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O que está por trás do valor recorde do Bitcoin

Kristie Pladson
Publicado 9 de março de 2024Última atualização 11 de março de 2024

Criptomoeda atingiu seu nível máximo de mais de 71 mil dólares, em um aumento de mais de 300% desde a crise de 2022. Entre os motivos estão aprovação de ETFs e evento de redução pela metade de novos Bitcoins.

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Pessoa de capuz segura um smartphone em frente a uma loja que diz na fachada: BitcoinUA Exchange
Em 2022, Bitcoin caiu para menos de 20 mil dólares Foto: STR/NurPhoto/picture alliance

O valor do Bitcoin atingiu seu recorde de mais de 71 mil dólares nesta segunda-feira (11/03), surpreendendo investidores com uma recuperação notável após a queda da criptomoeda em 2022, em meio à turbulência do mercado. O preço do Bitcoin subiu mais de 300% em comparação a novembro de 2022, quando caiu para menos de 20 mil dólares.

 A capitalização de mercado da criptomoeda também atingiu um recorde de quase 1,35 trilhão de dólares. O valor combinado do mercado total de cripto está atualmente em cerca de 2,5 trilhões de dólares, seu nível mais alto desde novembro de 2021 e apenas 10% abaixo do seu máximo histórico de 2,8 trilhões de dólares.

ETFs impulsionam o interesse no Bitcoin

O "ressurgimento do Bitcoin", por assim dizer, pode ser atribuído, em grande parte, ao entusiasmo dos investidores em torno de um novo produto financeiro vinculado à moeda digital: os ETFs de Bitcoins, aprovados  pela Comissão de Valores Mobiliários americana (SEC) e que estrearam em 10 de janeiro deste ano na bolsa.

Com a aprovação de ETFs de Bitcoin, negociar essa criptomoeda nos EUA ficou mais fácil. ETF significa Exchange-Traded-Fund – traduzido como "fundo negociado em bolsa" –, também chamado de fundo de índice. Os ETFs também são usados ​​para replicar índices de ações, como o alemão DAX. Os investidores agora podem se beneficiar ou não do aumento da cotação através de cotas nesses investimentos. Os Bitcoins já podiam ser negociados nos EUA – mas apenas em contas em bolsas de criptografia especialmente projetadas ou de forma privada nas chamadas carteiras digitais.

Esses fundos tornam mais fácil para os investidores obterem exposição ao Bitcoin sem terem diretamente a moeda virtual. De acordo com a Bloomberg Intelligence, foram investidos mais de 7 bilhões de dólares nesses produtos, impulsionando a rápida ascensão do Bitcoin. Os reguladores financeiros dos EUA há muito são cautelosos em permitir ETFs de Bitcoin, citando preocupações sobre fraude e manipulação.

"[O clima favorável para o Bitcoin nos EUA] não ocorre porque os reguladores querem ser mais favoráveis", diz Jonathan Biers, diretor de investimentos da Farside Investors, um fundo de investimento em ações com sede no Reino Unido. "Isso é impulsionado principalmente por vitórias judiciais da indústria de criptografia, que derrotou a SEC nos tribunais, resultando em um clima regulatório mais favorável e em mais legitimidade, o que está atraindo mais fluxo de investidores americanos", explica à DW.

Recuperação do ouro envia sinal contraditório

Paralelamente à recuperação das criptomoedas, o ouro também atingiu máximos recordes, enviando mensagens contraditórias sobre o apetite dos traders pelo risco nos mercados globais. Historicamente um porto seguro para os investidores, o ouro é frequentemente procurado em tempos de tensões geopolíticas e quando os investidores estão preocupados com uma potencial retração nas ações globais após uma recuperação. O valor do ouro tem aumentado de forma constante desde outubro, quando eclodiu a guerra entre Israel e o Hamas. Os mercados de ações também atingiram máximos históricos nos últimos meses. Muitos suspeitam que uma correção ocorrerá em breve.

A ascensão do ouro contrasta com a do Bitcoin, cuja utilidade para além do investimento especulativo continua sendo um tema de debate. Embora a ascensão do ouro sugira que os investidores estejam agindo defensivamente, o aumento do Bitcoin reflete uma fome por ativos digitais alimentada pelo fervor especulativo e pela inovação tecnológica.

"A história da criptografia pode estar ligada ao que está acontecendo nos mercados de ações e à tomada de riscos mais ampla", disse Kyle Rodda, analista sênior de mercado da Capital.Com Inc, à Bloomberg. "Estamos vendo um ressurgimento de moedas meme que sugerem comportamento irracional e de tomada de risco – o que é consistente com o que está acontecendo em algumas partes do mercado acionário".

Os sinais do Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos (FED) de que as taxas de juro deverão cair este ano também podem estar alimentando a recuperação, uma vez que os investidores antecipam custos de financiamento mais baixos.

Pilha de barras de ouro
Ouro é visto, historicamente, como um investimento seguroFoto: Frank Hoermann/SVEN SIMON/picture alliance

Livre de laços de fraude

O Bitcoin surgiu após a crise financeira de 2008 como uma alternativa descentralizada às finanças tradicionais. Inicialmente concebido para transações peer-to-peer (sem intermediários, por exemplo, sem passar por um banco), o seu valor aumentou nos anos seguintes, convidando à especulação e à extrema volatilidade. O day trading (ordens que começam e terminam no mesmo dia) amador durante a pandemia de covid-19 exacerbou a sua ascensão. Mas a bolha acabou explodindo, marcada por colapsos corporativos como o da grande bolsa de criptomoedas FTX em novembro de 2022, que apagou milhares de milhões em riqueza dos investidores e despencou o valor do Bitcoin para cerca de 16 mil dólares.

"A FTX era essencialmente um negócio fraudulento", disse Bier, "então é claro que é bom para a sociedade que esta fraude tenha sido exposta e desmoronada".

"Halving" de Bitcoin

Então, o que vem a seguir? O evento iminente de halving do Bitcoin, programado em seu código-fonte original, está definido para reduzir pela metade a quantidade de novos Bitcoins que entram em circulação.

O Bitcoin é produzido por meio de um processo chamado "mineração", em que computadores poderosos resolvem quebra-cabeças matemáticos complexos para verificar e registrar transações no blockchain, dando aos "mineradores" (os donos desses computadores ou quem os administra) novos bitcoins como recompensa. Os eventos de redução pela metade, que ocorrem aproximadamente a cada quatro anos, diminuem a recompensa dada aos mineradores e, consequentemente, a taxa de geração de novos bitcoins.

Esta escassez de oferta de Bitcoin foi citada por analistas como uma força motriz por trás do recente aumento de preços. Com a redução pela metade prevista para ocorrer nesta primavera no hemisfério norte, os fãs do Bitcoin antecipam novos saltos de preços.

Mas os críticos continuam céticos em relação ao ativo digital, destacando as preocupações sobre a sua utilidade, bem como os desafios regulamentares após a crise de 2022.

"Não há valor inerente", disse John Reed Stark, ex-funcionário da SEC e crítico declarado da indústria de criptografia, ao New York Times. "Não há histórico comprovado de adoção ou confiança".