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O que divide Merkel e Macron

Nina Werkhäuser | Andreas Becker av
19 de abril de 2018

França e Alemanha são vistas como motores da União Europeia, mas a máquina não funciona sem percalços quando se trata das propostas de reforma do bloco defendidas por Macron. Confira alguns dos pontos de divergência.

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Angela Merkel e Emmanuel Macron
Macron e Merkel em Berlim: em busca de consensoFoto: Getty Images/AFP/J. McDougall

A chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Emmanuel Macron, mantêm um relacionamento estreito e amigável. Embora aparentemente confiem um no outro, eles não escondem suas diferenças. Merkel e Macron sabem que sem um posicionamento comum da Alemanha e da França, nada avança na Europa.

Nesta quarta-feira (19/04), Macron se reuniu com Merkel em Berlim para buscar apoio para suas propostas de reformas do bloco europeu. Sobretudo na política econômica e financeira europeia, ambos ainda procuram um consenso:

Reforma da zona do euro

Macron quer tornar a zona do euro mais resistente a crises, por isso exige um "roteiro", a fim de avançar "passo a passo". É fato que também o novo governo alemão se comprometeu com uma "guinada para a Europa", declarando-se basicamente pronto a prestar contribuições mais altas para o orçamento da União Europeia.

Ainda assim, é grande o ceticismo entre amplas parcelas do governo. O argumento dos críticos é que os planos de Macron não batem com os interesses da Alemanha, obrigando os contribuintes nacionais a pagar a conta pelos outros países.

Tal "união de transferência financeira" não seria compatível com a Lei Fundamental, contrariando o desejo dos eleitores e o de diversos países mais setentrionais da zona do euro, alegam os opositores.

Orçamento para a zona do euro

Um orçamento conjunto para a zona do euro é um dos pontos especialmente importantes para Macron e que encontram resistência entre os políticos alemães. Com um orçamento comum, a união monetária teria um meio de combater crises econômicas e financiar investimentos futuros, argumenta o chefe de Estado da França. Ainda não está bem claro de onde o dinheiro viria.

Em segundo lugar, Macron tem falado frequentemente de instaurar um ministro de Finanças para a zona do euro. "Nós rechaçamos esse ministro de Finanças da UE", declarou Alexander Dobrindt, chefe de bancada estadual da União Social Cristã (CSU), partido-irmão da União Democrata Cristã (CDU) de Merkel, nesta terça-feira (17/04).

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Além disso, antes de falar de um orçamento único, é preciso acordar sobre o orçamento para toda a União Europeia, na cúpula do bloco em junho, diz o social-cristão. Pois depois da saída do Reino Unido, as contribuições dos demais Estados-membros subirão.

União Bancária Europeia

Em reação à crise financeira, decidiu-se em 2014 criar a União Bancária Europeia. Ela deveria ter três pilares, mas só dispõe de dois: uma supervisão bancária conjunta e um mecanismo para liquidação de bancos falidos. Macron insiste numa garantia de depósitos, que ainda falta, a fim de proteger o dinheiro dos poupadores europeus.

Também aqui os alemães titubeiam. Em março, o novo ministro alemão de Finanças, Olaf Scholz, elogiou os planos de Macron. Em abril, contudo, deixou antever que a garantia de depósitos não chegaria tão rápido assim: primeiro os bancos europeus precisam reduzir seus riscos e livrar-se dos créditos podres. Essa é a mesma posição defendida por seu antecessor, Wolfgang Schäuble.

Concessões à vista?

Enquanto o presidente francês tem uma posição forte em seu Estado, podendo praticamente "governar de olhos fechados", Merkel precisa sempre levar em consideração sua coalizão governamental. A resistência parte principalmente dos conservadores de sua própria legenda, a CDU, e da irmã bávara CSU.

Além de justificar sua postura de bloqueio com argumentos de conteúdo ("Não é no interesse alemão"), elas temem fortalecer a oposição, pois na legenda populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) e no Partido Liberal Democrático (FDP) a resistência a uma "união de transferência" é até mesmo mais acirrada.

Os alemães podem argumentar, ainda, que outras nações do norte da Europa, como a Holanda ou a Finlândia, pouco ganhariam com os planos de Macron. Elas são contra uma união monetária mais coesa e se negam a assumir responsabilidade financeira ainda maior pelos países meridionais, de quem a França é vista como porta-voz.

Merkel tem enfatizado que a reforma da UE abarca muito mais do que a reforma da zona do euro: "Até junho vamos encontrar soluções conjuntas com a França", disse otimista, e mencionou um "pacote forte", que os dois países estabeleceriam juntos.

Novo Tratado do Eliseu

As relações franco-alemãs já são estreitas, mas devem se aprofundar ainda mais. Um marco da reconciliação entre os antigos "arqui-inimigas" foi o Tratado do Eliseu, assinado pelo presidente francês Charles de Gaulle e o chanceler federal alemão Konrad Adenauer em 22 de janeiro de 1963.

Eles acordaram sobre consultações vinculativas entre os dois governos nacionais e um amplo intercâmbio juvenil, do qual mais de 8 milhões de jovens franceses e alemães já participaram.

Passados 55 anos, é hora de o acordo de amizade ser reformulado e ampliado. Entre outros pontos, planeja-se uma cooperação mais estreita nas regiões de fronteira e no setor da educação, ou seja: mais intercâmbio entre os cidadãos de ambas as nações. O novo Tratado do Eliseu deve ficar pronto até o fim de 2018.

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