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EducaçãoBrasil

Olimpíada Brasileira de Matemática precisa ser valorizada

Luiz Felipe Pinto Ávila de Barros
Luiz Felipe Pinto Ávila de Barros
22 de junho de 2023

Vazamento de prova deste ano evidencia irresponsabilidade de alunos e fracasso de instituições de ensino em orientá-los, escreve estudante que foi medalhista e bolsista do CNPq graças a suas conquistas na competição.

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Luiz Felipe Pinto Ávila de Barros, de 17 anos, com medalhas conquistadas em olimpíadas do conhecimento
Luiz Felipe Pinto Ávila de Barros, de 17 anos, com medalhas conquistadas em olimpíadas do conhecimentoFoto: Privat

Ao longo da minha vida escolar, tive acesso a uma oportunidade extremamente benéfica para meu amadurecimento acadêmico: olimpíadas do conhecimento. Por meio delas, me aprofundei nas áreas de que gosto, especialmente a matemática, e usufruí de diversas oportunidades que vieram como consequência das premiações. Isso tudo começou quando, em 2018, fui medalhista de bronze da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) - minha primeira medalha e até hoje uma das minhas favoritas.

Neste ano, a primeira fase da OBMEP contou com a participação de mais de 18 milhões de jovens brasileiros do Ensino Fundamental II e Ensino Médio, sendo a maior olimpíada estudantil do mundo.

Todavia, a prova contou com um triste acontecimento: questões e possibilidades de gabarito foram vazadas antes do término de sua aplicação. Como a prova é aplicada por escolas públicas em diferentes horários, milhares de estudantes ao redor do Brasil tiveram acesso ao conteúdo previamente.

Foi possível ver, nas redes sociais, diversos alunos debochando da situação, trocando respostas e que foram fazer a prova já com as alternativas corretas. Eu mesmo vi relatos de estudantes que foram realizar o teste apenas decorando a ordem de respostas do gabarito, sem nem ao menos tentar responder aos itens.

Desconhecimento sobre olimpíadas

Isso apenas mostra que, apesar de a OBMEP trazer diversos benefícios aos premiados, a grande parcela de jovens no Brasil não valoriza a competição, e não necessariamente por culpa deles, mas também pelo contexto sociocultural em que vivem ao não ter a adequada orientação e apoio de sua instituição de ensino. Uma grande parcela dos jovens no Brasil nem ao menos sabe o porquê de existirem olimpíadas do conhecimento e quais são seus benefícios.

A realidade é que esses eventos acadêmicos oferecem diversas vantagens, e eu mesmo sou testemunha disso: durante boa parte do Ensino Fundamental II e Ensino Médio, fui bolsista do CNPq por conta de minhas conquistas na OBMEP. Além disso, expandi meus conhecimentos na área de matemática, que se tornou minha matéria dominante, e passei a ter mais facilidade nos estudos.

Também é bom ressaltar o aumento das chamadas "vagas olímpicas" em universidades no Brasil, por meio das quais estudantes podem entrar nas instituições ao apresentar suas medalhas de olimpíadas, sem a necessidade de realizar o vestibular. Com o vazamento da prova da OBMEP, há o risco de esses benefícios serem cortados por conta da queda na credibilidade da competição.

O mais triste dessa situação é que muitos que realmente se dedicaram para a prova e almejam uma medalha possivelmente não chegarão à segunda fase caso não tenham tido acesso ao exame vazado. Um estudante que passou meses estudando e conseguiu acertar dez questões na primeira fase (uma pontuação suficiente na maioria das escolas públicas para chegar à segunda fase) pode ficar no meio do caminho, enquanto aquele que gabaritou colando pode ser que nem vá fazer a segunda etapa da olimpíada por ser em um sábado à tarde.

Busca por prestígio

É necessário que os jovens entendam o contexto da OBMEP. De que adianta um aluno passar para a segunda fase sem nem querer fazê-la? A própria competição tem um sistema para evitar isso, em que o estudante marca no cartão resposta se deseja fazer a segunda prova caso passe na primeira.

Então, por que diversos jovens do Brasil que nem imaginavam fazer a segunda fase colaram para chegar a essa etapa? Não tenho uma resposta correta para esse questionamento, mas tenho um sentimento bem forte do que pode ter sido: prestígio. Todo mundo gosta de ser elogiado, parabenizado e até paparicado, e boas notas podem render essas gratificações.

Não é à toa que existem estudantes focados em olimpíadas e estudos visando suas premiações e benefícios. Eu, aliás, me incluo nesse ponto. Mas, para muitos, colar na OBMEP é um meio simples e rápido de se obter prestígio, mesmo que rápido e momentâneo.

Isso apenas mostra que, apesar de haver um grande desinteresse nos estudos por parte de diversos alunos, eles almejam seus benefícios. Qual estudante não deseja tirar uma nota dez ou entrar na universidade? A grande maioria gostaria desses prestígios, mas por muitas vezes não encontram o caminho ideal para atingir essas conquistas.

Escola deve encorajar e mostrar caminho

Para mim, é necessário que a escola, mesmo com suas limitações, engaje os alunos para que sejam protagonistas de suas histórias, buscando chegar mais longe e lutar por suas conquistas.

Claro que essa visão depende do contexto de cada estudante, muitos deles não conseguem ou não têm condições de se dedicar aos estudos, mas é preciso que o ambiente escolar encoraje os alunos a buscarem mais, seja ao incentivar um jovem que tem facilidade em matemática a estudar para olimpíadas, indicando livros e playlists de aulas na internet, ou ao auxiliar um estudante que goste de escrever e queira aperfeiçoar seus textos.

Por fim, tudo isso mostra que o escândalo da primeira fase da OBMEP não foi simplesmente um vazamento, mas um escancaramento de uma educação negligenciada que falhou em mostrar aos estudantes o caminho certo de lutar por suas conquistas.

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Vozes da Educação é uma coluna quinzenal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do Salvaguarda no Instagram em @salvaguarda1.

Este texto, escrito por Luiz Felipe Pinto Ávila de Barros, estudante de 17 anos natural de Recife, reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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A coluna quinzenal é escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade.