"O racismo é um veneno", diz Merkel após ataques
20 de fevereiro de 2020A chanceler federal alemã, Angela Merkel, condenou nesta quinta-feira (20/02) os dois ataques a tiros cometidos na noite anterior em Hanau, no oeste do país, deixando dez mortos, além do atirador.
"É um dia muito triste para o nosso país", afirmou Merkel, manifestando compaixão com as vítimas dos ataques e seus familiares.
Ela disse haver indícios de que o autor agiu com motivação de extrema direita e racista, "por ódio contra pessoas de origem, fé ou aparência diferente". "O racismo é um veneno, o ódio é um veneno. E este veneno existe na nossa sociedade. E já foi culpado por crimes demais", afirmou.
O presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, também lamentou o que chamou de "ato de violência terrorista".
"O meu profundo pesar e minha compaixão vão para as vítimas e para seus familiares. Desejo aos feridos uma rápida recuperação. Estou do lado de todas as pessoas ameaçadas pelo ódio racista. Elas não estão sozinhas", afirmou o presidente.
A Procuradoria-Geral alemã assumiu a investigação dos ataques, ocorridos em bares de narguilé de Hanau, devido a seu "significado especial", e um porta-voz disse haver indícios de que o crime teve motivos xenófobos.
Peter Beuth, secretário do Interior do estado de Hessen, onde fica Hanau, anunciou que a Procuradoria-Geral alemã investiga os assassinatos como suposto terrorismo.
O procurador-geral alemão, Peter Frank, afirmou que foram mortas nove pessoas de origem estrangeira. Seis outras pessoas foram feridas, uma delas, gravemente. Os investigadores agora tentam descobrir se o suposto criminoso teve apoio de cúmplices ou ajudantes.
Frank afirmou que o suspeito deixou "mensagens em vídeo e uma espécie de manifesto" em seu site. No material, segundo o procurador-geral, o homem expressa "pensamentos confusos e teorias da conspiração obscuras" em que é exposta "uma perspectiva profundamente racista".
O suposto autor dos ataques, um alemão de 43 anos, foi encontrado morto em sua casa ao lado do corpo de sua mãe na manhã desta quinta-feira. Segundo Frank, aparentemente os dois foram mortos por tiros. Ao lado do homem, havia uma arma de fogo.
Segundo o tabloide Bild, ele possuía uma licença de caça, tendo permissão para portar armas legalmente. Ainda conforme o jornal, foram encontradas munições no automóvel do suspeito.
Os ataques ocorreram em dois bares de narguilé – também conhecido como shisha, um tipo de cachimbo de água. Policiais e veículos de imprensa informaram que os primeiros tiros foram disparados por volta das 21h (horário local) no bar Midnight, no centro da cidade. Testemunhas dizem ter ouvido cerca de oito a nove disparos.
Em seguida, o agressor fugiu do local em um carro escuro, segundo a polícia. Houve então um segundo ataque num outro bar de narguilé chamado Arena Bar & Café, no bairro de Kesselstadt, no oeste de Hanau.
Segundo a imprensa local, três pessoas foram mortas em frente ao primeiro bar, e cinco pessoas, em frente ao segundo. Durante a madrugada, uma das pessoas gravemente feridas nos ataques morreu, elevando o número de vítimas para nove. Com a mãe do suspeito, a cifra de mortos fica em dez pessoas.
Os bares de narguilé são lugares onde as pessoas se reúnem para fumar tabaco com sabor em cachimbos de água, prática associada ao Oriente Médio.
"Foi uma noite terrível, que com certeza ainda permanecerá conosco por muito, muito tempo, como uma triste memória", afirmou o prefeito da cidade, Claus Kaminsky.
"Nossos pensamentos nesta manhã estão com as pessoas de Hanau, no meio de quem foi cometido um crime horrível", escreveu o porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, no Twitter.
O ministro alemão do Exterior, Heiko Maas, também se disse chocado com o ocorrido. "Após esta noite terrível, nossos pensamentos estão com os mortos, suas famílias e parentes. Desejamos aos feridos uma rápida recuperação", acrescentou Maas.
Hanau, no estado de Hesse, possui cerca de 100 mil habitantes e fica a aproximadamente 25 quilômetros de Frankfurt.
A Alemanha foi alvo de uma série de ataques terroristas nos últimos anos, um dos quais matou 12 pessoas em um mercado de natal no coração de Berlim em dezembro de 2016. Os ataques de extrema direita tornaram-se uma preocupação particular das autoridades alemãs.
Em outubro de 2019, um homem armado tentou invadir uma sinagoga na cidade de Halle, no leste alemão, durante o Yom Kippur, principal feriado judaico. Ele matou duas pessoas nas proximidades e feriu outras duas perto de uma lanchonete turca.
O agressor transmitiu todo o ataque ao vivo pela internet, enquanto fazia declarações misóginas e xenófobas. Ao confessar o crime, ele admitiu ter motivações antissemitas e de extrema direita.
Em junho passado, o político conservador Walter Lübcke foi assassinado em sua casa. O extremista de direita Stephan Ernst confessou o crime, alegando que resolveu matar o chefe do conselho administrativo do distrito de Kassel devido a seu posicionamento simpático a imigrantes e refugiados.
Na semana passada, a polícia prendeu 12 suspeitos de integrar uma célula terrorista de extrema direita que estaria planejando atentados contra mesquitas, políticos e refugiados em vários estados.
MD/dpa/afp/ap/rtr
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