_O G8 e eu
Herbert Grönemeyer, músico alemão, fará shows de protesto em paralelo ao encontro
Eu espero do encontro de Heiligendamm que os oito líderes políticos esclareçam como eles combaterão de forma eficiente a pobreza mundial nos próximos anos. Um bilhão de pessoas continuam vivendo na miséria e a cada três minutos uma criança morre em conseqüência da pobreza. Isso tem de acabar. Está nas mãos do G8 mudar isso. Eles devem cumprir suas promessas e dobrar a ajuda ao desenvolvimento. Com o apoio que obtemos, fazemos pressão sobre a Angela Merkel, para que ela, na condição de presidente do G8, produza algo concreto em Heiligendamm e torne esse encontro um sucesso do ponto de vista dos necessitados. Oitocentos milhões de pessoas passando fome e 40 milhões de infectados pelo vírus HIV não podem esperar até o próximo encontro. Durante a nossa manifestação em Rostock, no dia 7 de junho, vamos lembrar de forma clara os líderes do G8 de que esta é a hora de agir.
Hartmut Polzin, prefeito de Bad Doberan
Espero que Bad Doberan se torne mais conhecida dentro e fora do país e, com isso, atraia mais visitantes. Mais visitantes significam mais negócios para o nosso comércio, o que também siginificará que mais moedas cairão nos cofres municipais. Além disso, uma série de investimentos na infra-estrutura da cidade e da região foram levadas adiante com o encontro. Todas essas medidas seriam necessárias um dia, mas puderam ser implementadas em curto prazo com recursos dos governos federal, estadual e municipal. Isso, é claro, melhora a qualidade de vida dos nossos habitantes e favorece os nossos visitantes. Possíveis protestos eu vejo como parte da nossa democracia. O direito de manifestar sua opinião é um bem protegido pela Lei Fundamental, e é bom que seja assim. Todos os que quiserem protestar de forma pacífica são bem-vindos. Protestos violentos não apenas são lamentáveis, como também não são um meio apropriado para modificar algo. Claro que também há uma certa preocupação de que algo assim possa acontecer, mas eu não coloco isso em primeiro plano.
Werner Rätz, coordenador das atividades relacionadas ao G8 da Attac
Eu não espero nada do encontro do G8. Nós vivenciamos com freqüência nos últimos anos que esses encontros servem apenas para documentar boas intenções para efeito externo e, internamente, "do business as usual". Em Gleneagles, há dois anos, falou-se no maior perdão de dívidas da história. Até hoje, isso não foi implementado nem de longe. Uma engabelação parecida eu espero do encontro oficial também neste ano. Mas, em relação às nossas atividades, eu estou otimista: acho que o encontro em Heiligendamm produzirá uma grande mobilização social. Nos círculos e nas organizações que preparam as ações e os protestos contra o encontro de cúpula, há atores representando desde a borda mais à esquerda do espectro político até o centro da sociedade. O trabalho conjunto da sociedade civil é, portanto, muito bom. Além disso, na condição de movimento crítico à globalização, conseguimos colocar em questão, nos últimos anos, o credo neoliberal de "there is no alternative".
Ievgeni Nidodirov, vice-presidente da seção russa da organização estudantil Aiesec
No programa do encontro do G8 há, de fato, muitos temas importantes. Quase todos são relevantes também para a Rússia: desde o problema de como lidar com recursos naturais, nos quais o nosso país é muito rico, até a pirataria de marcas e produtos, a qual impede o desenvolvimento da nossa economia. Com a sua experiência, a Rússia pode colaborar para a solução desses problemas. Mas um papel importante deve ser desempenhado pela questão da política de segurança na África. Acredito que os países do G8 estão em condições de resolver esse problema caso eles façam um esforço conjunto. Na minha opinião, os países do G8 deveriam definir mais medidas para o fim de conflitos internacionais. Do encontro em Heiligendamm, espero sobretudo resultados concretos.
Oskar Lafontaine, presidente da bancada de esquerda no Bundestag
O "leitmotiv" do encontro do G8 se chama "crescimento e responsabilidade". Num documento com o mesmo nome, a chanceler federal diz o que ela entende por isso: trata-se de ganhar a concorrência no mercado mundial. Angela Merkel também sabe o que é globalização: "o processo de globalização é um processo de liberalização". Fazendo referência ao futebol, o governo também logo estabelece as regras: "jogos são ganhos no ataque e não na defesa". Que esse "jogo" leve milhões de pessoas à necessidade e à pobreza, isso a chanceler não vê. Diferentemente da globalização, o futebol tem regras claras. Quem as desrespeita, é expulso de campo. Na concorrência mundial, é aquele que faz faltas duras que pode ter sucesso. O dumping salarial alemão e o sucesso como recordista de exportações são exemplo disso. É um bom sinal que cada vez mais pessoas se revoltem contra isso e exijam justiça social. Mau sinal é que os chefes de Estado e de governo tenham que se proteger disso com cercas de arame farpado cada vez mais altas.
Rainald Steck, chefe do protocolo do Ministério alemão das Relações Exteriores
O encontro do G8 é um dos pontos altos da política e com isso também do protocolo do ano de 2007, marcado pela presidência dupla da Alemanha. Para o protocolo do Ministério das Relações Exteriores, especialmente para a equipe organizadora criada para isso e responsável pela preparação e execução de cerca de 400 eventos da UE e 50 do G8, este segundo ponto alto, depois do conselho especial de Berlim no final de março, representa um grande desafio. Mais uma vez, os mais de cem empregados do protocolo terão de trabalhar 24 horas por dia para assegurar que o evento transcorra sem problemas. Especialmente a logística exigirá muito da experiente equipe. Junto com os meus colegas do protocolo, eu me alegro em poder participar da criação do ambiente digno – e ao mesmo tempo agradável – necessário para que haja conversas bem-sucedidas entre os chefes de Estado e de governo e espero que também o tempo colabore.
John Kirton, diretor do Centro de Pesquisas do G8 da Universidade de Toronto
Nós, do grupo de pesquisas do G8, vamos a Heiligendamm, assim como também fomos a todos os outros encontros de cúpula desde 1998. Para mim, em Heiligendamm será essencial que os países do G8 possam comprometer os países emergentes convidados – China, Índia, Brasil, México e África do Sul – com metas obrigatórias de proteção do clima. Mas, para isso, será necessário uma verdadeira liderança, e essa eu espero da chanceler federal alemã, Angela Merkel. Não apenas porque a Alemanha comprovou várias vezes sua condição de liderança no assunto proteção ambiental. Mas também porque países anfitriões de encontros do G8 exercem um papel-chave. Nossas pesquisas me deixam prudentemente otimista: em Heiligendamm, a chance de que ocorra uma grande mudança é muito real. Mas, ainda assim, vamos observar com atenção – e isso o mais perto possível. Nosso objetivo é poder explicar aos representantes da mídia como os líderes do G8 funcionam. E, apesar de estar lá dentro, entendo os protestos que acontecem do lado de fora, e não só porque lá estarão alguns dos meus ex-alunos e amigos da sociedade civil.
Elmar Altvater, cientista político e membro do conselho científico da Attac
Durante o encontro do G8 am Heiligendamm, eu estarei participando de um congresso oposto em Rostock, onde serão discutidos conceitos alternativos. O encontro em si não significa nada para mim. Afinal, o que ele trará? Provavelmente formulará algumas declarações, mas nem mesmo tomará decisões, porque esse grêmio nem sequer está autorizado a isso. Ele continuará sendo um encontro informal e tem, como expressão da globalização, apenas simbolicamente um grande significado para os poderosos. Mas cada vez mais ele é, também, uma expressão da força dos críticos da globalização e da vontade de muitas pessoas de que uma outra globalização aconteça. Este ano, especialmente a questão do clima estará em primeiro plano, pois ela é uma questão de sobrevivência para a humanidade. Não é de se esperar que o encontro em si corresponda à seriedade do problema. Os críticos da globalização é que devem levar isso à pauta e mostrar que há um movimento mundial que quer mais do que apenas declarações sobre proteção do clima que não resultam em nada.
Bernd Pfaffenbach, sherpa de Angela Merkel
Minha função é preparar o encontro do G8 da melhor maneira possível para que à mesa possam ser tomadas decisões. Temas complexos exigem preparação, até por questões de tempo. Assim como eu sou sherpa [representante de um dos líderes responsável por preparar os temas que serão debatidos] da chanceler federal, há sherpas para os participantes dos outros sete países. Eu me encontro regularmente com eles e procuro elaborar concepções. Isso não é sempre fácil, pois todas as decisões do G8 devem ser consensuais. Temos de nos ocupar daquilo que é do interesse dos outros e então, com intuição diplomática, detectar uma linha que também atenda as nossas próprias expectativas. Estou acostumado a trabalhar muito, mas também consigo muito bem me desligar rapidamente no fim de semana – quando há finais de semana livres. Vou ficar feliz quando a cúpula passar e tiver tido sucesso. Se não for assim, será por azar ou por não termos feito as coisas direito. Espero que isso não aconteça.
Anneke Jensema, chefe do centro de turismo Mecklemburgische Ostseeküste
Depois de haver sido anunciado que Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental receberia um encontro do G8, nós, profissionais do turismo, ficamos muito felizes. Desde a fase preparatória, muita coisa foi sendo alterada e melhorada na região. A infra-estrutura foi ampliada e as estradas de acesso, melhoradas. Os empregados dos hotéis foram enviados para cursos de inglês. Eles aprenderam como lidar com visitantes internacionais, o que faz com que a região esteja melhor preparada para receber visitantes do exterior. Isso nos alegra muito. O que mais esperamos, é claro, é nos tornarmos conhecidos nacional e internacionalmente. Muitas pessoas terão uma percepção de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental que elas hoje não têm. As pessoas perceberão que o nosso estado é uma região turística maravilhosa. Isso também poderá nos trazer um número extra de visitantes nos anos seguintes. Nesse contexto, também nos alegramos com todos os jornalistas que virão para cá. Mesmo que eles estejam primeiramente interessados nos aspectos políticos, esperamos que, em segundo plano, eles escrevam de forma positiva sobre a nossa região e, dessa maneira, a tornem conhecida.
Aktham Suliman, diretor do escritório da Al Jazira em Berlim
O encontro dos países do G8 é sempre importante, pois esses países tem uma grande importância para a economia mundial. Mas eu sou um pouco cético em relação à sua atual composição. Isso porque ela se encontra num processo de mudança e adaptação causado pelo fortalecimento dos países emergentes. Por isso é bom que a Alemanha transforme os temas centrais da economia mundial num ponto forte da sua presidência do G8. A integração das novas potências da Ásia num sistema econômico mundial, a conexão da Rússia à Europa e o desenvolvimento de novas ofertas de auxílio ao Terceiro Mundo – para isso, os países do G8 estão mal preparados.
Andrei Karelin, secretário do comitê central da organização juvenil do Partido Comunista da Rússia
Para mim, o G8 é um grupo dos grandes países imperialistas, os quais procuram implementar regras próprias para dirigir o mundo. Por um lado, a participação da Rússia nesse encontro faz sentido, pois possibilita o envolvimento em decisões de nível mundial. Por outro lado, os demais países, os EUA, por exemplo, volta e meia insinuam que a Rússia deve ficar fora do G8. Isso significa que não somos levados a sério. Quando a Rússia ainda era a União Soviética e não participava do G8 e de outros grupos imperialistas, sua palavra tinha bem mais força. Por isso é incorreto que a Rússia participe dos encontros do G8 e jogue segundo as regras imperialistas. Ela deveria retornar ao status da União Soviética, quando era ainda mais forte do que todos os outros juntos.