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O que se sabe sobre a incursão da Ucrânia na Rússia

Juri Rescheto | Janina Semenova
12 de agosto de 2024

Após avanço de tropas ucranianas na região russa de Kursk, Moscou disse que enviará reforços. Ucranianos buscam resultados militares, mas também objetivos políticos. Cerca de 120 mil pessoas já teriam deixado a região.

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Fogo é disparado por um tanque de guerra ucraniano em meio a uma estrada em território russo.
Imagem mostra o que seriam tanques ucranianos atacando território russo, na região de KurskFoto: Russian Defence Ministry/REUTERS

Nesta segunda-feira (12/08), o comandante-chefe das Forças Armadas da Ucrânia, Oleksandr Syrskyi, anunciou que o exército ucraniano agora controla 1.000 quilômetros quadrados do território da Rússia. Foi a primeira declaração oficial de Kiev sobre o assunto desde que começou a incursão ucraniana na região de Kursk, próxima à fronteira com a Ucrânia.
Na sexta-feira, o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), com sede nos EUA, informou que tropas ucranianas avançaram até 35 quilômetros em território russo. Especialistas alertam, no entanto, que o exército ucraniano não estaria com o controle total da área.

Há relatos de combates intensos, mortes e feridos. Não há, porém, informações independentes da própria região, já que os relatos geralmente chegam por meio de redes sociais, blogueiros militares russos e autoridades locais.

Também nesta segunda-feira (12/08), o governador da região de Kursk, Alexei Smirnov, teria informado o presidente russo, Vladimir Putin, que mais de 120 mil pessoas deixaram a área ou foram retiradas das proximidades da linha de frente. Outras 59 mil, segundo Smirnov, ainda precisariam sair.

O governador também afirmou que a Ucrânia controla 28 assentamentos na região e que suas tropas avançaram cerca de 12 quilômetros dentro do território russo, em uma incursão que começou no dia 6 de agosto. Smirnov disse ainda que ao menos 12 pessoas morreram e 121 ficaram feridas, sendo dez crianças, desde o início da ação.

Homem observa prédio residencial atacado por forças ucranianas na região de Kursk, próxima à fronteira com a Ucrânia.
Ataques começaram no dia 6 de agosto na região de Kursk, próxima à fronteira russa com a UcrâniaFoto: Ilya Pitalev/Sputnik/IMAGO

Objetivos ucranianos

Especialistas citam motivos políticos e militares para a repentina ofensiva. Para a Ucrânia, o objetivo seria conquistar a maior quantidade possível de território russo e, assim, pressionar Moscou e deixar Kiev em uma posição mais forte em futuras negociações de paz.

As terras ucranianas ocupadas pela Rússia poderiam ser trocadas por territórios russos conquistados pela Ucrânia. Em termos de estratégia militar, o avanço dentro da Rússia poderia criar uma zona de segurança para a população de áreas contestadas pela Ucrânia, além de enfraquecer o exército russo.

O ataque pode forçar a Rússia a enviar mais tropas para a região. Nesta segunda, Putin disse que irá expulsar as tropas ucranianas de Kursk. Mas, apesar dessa hipotética mobilização, acredita-se que Moscou não teria soldados para compensar na linha de frente.

Incursão prejudica a Ucrânia?

Por um lado, a Ucrânia assumiu um risco com a incursão e pode acabar perdendo mais contingente do que a Rússia.

Por outro, o país apresenta um poderio militar maior devido ao apoio recebido do Ocidente, aponta o especialista militar ucraniano Oleh Zhdanov.

De modo geral, o avanço é, acima de tudo, um sucesso político para a Ucrânia, que já exerce pressão sobre a Rússia.

Operação planejada com antecedência?

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, afirmou nesta segunda-feira que a incursão das forças ucranianas na região de Kursk é o "desastre desta guerra" para a Rússia.

"Podemos ver o que está acontecendo com a Rússia sob o comando do [presidente Vladimir] Putin: 24 anos atrás, houve o desastre de Kursk, o início simbólico de seu governo", disse o governante em seu discurso diário ao público, referindo-se ao naufrágio do submarino russo de mesmo nome, que matou todos os 118 membros da tripulação.

"E agora está claro qual é o fim para ele. Kursk também. O desastre desta guerra", declarou Zelenski, que até então não havia se referido explicitamente à operação ofensiva que começou na terça-feira da semana passada.

"A Rússia trouxe a guerra para os outros, agora está voltando para casa. A Ucrânia sempre quis apenas a paz e nós certamente garantiremos a paz", concluiu.

Especialistas supõem que a ação tenha sido planejada há meses e que o apoio militar a partir do Ocidente tenha impulsionado a operação.

À noite, a imagem mostra um carro destruído, queimado e com marcas de bala. Ao fundo, equipes de resgate buscam por feridos após ataque a um prédio residencial por ucranianos na região russa de Kursk.
Equipes de resgate buscam por feridos em um prédio residencial na cidade de KurskFoto: Ilya Pitalev/Sputnik/IMAGO

O quão sustentável é a ação?

O exército ucraniano provavelmente não conseguirá manter toda a área por onde avança. Mas, no momento, conforme avaliações preliminares, a Ucrânia obteve relativo sucesso porque a região não estava preparada para ser defendida pelo exército russo.

A sustentabilidade do avanço, no entanto, provavelmente dependerá do apoio militar contínuo do Ocidente à Ucrânia.

Kursk e o aumento do gás

Kursk é uma região importante para o fornecimento de gás. A última estação pela qual o combustível flui da Rússia para a Europa via Ucrânia está localizada perto da pequena cidade de Sudzha. Aparentemente, ao menos até agora, o transporte continua sem alterações. De qualquer forma, desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, as exportações de gás russo para a Europa diminuíram drasticamente.