a principal responsabilidade pela segurança dos civis", assinalou o chefe da Unmiss, David Shearer, ao qualificar os estupros de ações "absolutamente abomináveis".

Além disso, Shearer exigiu que as Forças Armadas garantam o controle sobre suas tropas para assegurar que "elementos renegados" não estejam envolvidos nessas ações criminosas.

"A missão da ONU realizou reuniões urgentes com as autoridades e exigiu que elas tomassem medidas imediatas para proteger as mulheres e as meninas na região e para fazer com que os autores desses crimes terríveis sejam responsabilizados", declarou Shearer.

A Unmiss abriu uma investigação para identificar os autores dos estupros, enviou patrulhas à região e uma equipe de engenheiros para retirar vegetação das margens da estrada para evitar novos ataques.

O comitê de monitoramento do cessar-fogo no Sudão do Sul, pertencente à Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento no Leste da África (IGAD, na sigla em inglês), também anunciou a abertura de uma investigação.

O governo e os grupos rebeldes do Sudão do Sul assinaram um acordo de paz em 5 de agosto para tentar pôr fim ao conflito que começou no final de 2013, dois anos depois da independência do país.

O Sudão do Sul entrou em guerra civil em dezembro de 2013, em Juba, capital do país, quando o presidente Salva Kiir acusou Riek Machar, o seu ex-vice-presidente, do grupo étnico nuer, de planejar um golpe.

O conflito, marcado por atrocidades étnicas e pela violência, já provocou mais de 380 mil mortes, segundo um estudo recente, e levou mais de quatro milhões de sul-sudaneses, ou quase um terço da população, à fuga.

CA/efe/afp/lusa

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