Onda de acusações de plágio abala credibilidade de políticos alemães
17 de outubro de 2012A atual ministra alemã da Educação, Annette Schavan, enfrenta acusação de plágio em sua tese de doutorado, defendida em 1980. Em 2011, o então ministro da Defesa, Karl-Theodor zu Guttenberg, renunciou ao cargo em uma situação semelhante. Tais casos colocam em questão a importância de um título de doutorado para um político na Alemanha.
Guttenberg era visto como jovem, bem-sucedido e popular e apontado como um possível futuro candidato ao cargo de chanceler federal pela União Social Cristã (CSU). Então, veio a fatal descoberta de plágio em grande parte de sua tese. O incidente com o ministro tornou-se o mais famoso caso de plágio na política alemã. Desde a renúncia, em março de 2011, Guttenberg manteve distância da vida pública.
Após o incidente, uma série de políticos teve de abrir mão de seus títulos de doutor por conta de teses não idôneas. "Se o título de doutor é revogado, a carreira pode facilmente chegar ao fim", disse o cientista político Gerd Langguth à Deutsche Welle. "Quando se tem o título de doutor, as coisas ficam mais fáceis na política. Se é olhado e escutado com mais respeito."
A acusação contra Schavan não é, porém, comparável ao caso de Guttenberg, considera Uwe Kamenz, especialista em plágio. O ex-ministro havia copiado página por página de outro trabalho sem deixar isso claro. Já a ministra da Educação apenas usou citações sem fazer as referências de maneira adequada. Entretanto, sua posição como ministra justamente da Educação e Ciência torna o caso de sua tese mais complicado.
Carreira continua
Mas nem todos os políticos encerraram sua carreira após a revogação do título de doutorado. Silvana Koch-Mehrin e Jorgo Chatzimarkakis, do Partido Liberal Democrático (FDP), por exemplo, continuaram ocupando seus assentos no Parlamento Europeu.
Bijan Djir-Sarai, deputado no Parlamento alemão, também se manteve no cargo após a retirada de seu título de doutor. O líder parlamentar da União Democrata Cristã (CDU) em Berlim, Florian Graf, renunciou voluntariamente a seu título depois de ter sido acusado de fraude. Mas manteve sua posição política.
O caso de Graf evidencia uma mudança, aponta o especialista. "Antes mesmo da publicação de sua tese, ele abriu mão do título de doutor, porque sabia exatamente que por conta desses caçadores de plágio, alguém já havia analisado seu trabalho", diz.
Mas a maioria dos políticos continua agindo de maneira fundamentalmente equivocada. "Dizer que não havia fraude também não é possível, porque todo mundo pode ler o trabalho na internet", aponta Kamenz.
Na esfera estadual, dois secretários de Cultura da CDU já haviam enfrentado acusações semelhantes. Roland Wöller, da Saxônia, e Bernd Althusmann, da Baixa Saxônia, tiveram de se manifestar sobre acusações de fraude diante de um comitê de doutorado. Apesar de abalados, puderam manter seu título de doutor e permaneceram em seus cargos.
Futuro de Schavan
Mesmo que Schavan de fato tenha seu título de doutora revogado, Langguth acredita que isso praticamente não teria importância para sua carreira política. "Ela já declarou que, após as próximas eleições parlamentares, não se colocará mais à disposição como ministra."
No entanto, Schavan pretende tomar medidas legais contra uma desqualificação. O caminho pelos tribunais provavelmente se estenderia até o fim de seu mandato, em 2013. Mas caso ela perca a batalha, ainda lhe restariam quatro títulos de doutora honoris causa.
É preciso esperar passar a onda de revogação de títulos de doutores que começou desde o caso Guttenberg, acredita Kamenz. Somente então, será possível avaliar com precisão a influência em longo prazo que um título revogado pode ter sobre uma carreira política.
Autor: Ole Kämper (lpf)
Revisão: Francis França