Fórum África-China
8 de novembro de 2009Além do primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, e seu homólogo egípcio, Hosni Mubarak, diversos chefes de Estado e governo do continente africano participam neste domingo e segunda-feira (8-9/11) do segundo Fórum da Cooperação África-China (Focac), que deverá aprovar um plano de cooperação bilateral para até 2012.
Em Sharm el-Sheikh, Wen Jiabao anunciou novos empréstimos na ordem de 10 bilhões de dólares (6,7 bilhões de euros) para a África, como também ajuda de 1 bilhão de dólares para empresas de pequeno e médio porte do continente.
Desde meados dos anos 1990, a atuação do Império do Meio no continente africano aumentou constantemente. No ano passado, o comércio bilateral entre a China e a África ultrapassou os 100 bilhões de dólares.
Em troca de matérias-primas e de direitos de exploração, mais de 35 países africanos, principalmente a Nigéria, Angola, Sudão e Etiópia, recebem dinheiro chinês. Em região tão carente de infraestrutura, projetos construtivos de engenheiros chineses, como estradas de ferro e de rodagem, são muito bem-vindos.
Apesar da importância do financiamento chinês para projetos infraestruturais, especialistas internacionais reclamam da falta de transparência em tal cooperação, que não distingue regimes democráticos de ditatoriais.
Interesses econômicos
Para o professor de Estudos Africanos da Universidade de Leipzig, Helmut Asche, os interesses chineses na África são, sobretudo, econômicos, mas não se restringem somente à busca de matérias-primas. "O interesse da China também se dirige ao mercado africano", explicou Asche.
Aparelhos de TV e rádio, calças e camisetas – a China exporta principalmente eletrodomésticos baratos e produtos têxteis para a África. Além disso, firmas chinesas constroem estradas e aeroportos em países africanos. Entre 2004 e 2008, o volume de comércio entre a China e a África aumentou em mais de dez vezes.
Democracia e direitos humanos
No entanto, a China também persegue na África interesses políticos bastante explícitos. Na qualidade de superpotência emergente, Pequim pretende ganhar aliados em grêmios internacionais como as Nações Unidas.
Ao procurar estabelecer pontos comuns entre a China e a África, as lideranças chinesas sempre enfatizam o papel de vítima durante a época colonial no século 19. Por outro lado, temas como democracia e direitos humanos não têm nenhuma importância na cooperação entre a China e os Estados africanos, explicou Denis Tull, especialista do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e Segurança (SWP).
Segundo Tull, isso é algo que, certamente, agrada a muitos governos africanos, principalmente aqueles de orientação autoritária, e que também ajuda a reduzir a pressão exercida por países ocidentais e doadores sobre tais governos.
Reações e críticas
A cooperação com governos ditatoriais é um dos principais pontos da crítica ao engajamento chinês na África. Os governos do Sudão e do Zimbábue estão entre os parceiros africanos da China.
Em meados de outubro último, uma empresa chinesa fechou com a junta militar da Guiné um acordo para a exploração de reservas minerais no valor de 7 bilhões de dólares. Poucas semanas antes, o governo militar do país da África Ocidental fora responsável por uma chacina ao debelar um protesto na capital Conacri.
Denis Tull defende que a China deva ser criticada por tais cooperações. "Tenho a impressão de que o governo chinês está cada vez mais preocupado com sua reputação e que deverá ao menos reagir a críticas, não somente do lado ocidental, mas também do lado africano."
Novos parceiros
Tradicionalmente, nas últimas décadas, os países africanos não tiveram alternativa à cooperação com o Ocidente. Muitos deles se tornaram dependentes política e financeiramente de nações ocidentais, para as quais a África continuou, todavia, o quintal do mundo. Principalmente durante os anos 1990, a África foi um continente desprezado. Por ocasião do genocídio em Ruanda, o mundo fechou os olhos.
Com o progresso dos países emergentes e principalmente da China, novos atores passaram a agir no continente. Isso pode ter, certamente, consequências positivas para a África. Uma nova situação competitiva surge no continente, e ele volta a ser foco da política mundial.
Segundo o africanista Helmut Asche, isso poderia oferecer também novas chances para as países africanos. Eles poderiam, gradualmente, escolher suas parcerias políticas e econômicas. Segundo Asche, no entanto, muitos ainda não entenderam que isso poderá levar a uma perda de influência ocidental.
"O Ocidente ainda não se deu conta de quão abrangente é o desafio resultante do surgimento da China, Índia e Brasil como novos parceiros importantes da África", explicou o africanista.
Autor: Christoph Ricking / Carlos Albuquerque
Revisão: Augusto Valente