O eremita literário Patrick Süskind faz 70 anos
26 de março de 2019Há anos o escritor Patrick Süskind rejeita a agitação da indústria literária, sem comparecer a feiras nem a lançamentos de livros ou cinematográficos. Só raramente concede entrevistas, e a um círculo seleto de jornalistas que seguem seus regulamentos altamente pessoais. Fotos estão fora de questão.
Também é incerto onde ele vive: diz-se que no Lago de Starnberg, na Baviera, recluso e em meio a um idílio. Mas consta também que teria uma propriedade em sua cidade natal, Ambach, assim como em Montelieu, no sudoeste da França, e em Paris. Se tais informações procedem, não se sabe.
A história de sucesso do autor alemão começou em 1984. O então editor do caderno de cultura do Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ), Joachim Fest, precisava urgentemente de um texto para o tradicional romance em série com que o jornal mantinha seus leitores em suspense. A escolha recaiu sobre O perfume, obra de estreia de Süskind, na época totalmente desconhecido.
A ressonância foi avassaladora, as vendas do periódico subiram meteoricamente. O crítico de literatura Marcel Reich-Ranicki, temido entre os autores, elogiou, entusiasmado: "Um escritor alemão que domina a língua alemã; um romancista que não nos molesta com o reflexo do próprio umbigo." Estava lançada a base para a brilhante trajetória do livro.
Nos primeiros meses do ano seguinte, O perfume chegou ao mercado de língua alemã com uma tiragem de 50 mil exemplares, e a editora suíça Diogenes assinou contrato com o autor desconhecido do público. Fora um ato de ousadia, porém as vendas deram razão aos editores: até hoje O perfume é um dos títulos mais vendidos da editora sediada em Zurique.
Os leitores se deixaram arrebatar pela história de um assassino do século 18 que mata 26 virgens para criar um perfume único a partir do aroma pessoal delas. O livro ocupou durante meses as listas de best-sellers, chegando a permanecer por nove anos no ranking da revista Der Spiegel.
Em 1987 o FAZ concedeu seu prêmio literário a Süskind, mas este se recusou a recebê-lo, assim como rejeitou bruscamente o prêmio francês de melhor estreia do ano. O pai intelectual do assassino Jean-Baptiste Grenouille não queria se apresentar em público e desapareceu das vistas, até hoje.
Nascido em 26 de março de 1949, Patrick Süskind cresceu sedento de saber em Ambach, à margem do Lago de Starnberg. Seu pai trabalhava como jornalista, para o também conceituado Süddeutsche Zeitung, e também escrevia livros. Professora de ginástica, a mãe cuidava para que a família tivesse uma vida saudável.
Após completar o curso médio em 1968, o filho do pós-Guerra foi estudar primeiramente em Munique e mais tarde no sul da França, na cidade universitária de Aix-en-Provence. Apreciador do savoir-vivre dos franceses, já começara a escrever na época escolar, mas as primeiras tentativas em prosa permaneceram não publicadas.
Süskind só ganhou notoriedade como coautor de divertidos roteiros para séries de TV filmadas por Helmut Dietl (Monaco Franze, Kir Royal, de 1983 e 1986, respectivamente), em que, com humor e ironia, ele zomba da alta-sociedade muniquense.
Em 1980, lançou sua primeira peça teatral, O contrabaixo. Até hoje um dos textos mais encenados da Europa, o monólogo em um ato estreou na capital bávara, Munique, ostentando desde então 522 apresentações de 25 montagens e traduções em diversos idiomas.
De O perfume já foram lançados 20 milhões de exemplares, e traduções em mais de 40 línguas, o que supera até mesmo o sucesso internacional de O tambor, de Günter Grass.
Após a versão cinematográfica de 2006, Perfume: a história de um assassino, dirigida por Tom Tykwer e estrelada por Ben Whishaw, 12 anos mais tarde a Netflix lançou o romance como série situada na época atual. Ambos foram grande sucesso de público – algo que as demais publicações do autor, como A pomba (1987) ou A história do Senhor Sommer (1991), nunca alcançaram.
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