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“O governo é um deserto de ideias”, diz Maia

23 de março de 2019

Após semana turbulenta, presidente da Câmara cobra que Bolsonaro deixe as redes sociais de lado e atue de forma mais ativa para aprovar a reforma da Previdência. "Não uso minhas redes sociais para agredir ninguém."

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Brasilien - Rodrigo Maia
"O Brasil precisa sair do Twitter e ir para a vida real", disse o presidente da CâmaraFoto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM-RJ), cobrou neste sábado (23/03) que Jair Bolsonaro pare de terceirizar a responsabilidade pela articulação para aprovar a proposta da reforma da Previdência e assuma um papel mais ativo. Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, ele também advertiu o presidente da República a deixar as redes sociais de lado e afirmou que o governo "é um deserto de ideias". 

"Ele (Bolsonaro) não pode terceirizar a articulação como ele estava fazendo. Transfere para o presidente da Câmara e do Senado uma responsabilidade que é dele e fica criticando: ‘Ah a velha politica está me pressionando'. Ele precisa assumir essa articulação porque ele precisa dizer o que é a nova política. Nós estamos na nova politica, nós queremos a nova politica, o Brasil quer mudar”, disse Maia após comparecer ao congresso do PPS, em Brasília.

A relação de Maia com o governo sofreu abalos ao longo da semana. Primeiro, ele demonstrou para aliados que estava irritado com ataques nas redes sociais que partiram de contas pró-Bolsonaro, que mantém proximidade com um dos filhos do presidente, o vereador Carlos. No meio da semana, ele entrou em uma disputa com o ministro da Justiça, Sérgio Moro, que reclamou que Maia havia suspendido a tramitação do seu pacote anticrime.

Na quinta-feira, após a prisão do ex-presidente Michel Temer, Maia foi ainda alvo de uma provocação de Carlos Bolsonaro nas redes, que questionou "por que o presidente da Câmara anda tão nervoso?". A mesma operação contra Temer também prendeu o ex-ministro Moreira Franco, que é padrasto da mulher de Maia.

No mesmo dia, a apresentação do projeto de reforma das aposentadorias dos militares desgastou a relação do Planalto com a Câmara, após dezenas de deputados afirmarem que o governo está tentando criar privilégios para a categoria.

No dia seguinte, irritado, Maia ameaçou deixar a articulação política da reforma da Previdência, que está parada na Câmara. Neste sábado, ele baixou o tom e disse que os atritos com o Planalto são "página virada".

Ao jornal o Estado de S.Paulo, Maia ainda afirmou que vai continuar a defender a proposta, mas apenas dentro do Congresso.

"[Vou continuar à frente da articulação] dentro do meu quadrado, sim. Agora, acho que quanto mais eles tentam trazer para mim a responsabilidade do governo, mais está piorando a relação do governo com o Parlamento. O governo precisa vir a público de forma mais objetiva, com mais clareza, com mais energia na votação da reforma.

Em outra entrevista publicada neste sábado, desta vez pelo jornal O Globo, Maia também disse "vou ajudar, vou continuar defendendo, não vou sair disso nunca".

"Aliás, é muito interessante porque ficam dizendo nas redes sociais que estou contra a matéria. Me desculpe. Quem foi contra a matéria a vida inteira foi o Bolsonaro, não fui eu. Sempre estive neste campo: o da reforma do Estado, da reforma da Previdência e da economia de mercado. Estou no mesmo lugar, por isso, não tenho constrangimento de defender a reforma ", disse Maia.

O presidente da Câmara também cobrou que o governo pare de agitar sua militância nas redes sociais e disse que este não tem projetos amplos para o país.

"O Brasil precisa sair do Twitter e ir para a vida real. Ninguém consegue emprego, vaga na escola, creche, hospital por causa do Twitter. Precisamos que o País volte a ter projeto. Qual é o projeto do governo Bolsonaro, fora a Previdência? Fora o projeto do ministro Moro? Não se sabe. Qual é o projeto de um partido de direita para acabar com a extrema pobreza? Criticaram tanto o Bolsa Família e não propuseram nada até agora no lugar. (...) O governo é um deserto de ideias."

Ainda neste sábado, em Brasília, Maia disse que Bolsonaro tem legitimidade para construir um novo momento do Brasil, mas que para que isso seja alcançado é necessário mostrar o que o seu governo pretende fazer de diferente em relação aos governos do PT.

"Porque senão a gente vai achar que os governos são muito parecidos, porque até agora ninguém propôs nada diferente do que o PT construiu nos últimos 13 anos. Um governo de direita não pode ser igual a um governo de esquerda.”

Em viagem ao Chile, Bolsonaro respondeu às críticas de Maia. “Os atritos que acontecem no momento, mesmo eu estando calado e fora do Brasil, acontecem na política lá dentro porque alguns, não são todos, não querem largar a velha política”, afirmou Bolsonaro.

“Nunca o critiquei, eu não sei por que ele de repente está se comportando dessa forma um tanto quanto agressiva no tocante à minha pessoa”, disse o presidente, que também afirmou que usa o Twittter apenas “20 minutos por dia”. 

Bolsonaro também fez uma referência indireta à prisão de Moreira Franco ao falar de Maia. “Eu lamento. Até perdoo o Rodrigo Maia pela situação pessoal que ele está vivendo”, disse. 

Após as declarações, Maia voltou a criticar o presidente. "Não uso minhas redes sociais para agredir ninguém, e sim para apresentar propostas, ideias e discussões para a sociedade", disse Maia após um almoço com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

JPS/ots

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